Capítulo 02 - Sereia Salva Julie

1765 Words
Ariel Campbell Eu não queria estar acordada nesse momento, mas Flora não para de gritar e ainda por cima abriu a janela deixando toda a claridade entrar no quarto. Agatha correu para o banheiro para ser a primeira usar, e fico feliz ao ver que esqueceu todas as coisas aqui no quarto. - Eu criei um monstro! - Grita ela fingindo estar chorando quando digo que não vou entregar as coisas dela. Ela sempre demora mais no banheiro do que todo mundo. Espero ela sair de lá e levo minhas coisas para fazer minha higiene matinal. Eu, Flora e Agatha estávamos passando o fim de semana na casa de um rolo de Flora, ele era legal e eu realmente gostava deles juntos, mas todos nós sabíamos que no final Flora e Marc eram o casal escrito nas estrelas. Das três eu sempre fui a mais romântica, mas nunca fui a iludida. Sabia que nunca haveria um príncipe num cavalo branco que viria me resgatar da minha triste vida, talvez seja por isso que ainda sou a virgem de vinte anos e talvez seja por isso que eu nunca beijei alguém. Agatha fica me empurrando para qualquer cara gatinho que aparece, assim como Flora, mas a diferença entre as duas é que Flora é mais... Como posso dizer? Mais grossa às vezes, muito mais. Ela é incrível, mas ela poderia ser um pouco menos agressiva. Iríamos para a praia depois de nos arrumarmos, e como sempre Agatha estava demorando. Flora estava impaciente e eu mexia no celular vendo algumas mensagens não lidas. Droga, mensagem no grupo da família. Os Campbell Mônica: Pai, quando vamos para Califórnia? Diabo encarnado: Semana que vem. Mas quando Ariel voltar, temos que resolver algumas coisas. Úrsula: Zane, não brigue com Ariel. Eu a deixei sair com Agatha e Flora. Diabo encarnado: Não fui notificado. Eu: Me desculpem, quando voltar da praia teremos nossa conversa. Estremeço imaginando o que ele vai falar. Meu pai, Zane Campbell, é conhecido por ser implacável. Ninguém nunca venceu do meu pai, ele é uma das pessoas mais manipuladoras que eu conheço, na verdade em um ranking estaria ele, mamãe e Mônica, as três pessoas mais manipuladoras que já vi na vida. Talvez seja esse o problema, a raiz de todos os meus problemas. - Sereia. - A voz de Agatha me tira dos meus devaneios quando estamos chegando na praia. - Oi, loira? - Pergunto. Estávamos apenas eu e Agatha no carro. Flora havia ido com Francis e no meio do caminho houve um contratempo com uma ligação do Marc, mas enfim, assunto para outra hora. - Estava mexendo no celular tão aflita, o que houve? - Pergunta a loira. - Apenas os Campbell... - Deixo a frase morrer, ela sabe do que se trata. - Não deixe eles mandarem na sua vida, Ariel. - Agatha me repreende com um sorriso, mas sabe que isso não vai mudar em nada para mim. Suspiro desanimada, mas logo sorrio. Nada como um sorriso para melhorar a vida. Desço do carro e escolhemos um lugar para tomar um banho de sol. - Me conte, por que ontem você decidiu fugir da festa? - Agatha me pergunta deitando-se na espreguiçadeira. - Apenas vi alguém que não queria ver. - Digo me lembrando da noite de ontem. Eu definitivamente odiava essas coisas dos Campbell: alvos, planos, rotinas, rotas, aulas e afins. Quando vi um alvo ali na festa, foi como se minha família estivesse ali. Eu gostava de sair com as meninas, porque quando eu ficava com elas, eu era apenas a Ariel, sereia ou ruiva, que eram os apelidos que me chamavam. Com elas, eu não era um peão, uma peça do quebra-cabeça, um pedaço de um plano maior. Estava tudo divertido, Flora se agarrando com James, Agatha se embriagando e brigando com a Studart, eu fui ao banheiro e como sempre, ouvi aquelas cantadas batatas até que ouço alguém dizer algo que me chamou a atenção. - Você não sabe quem é? - Perguntou um cara a outro. - O nome dele é Adam Jones, mais conhecido como o Ogro. Olha o tamanho daquele cara, ele é imenso, ouvi que o primo do James está saindo com a irmã do Ogro, tenho pena do coitado. - Eles riem juntos e meus olhos seguem até a entrada e vejo ele ali. Ele era mais alto do que parecia nas fotos, parecia mais bravo também. Na hora me lembrei do meu pai e de Mônica conversando sobre o próximo alvo da minha irmã: Adam Jones, o mesmo Adam Jones. Eu não queria estar ali com ele, eu sabia o que eles iriam fazer com o Adam e não queria ter nenhum contato com aquele cara. Sigo até Agatha e a chamo para ir embora, quando estava quase saindo recebi uma mensagem de Mônica. Mônica: Meu Adam está aí na festa do James, fica de olho para mim? Corri os olhos em volta do lugar e parei meu olhar naqueles olhos penetrantes. Droga, ele me viu. Droga, ele é lindo. Droga, ele parece ser uma pessoa legal. - Heey. - Agatha me chama me tirando dos meus devaneios e volto para o presente, onde o sol queima as minhas costas já que estou deitada de bruços na espreguiçadeira. - Eu vi um cara que minha irmã está interessada. - Digo dando de ombros, era tecnicamente uma verdade. - Ah, entendi não. - Agatha diz sorrindo. - Apenas não queria ver ele. - Respondo querendo fugir do assunto. - Me diz, como vai o plano com Ian? Irritá-lo até o ano novo, é? - Nem me fale, cara difícil esse... - Agatha revira os olhos e começa a tagarelar sobre Ian Montgomery. Um cara legal que ela estava a fim, mas que não dava o braço a torcer. Na verdade, acho que Agatha tinha medo de que se abrisse seu coração para alguém, teria que esquecer tudo o que aconteceu, mas todos sabemos que Chris nãos queria que as coisas fossem dessa forma, ele provavelmente quer que Agatha seja feliz. - Meninas. - Flora se aproxima com James ao seu lado. - Vamos para água? - Vamos. - Me levanto com um salto. Eu sei que pode soar muito clichê, mas meu nome é Ariel, eu sou ruiva e adoro água, pode rir, não ligo para a ironia disso tudo. Estávamos indo um pouco mais para o fundo do que Flora estava acostumada, eu sempre adorei água e sabia nadar, mesmo assim não queria abusar. - Vamos voltar um pouco. - Chamo Flora e James. Flora sorri e me agradece silenciosamente já que não queria dizer isso à James. Eles voltam na frente e os sigo olhando para a vista da praia, quando meu olhar passa para um pouco mais fundo na água, vejo alguém se debater. - Flora, James, voltem e chamem alguém! - Grito, James começa a correr para a areia fazendo sinais para um ponto de salva-vidas. Fico por um segundo pensando e logo sigo em direção à pessoa se afogando. Era uma garota. Nado até ela e ali as ondas estão mais fortes, tento puxar, mas ela começa a se debater me levando para o fundo. Seguro os braços dela e me lembro do que aprendi nas aulas de natação sobre afogamento. Já fazia cinco minutos que estava ali tentando levar ela de volta para praia e o salva-vidas estava entrando na água apenas agora. Eu estava exausta e a garota também. Consegui avançar alguns metros para o raso, mas ainda não estava tão perto da praia. Estava respirando com dificuldade e minhas pernas doíam. Eu não conseguia enxergar muita coisa por causa do sal da água, mas via a areia e lutava para conseguir chegar até lá. Alguns minutos depois consegui encostar os pés no chão, o que já me deu um grande alívio, consegui enxergar o salva-vidas chegando mais próximo. Ele pegou a garota que já estava quase desacordada. - Leva ela, eu consigo voltar sozinha. - Digo ofegante. Sigo até a praia e Flora corre até mim desesperada, assim como Agatha. Quando cheguei na areia apenas cai cansada e esgotada. O salva-vidas estava fazendo massagem pulmonar na garota e um pequeno aglomerado de pessoas se formou a nossa volta. - Ariel, você estava louca? - Grita Flora com o seu jeito "adorável" de sempre. - Você poderia ter morrido e... - Flora! - Agatha intervém repreendendo a morena. - Que bom que está bem, amiga. Ficamos desesperadas. Não sabíamos o que fazer. - Os olhos de Agatha estavam cheios de lágrimas. - Julie! - Grita uma voz rouca. - Cadê a Julie? Logo o dono dessa voz corre até a garota que estava voltando à consciência, e era ele, era Adam Jones, o Ogro. - O que aconteceu? - Grita ainda confuso e logo o salva-vidas lhe explica alguma coisa e aponta para mim. Adam se vira para mim e me agradece quase sem me olhar, quando ele tira os olhos de Julie e me vê, Adam paralisa. - Obrigada. Você salvou a minha irmã, eu não sei como agradecer. Eu apenas estou muito zonza e nem consigo responder. - Senhorita, você também vai precisar de cuidados médicos, um repouso é necessário, deve estar exausta. Vocês passaram dez minutos lá. - O salva-vidas diz e aponta para o mar. - Não se preocupe, cuidaremos dela. - Agatha me abraça e me pede para ficar em pé, mas minhas pernas não me obedecem. - Eu não consigo. - Digo pressionando os lábios. Eu não conseguia mais sentir as pernas, apenas queria dormir. Meus olhos foram pesando, a minha visão foi escurecendo e tudo se fez escuro. - Ariel? - Ouço a voz de Agatha, mas não consigo responder. Ouço o barulho de carro, e sei que estou dentro de um. Aos poucos meus sentidos voltam e consigo abrir os olhos. - Estamos indo para o hospital, está bem? - Pergunta ela com a mão na minha testa. Francis está dirigindo e Flora estava ligando para alguém, provavelmente para meus pais. - Flora, não fala com os Campbell. - É o que consigo dizer. Ela olha para trás e desliga o celular. - Está bem. - Responde ela e logo se aquieta. Sei que depois ela vai me perguntar o motivo, mas não posso contar. Não posso dizer que o Adam é o alvo da Mônica, não posso dizer que salvei a irmã dele, não posso dizer que se os Campbell souberem disso vão fazer o Adam virar o meu alvo. Eu não quero ter um alvo... Nunca...
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