Luna
Após fechar o lugar e voltar para a empresa as pressas, vou direto para a minha sala e começo a revirar a papelada para ver se encontro algo a respeito dessa tal reunião, mas não encontro nada! Telefono para a sala da Anita e ordeno que apareça na minha sala para ontem, e ao desligar, volto a mexer na bagunça da minha mesa. Apenas o que encontrei foi um bilhete do meu pai dizendo que marcou a tal reunião, mas não me avisou porque, meu Deus???? Porque ele tá me jogando cada vez mais perto do Dylan desse jeito???
- Senhorita? Meu Deus, o que houve? - A voz aflita da Anita na minha porta me puxa de volta para a realidade e eu só faço sinal para que entre e sente-se.
- Eu tive um contratempo antes de vir para cá, mas isso não vem ao caso agora, eu quero saber que reunião é essa? Porque não me informaram nada sobre ela?
- Foi marcada pelo seu pai, senhorita. Ele veio aqui e disse que a reunião com o Dylan a respeito do seu livro foi marcada, e que não era para a senhorita se atrasar. - Explica ela com uma voz trêmula, achando que vai levar bronca de mim, quando na verdade, só quero entender que palhaçada do meu pai é essa.
- Tudo bem, Anita. Obrigada... Eu já estou de saída então; o escritório dele é um pouco longe daqui. - Pego minha bolsa novamente e me retiro. - Por favor, se meu pai voltar a aparecer, a ligar, a fazer qualquer coisa, peço que não hesite em me ligar e me avisar. Preciso resolver logo isso.
- Pode deixar, senhorita.
Assim nos despedimos e eu desço pelas escadas já para não ter que ficar esperando elevador. A minha cabeça está longe... Não paro de pensar na Alice no hospital, mas ao mesmo tempo, penso no que pode estar me reprimindo dessa forma... Porque eu não faço o que quero? Ou melhor, o que preciso fazer? Naquela hora minha mente se transformou em uma zona de guerra e eu estava no centro, presa sem ter para onde correr e com aquele brutamonte na minha frente; era matar ou ser morta... Eu só não consigo entender porque fiquei tão travada daquela forma... Outro pensamento que me prende é que se demorasse mais um pouco, a Alice poderia estar morta agora. Deus ajuda ela por favor... Eu nunca fui de pedir, mas por favor, ajuda ela... Não sei muito bem o que seria de mim sem aquela família, porque ela e a Alex aguentaram o que podiam e o que não podiam do meu pai, só para me manterem por perto. E agora ela está lá, entre a vida e a morte mais uma vez, enquanto só Deus sabe onde a Alex está...
Ao chegar na garagem, acendo um cigarro e ao entrar dentro do carro, apenas ligo o rádio e com a música, começo a viajar em meus pensamentos enquanto ainda tenho alguns minutos. Sempre sou pontual, então enquanto trago o cigarro, começo a tentar ligar para a Alex. Como esperado, não tenho resposta, mas dessa vez ela não vai escapar de mim; ligo o carro e saio em disparada até a padaria que ela trabalha e para a minha sorte, a vejo lá no caixa atendendo seus clientes como sempre faz, todos os dias. Estou muito brava, mas também estou nervosa demais para pensar no que fazer... Aproveitando que não tem fila, sigo até ela, mas passo a porta do caixa e começo a levá-la para dentro do quartinho que o Marco tem aqui.
- Pode me dizer o que aconteceu com você... Porque está chorando? - E eu tô chorando? Não consigo sentir as lágrimas descendo.
- Onde estava ontem a noite? Porque não voltou para sua casa? Porque nem se quer me avisou onde ia? - Alterada, a bombardeio de perguntas e nem a deixo continuar falando: - Por um acaso, você sabe onde sua mãe está agora, Alex? Não... - Ao vê-la desviar o olhar, me aproximo mais e a forço me encarar. - Não se atreva a desviar o olhar! Olha para mim, e me diz! Onde você acha, que a sua mãe está!? - Grito extremamente nervosa, porém agora sim eu sinto as lágrimas descendo.
- Onde...
- Onde o que? - A interrompo novamente, até ouvir o que eu quero.
- Onde ela está...
- Não, eu não ouvi direito. De quem você está falando mesmo? - Continuo a pressionando...
- A minha mãe p0rra! Onde a minha mãe está!? - Ao escutar ela falando palavrão, acerto um tapa em seu rosto, soltando todo o peso da minha mão, mas na mesma hora eu me arrependo feio por isso. - Que isso?! O que você tá fazendo, Luna!?
- Perdendo a paciência com você! É isso que eu tô fazendo! - Grito, enxugando as lágrimas. - A sua mãe está agora no hospital, precisando fazer uma cirurgia por ter levado uma surra do seu pai, você se lembra dele? Pois é, eu me lembro e quer saber porque? - Pergunto me aproximando mais, e ela concorda em me escutar sem pensar duas vezes. - Porque um cara com duas vezes o tamanho da sua mãe, quase deu um tiro nas nossas cabeças por causa de uma dívida de dr0gas sabia, Alex!? - Meu rosto começa a esboçar um sorriso sem a minha permissão, mas é de desespero mesmo, para não meter a mão na cara dessa menina aqui mesmo. - Me responde uma coisa, Alex... Onde você estava ontem a noite? Porque... - Ela fica sem ter para onde correr por já estar sendo prensada contra a parede e eu não paro de me aproximar. Se eu pudesse afundar essa menina na parede no soco, eu com certeza ia fazer isso agora. - Você não voltou para sua casa, não voltou para a MINHA CASA E TAMBÉM NÃO FICOU COMIGO NAQUELA MALDITA FESTA! - Meus gritos chamam a atenção do Marco, que entra no quarto com uma cara de preocupado, porém eu não dou a mínima.
- Senhorita, senhorita por favor. Deixa ela ir...
- Se não quiser que sobre para você, Marco... É melhor que saia daqui. Já estamos acabando. - Digo tentando me livrar dele, porém, o sujeito parece mulher fofoqueira. - Guarda as minhas palavras Alex... Se eu for até aquele hospital hoje e não te ver lá ao lado da sua mãe... Eu juro... Que vou caçar você nessa cidade inteira e quando eu te encontrar... Vou te dar a surra que a Alice não te deu, quando criança! - O olhar assustado dela me parte o coração, mas se eu não dar a atenção que ela quer, o problema com o pai dela vai acontecer de novo e de novo e de novo, até que alguém saia morto disso, ela não vai parar de dar suas escapadas. E eu sei bem o que a Alice passou para dar o que comer para ela, mas eu nem sei mais o que é preciso fazer, para que a Alex retribua o amor que sua mãe lhe dá, pois parece que quanto mais ela tenta, mais a Alex apronta só para ir contra.
Entrando no carro, começo a chorar sem motivo. Soco o volante do carro repetidas vezes com raiva, grito, perco as estribeiras, mas ao olhar no relógio e ver que ainda faltam 28 minutos para chegar até o escritório do Thorn, decido me apressar e recompor os meus cacos enquanto sigo até o escritório dele. Eu ainda tô com muita dor de cabeça, muita mesmo... Meu corpo dói muito, mas ainda não posso parar por hoje... Essa confusão com a Alex tá me deixando doida...
Chegando no lugar, ao sair do carro eu fico de boca aberta com o tamanho do prédio do Thorn... Duality studios é gigantesca, mas o que me deixou curiosa de verdade, foi o nome desse lugar. Logo na entrada, sou recebida como se estivesse entrando em um hotel de luxo; que só é atendido por mulheres? É realmente muito interessante... Uma delas me pediu para pegar o elevador até a cobertura, que o Dylan já está me esperando e assim eu fiz. O elevador demorou alguns minutinhos para chegar até o topo, e por isso eu aproveitei para dar uns retoques na minha maquiagem. Estou tentando de tudo para esconder essa mancha no meu rosto, porém, antes de guardar o batom, as portas se abrem, me dando a visão de um andar incrível, que tem até um lugar para que os funcionários possam comprar o que comer. Eu consegui disfarçar a mancha no meu rosto... Um pouquinho... Só para que não fiquem perguntando...
- Você deve ser a Luna, não é? - Uma das meninas na recepção vem até mim e ao ver minha resposta positiva, ela acrescenta: - O senhor Thorn já está a sua espera, senhorita. Siga-me, por favor.
Sou levada até um corredor com algumas salas, e ao chegar até a sala dele, ouço um barulho de coisas quebrando, mas nem toco no assunto, pois a mulher parece estar tranquila com isso. Alguns minutos parada na porta, os barulhos cessam e só então, ela entra e avisa que estou aqui.
- Pode entrar, senhorita. - A primeira coisa que vejo ao colocar os pés para dentro da sala, é o Dylan varrendo cacos de vidro do chão.
- Minha nossa, o que houve aqui? - Pergunta a garota que levou um soco na cara e nem se quer conseguiu esconder a mancha direito, mas tudo bem, prosseguimos...
- Estava barulhento demais aqui... - Ele fala sem me olhar nos olhos, e por um momento, comecei a pensar quem é o mais doido, se sou eu, ou se é ele... É uma sala grande, mas só tem nós dois aqui. - Em que eu posso ajudar? - Dessa vez, ele varre os cacos para o canto da parede e ao se virar para mim, vejo os machucados que parecem ser recentes nas duas mãos dele.
- É sobre a minha última obra...
- Sobre o que você escreve? - Pergunta sem tirar os olhos da sua mesa, que eu suponho ser um desenho que ele está fazendo.
- Sou uma autora de romances, mas dessa última vez, tentei fazer outro tema para variar um pouco. De romances clichês, eu fui para fantasia, com lutas, seres mitológicos e etc...
- E o que exatamente você quer que eu faça? - Ele me interrompe, mas dessa vez me olha no rosto. Sua expressão nunca muda, mas percebi que ele não tira os olhos da minha boca, que é onde está a mancha que tentei esconder...
- E... Eu gostaria que suas artes me ajudassem a mudar os números da minha última obra... Nós poderíamos fechar um acordo, não acha? - Pergunto gaguejando... Luna se controla pelo amor de Deus!
- Quero um exemplar da sua última obra... Eu preciso saber com o que vou trabalhar e também, quero que decida as cláusulas do contrato e traga para a minha secretária...
- Você aceita? - O interrompo curiosa... Normalmente, não aceitam fechar um acordo tão fácil, mas ao vê-lo assentir, apenas continuo tentando encaixar as peças para entender melhor o meu novo parceiro de trabalho. - Mas e se eu colocar que quero 90% dos lucros?
- Eu não me importo com dinheiro, senhorita Simons. Quando acabar, leve até a minha secretária, eu vou assinar e então começaremos o trabalho, mas antes eu quero o seu livr0. - A minha sorte, é que estava levando um para a Alice, mas como aconteceu aquele problema, eu não tive como entregar a ela, então, tiro da bolsa e passo para as mãos dele. Meu Deus do céu, o cara parece que estava em uma luta de boxe aqui dentro... Os cortes na mão dele são recentes demais e como ele é muito branco, o vermelho tá destacando muito... - Ótimo... Estarei aguardando a sua proposta.