Capítulo 01 - Por Onde Começo

2011 Words
Adam Jones - Adam. - Diz minha mãe ao telefone. - Julie saiu do castigo, fui até o quarto dela e ela não está lá. - Mas que porra. - Praguejo irritado. - Ela deve ter ido aquela droga de festa na casa do James. Você sabe que é tudo culpa sua, não é mãe? - Eu não sabia que ela iria gostar tanto do primo do James. - Responde minha mãe na defensiva. - Não sabia que ela já gostava de garotos, ela sempre foi tão... - Minha mãe deixa a frase morrer. - Ela é adolescente, mãe. Uma hora estão brincando de bonecas e no outro estão brincando com o boneco dos outros. - Digo irritado imaginando minha irmã com algum pirralho. Meu sangue ferve. Eles sabem que não devem se envolver com a Julie, eu sei que os amigos dela têm medo de mim, mas não podia arriscar, vai que algum desavisado não sabe que o Ogro é irmão da pequena Julie. - Adam! - Minha mãe me repreende. - Não diga besteiras, seu mal-educado. - Desculpe, apenas estou puto. - Respondo saindo da minha casa com as chaves do carro na mão. - Vou buscar ela. - Apenas não faça ela nos odiar mais. - Pede minha mãe já chorosa. - Ela é uma adolescente mimada, mãe. A única coisa que sabe fazer é cara de nojo e dizer "aff" revirando os olhos. É claro que ela vai odiar qualquer ser humano que queira ensinar ela a ser uma pessoa normal. - Reclamo abrindo o carro e entrando nele. - Vou desligar tenho que dirigir. - Está bem. Obrigada, filho. Traga ela para casa e não brigue muito com ela. - Diz minha mãe pedindo o impossível. - Vou tentar. - Resmungo e desligo o celular. Sigo em direção à casa de praia do James. - Ogro? - Diz James me encarando com uma morena do lado. - Achei que não ia vir. - Ele sorri e me cumprimenta. - Fique à vontade, a casa é sua, já sabe. - James, vou ser sincero. Eu não estou muito para a festa não. - Digo coçando a cabeça um pouco constrangido. - Eu vim procurar a minha irmã, você a viu? - Pergunto. - A pequena Julie dando balão é? Tenho pena do cara que tiver com ela. - Diz ele rindo. - Eu a vi lá perto da Studart. - James aponta para uma garota de vestido chamativo e logo encontro Julie junto com ela. - Valeu. - Aceno com a cabeça para James e sigo até Julie. Quando estou perto dela vejo uma ruiva linda andar apressada até onde Julie está. Ela para e cutuca uma loira, as duas dizem tchau ao grupo de Julie e seguem até a saída. A ruiva era linda, tinha o cabelo cumprido, era branquela feito folha sulfite, seu vestido era de renda rosa claro deixando mais nítido o quanto ela era fofa, não era o meu estilo de garota e eu não deveria estar, mas fiquei atraído. Ela olhava para os lados um pouco assustada procurando por algo, até que seus olhos caíram sobre mim. Eu não sei se é possível, mas ela ficou ainda mais pálida e praticamente correu dali. Não sei o que deu na garota, mas não tinha tempo para ficar viajando em pensamentos, tinha que tirar a minha irmã dali e levá-la de volta para o castigo dela. Dois meses sem festas e depois dessa fugida, acho que o período iria se estender por um pouco mais de tempo. - Julie. - Chamo ela bufando quando entro no meio da rodinha de suas amigas. - Droga meninas. - Resmunga revirando os olhos. - Esse é o Ogro, meu irmão carrasco que veio me levar de volta para a torre onde voltarei a ser a princesa que necessita de um resgate. - Julie coloca as costas da mão na testa fazendo drama. - Vamos logo! - Digo para ela. - Não quero. Você não manda em mim! - Ela bate o pé e cruza os braços. - Ou você vem por bem, ou por mal. Qual você escolhe? - Pergunto cruzando os braços também. Ser teimoso é de família, vocês já vão reparar. - Eu mando no meu próprio nariz, Adam, você não manda em mim. - Reclama Julie virando o rosto com o nariz empinado. - Você não manda no seu nariz. - Digo esticando a mão e apertando de leve o nariz dela. - Você não manda em nada, na verdade. Até você se formar, arrumar um trabalho, se manter financeiramente e comprar uma casa, você ainda não mandará no seu nariz. - Aff! - Esbraveja Julie. Viu? Eu disse que adolescentes apenas sabem fazer isso... - Então vai por mal. - Respondo a minha primeira pergunta e pego ela no colo jogando-a sobre o ombro como se fosse um saco de batatas, agradecendo por ela estar usando uma calça jeans. - Adam! - Grita Julie se esperneando no meu ombro. - Seu... Seu... Ogro! - Grita brava socando minhas costas enquanto a levo para fora. - Tchau, Adam. - James sorri para mim e eu lhe dou um aceno rápido. *** - Entregue. - Disse para minha mãe enquanto ainda segurava o braço de Julie. - Vocês são ridículos! - Grita Julie se soltando da minha mão. - Eu odeio vocês! - Ela aponta o dedo indicador para cada um e segue para o quarto dela batendo o pé. - Eu deveria... - Começo a dizer mais sou interrompido por meu pai. - Deixe-a, filho. Quando você tinha seus quinze anos também era assim. - Meu pai faz dá de ombros. - Sangue dos Jones. Teimosia faz parte da herança da família. - Diz ele sorrindo e logo o acompanho. - O que tem de bom para comer? - Pergunto e logo Vera, a empregada da casa me abre um enorme sorriso. - O que as mãos de fada da dona Vera fizeram essa noite? - Pergunto para ela e ela me puxa para a cozinha. - Temos frango assado e recheado, garoto. - Diz sorrindo pegando um prato e colocando na mesa. - William e Valentina já comeram. Vou botar seu prato aqui. - Vejo que ainda mima meu filho, Vera. - Reclama minha mãe entrando na cozinha. - Por isso ele nunca vai sair de casa de verdade, apenas vai dormir lá e comer aqui sempre que quiser. - Valentina, não fale assim do garoto, ele está em fase de crescimento ainda. - Vera aponta para mim e não posso deixar de gargalhar. - Vera, eu já tenho trinta e cinco anos. Agora crescer é só para os lados. - Digo rindo e ela ri comigo. Vera sempre foi um amor de mulher, desde que eu era pequeno ela trabalha aqui com a minha mãe, e isso fez com que ela fosse parte da família já, a vida dela junto com a gente durou muito mais do que muitos casamentos por aí. - Para mim você vai sempre ser aquele menino que pintava todas as paredes da casa deixando Valentina louca. - Comenta ela sorrindo colocando o frango para esquentar. - Mas vejo que acabaram as paredes para pintar e você escolheu pintar a pele não é, menino? - Me pergunta afiada. - Parece um gibi gigante. - Diz rindo. Ela sempre odiou as minhas tatuagens, quando cheguei em casa aos dezoito anos com o braço fechado, ela pirou, ficava me perguntando se ia sair logo e coisas do tipo. A cada tatuagem que eu fazia era uma alfinetada que ela me dava, era divertido ver como ela se preocupava comigo. - Você viu só, Vera? - Minha mãe se junta a ela, ambas odiavam as tatuagens. - Deve ter a próxima edição da turma da Mônica da barriga dele. - Minha mãe começa a rir da própria piada e não posso deixar de rir junto. - Eu acho que isso é um complô contra a minha pessoa. Um motim! - Levanto o dedo indicador apontando para elas. - Se continuarem assim, vou fazer igual a Julie e ir para o meu quarto batendo o pé. - Comento divertido. - Menino, sente e coma. - Vera coloca o prato na mesa e me serve um copo de suco. - Obrigada Vera. - Agradeço me sentando e minha mãe se senta comigo comendo um pacote de bolachas. Vera sai da cozinha e minha mãe fica me encarando. - O que você quer, dona Valentina? - Pergunto desconfiado. - Você, por acaso, viu o menino que ela está a fim? - Pergunta se referindo à Julie. - Não vi e se eu tivesse visto, tenho a certeza de que ele estaria irreconhecível para a senhora. - Digo voltando a ficar irritado. - Você é mais ciumento com ela do que eu e o seu pai. - Minha mãe cruza os braços. - Talvez porque eu conheço os caras de hoje em dia que estão solteiros e não quero que ela se envolva com eles. - Mas você é um cara de hoje em dia que está solteiro. - Replica minha mãe. - Exatamente, e eu faço com algumas garotas o que eu não queria que fizessem com a minha irmã. - Digo comendo e recebo um tapa leve no braço. - Olha as coisas que você fala, Adam. Sorrio e volto a comer. A imagem daquela ruiva viaja na minha mente e fico divagando sobre ela. - O que é? - Pergunta minha mãe curiosa. - O que é o quê? - O que aconteceu para você estar com essa cara de bobo aí. - Diz apontando para o meu rosto. - Não estou fazendo cara nenhuma não, está pirada? - Pergunto tirando a mão dela da minha frente. - Quem é a garota? - Que garota? Quem disse que tem garota? Quando foi que teve garota? Nunca teve garota? Que ruiva? - Pergunto na defensiva. - Que ruiva? - Ela pergunta levantando a sobrancelha. Droga! Falei demais. - Quem? - A ruiva. - Que ruiva? - Droga, Adam! - Minha mãe bate na mesa. - Desenrola. - Eu vi uma garota ruiva e bonita, só isso. - Dou de ombros. - Só isso? - Ela pergunta e eu assinto. - Então por que estava tão na defensiva? - Eu não estava na defensiva! - Estava sim! - Ela grita e aponta o dedo para mim novamente. - Sempre que está na defensiva você fica fazendo um monte de pergunta aleatória. - Que pergunta aleatória? Quem fez a pergunta? Que aleatória? - Viu! - Ela bate na mesa de novo. - Eu vou descobrir quem é a ruiva bonita, Adam e vou saber por que está na defensiva. - Ela deixa os olhos semicerrados e fica com uma expressão estranha. - Não vai descobrir nada, nem eu sei quem ela é. - Digo dando de ombros. - Mas você quer saber... - Minha mãe diz e se levanta da mesa. - Acaba de comer que tenho que conversar com você. - Sobre o que? - Pergunto curioso. - Sobre amor, sobre sexo, acho que nunca tivemos aquela conversa. - Ela diz fazendo piada com a minha cara; - Porra, mãe! - Chacoalho a cabeça negativamente. - Eu já transei, várias vezes, com várias mulheres, muitas amigas suas, algumas professoras, outras.... - Chega! - Ela me corta envergonhada. - Não gostei para o rumo onde essa conversa está indo. Vou indo dormir, boa noite. Era sempre assim, estar em casa era maravilhoso, mas nós, os Jones, nos conhecemos muito bem, bem até demais. Nunca conseguimos guardar nada um do outro e sempre levamos as coisas do jeito mais leve, bom, pelo menos eles levam. Eu meio que sou o único da família que tenho os nervos mais à flor da pele, tanto que tenho que me segurar para não fazer algumas burradas. Minha mãe tinha razão, alguma coisa estava diferente, aquela ruiva era diferente, eu já a vi em algum lugar, só não lembro onde.
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