Capítulo 04 - Alvo Bernardo

2032 Words
Ariel Cambell Droga, eu sabia que eu o veria no jantar, mas não precisava ser no primeiro segundo que eu pisasse no salão. Uso meu irmão de escudo humano sem ele perceber e tento tão ficar encarando Adam. Ele é bonito, muito bonito. Tão bonito que o sacrifício de Mônica para seduzi-lo não será assim tão sacrificial, se é que essa palavra exista. - Você está mais estranha que o normal. - Diz meu irmão para mim quando percebe minha movimentação. - Não implique comigo. Não hoje... - Peço baixo e ele faz carinho nos meus cabelos. - Ruiva, ruiva. Já falei para você não irritar o papai milhares de vezes, mas você nunca me escuta. - Ele diz olhando em meus olhos com uma expressão triste. - Eu sei, eu só... - Não consigo continuar, meus olhos se enchem de lágrimas. - Se ele te vir chorando aqui, vai ser pior. - David me alerta e rapidamente penso em outra coisa para me distrair e abro um sorriso. - Nada melhor que um sorriso... - Para ficar melhor. - Completo a frase que era como nosso lema e meu irmão sorri comigo. - Exato, agora eu preciso ir. - David olha para Florence, uma mulher de uns quarenta anos, que era o alvo dele. - Por que não podemos ser uma família normal? - Pergunto revirando os olhos. - Fique feliz que ele ainda te respeita por você ser uma santa. - Meu irmão diz rindo e segue até Florence como quem não quer nada, mas nós, os Campbells, nunca fazemos nada impensado, quer dizer... Eles não fazem nada impensado, eu por outro lado, sou uma péssima manipuladora e péssima mentirosa, o que faz meu pai ter zero de respeito por mim. - Olá. - Ouço alguém me cutucar quando me aproximo de uma parede longe da minha família. Ao olhar para o lado eu a reconheço como Julie, a irmã de Adam, o Ogro. - Olá, você está melhor? - Pergunto sussurrando e me certificando de que ninguém prestava a atenção em nós. - Sim, graças a você, você salv... - Não a deixo completar a frase e tampo sua boca com minhas mãos observando ao redor para saber se alguém está nos vendo. - Não fale nada sobre isso, para ninguém! - Alerto ela e solto minha mão. - Eu disse que uma ruiva me... - Ela faz um movimento com a mão e retorna a falar. - Para os meus pais, mas eles não sabem que a ruiva é você. - Ela diz sorrindo, era uma gracinha de garota. - Que isso continue assim, por favor. - Digo e ela assente. – Desculpe, eu nem me apresentei. - Fico envergonhada ao ver minha falta de modos. - Prazer, meu nome é Ariel Campbell. - Digo estendo a mão para cumprimentá-la. - Prazer, Julie Gaspard Jones. Nome estranho, mas ninguém pensou nisso antes. - Disse revirando os olhos e logo me contou uma longa e fofa história de como seus pais escolheram o seu nome. Julie era realmente adorável, deveria ter seus quatorze ou quinze anos. Se expressava bem e gesticulava de uma forma a faria uma boa palestrante se algum dia quisesse seguir esse ramo, fico observando-a falar analisando a forma como se porta e quais são os seus tiques e manias. Eu deveria de parar com isso de ler as pessoas. Aprendi desde nova com os meus pais. Algumas coisas eu fiz questão de esquecer, mas tem outras que permanecem comigo. - Alô, parece que você está no mundo da lua. - Ela estala os dedos me fazendo voltar dos meus devaneios. - Me desculpe, eu me desliguei por um momento. - Disse sorrindo como sempre. - Sem problemas, eu vivo fazendo isso. - Ela me respondeu e caiu na risada. - Meu irmão odeia isso, ele diz que parece que eu estou o ignorando, mas nada a ver, é só um problema com o tico e o teco do meu cérebro. Julie me fez rir em um dia horrível, já ganhou pontos no meu coração por isso. Soltei uma gargalhada baixa para não chamar atenção e ela ri comigo. - Você sabia que sua risada é a mais engraçada que já ouvi? - Pergunta ela ainda rindo. - Parece uma criancinha rindo, toda fofa. - Ela ri e me deixa encabulada, provavelmente eu estou vermelha de vergonha agora. - Querida, o que você está falando para deixar a garota tão vermelha assim? - Pergunta uma mulher muito bonita se aproximando de nós duas. - Mãe, esta é Ariel. - Ela me apresenta e estico a mão para cumprimentar a mulher. - Ariel, está é Valentina, minha mãe. Valentina aperta minha mão e me puxa para um abraço apertado. Ela demorou mais tempo do que o normal naquele abraço e, não sei por que, seguro uma vontade absurda de chorar. Definitivamente hoje foi um dos piores dias da minha vida e aquelas estranhas estavam me fazendo me sentir melhor, eu devo estar ficando maluca de vez. Sempre soube que uma hora os Campbell iriam me deixar louca, mas não sabia que seria tão cedo. - Prazer, Valentina. - Sorrio quando ela se afasta de mim. - Como sua filha falou, eu sou Ariel, Ariel Campbell. - Campbell? - Perguntou Valentina com um tom desconfiado e eu assinto sem tirar o sorriso no rosto. - A família mais sorridente e amigável que existe? Maravilhoso. - Ela completou com um largo sorriso. Eu realmente odiava isso, todos viam os Campbell como os adoráveis, os amáveis, os incríveis, família feliz, mas a realidade era totalmente diferente... - Sim, eu adoro fazer parte dessa grande família feliz. - Digo abrindo um sorriso e mentindo descaradamente. Talvez eu não seja tão r**m em mentir como eu disse antes, mas eu não sou uma fã de mentiras como são os outros Campbell. Continuo conversando com Valentina sobre a viagem, sobre o clima aqui na Califórnia, sobre a vida em Santana e outras coisas até que aparece alguém que me faz estremecer. - Olá, Valentina. - Bernardo Falcone sorri falsamente apertando a mão da Senhora Jones e de Julie. - Olá, pequena Julie. Sua atenção se volta para mim e ele abre um largo sorriso. - Olá, Ariel. - Ele se aproxima e deixa um beijo demorado na minha bochecha e tenho vontade de afastá-lo de mim, mas não posso, meu olhar se encontra com o de meu pai que levanta suavemente a taça de champanhe em minha direção e ele faz algo que eu desejei que ele nunca fizesse para mim. Zane Campbell de longe fala algo que consegui distinguir lendo seus lábios: "Seu alvo, não me decepcione" Meu mundo foi por água abaixo. Bernardo se afasta do meu rosto e minhas pernas falham por um momento. Bernardo segura minha cintura e se aproxima do meu ouvido. - Opa, não vai cair, gatinha. - Sussurra ele ainda apertando minha cintura em suas mãos. Suavemente me afasto e sorrio para ele. - Obrigada, Bernardo. - Olho para Valentina e Julie que nos observam. - Com licença, eu vou pegar uma bebida. - Digo sorrindo e me afasto dali, mas infelizmente Bernardo me segue. Minha cintura ainda estava dolorida por causa de uma das contusões que se encontravam ali e o aperto de Bernardo estava me deixando um tanto desconfortável. Sigo em direção à mesa de champanhe e apanho uma taça. Bernardo se aproxima pegando também uma taça e se posiciona ao meu lado. - Você sabe que é a garota mais linda que eu conheço, não é Ariel? - Me pergunta sorrindo de lado e eu sorrio de volta. Não gosto desse cara! - Obrigada, Bernardo, é uma gentileza sua dizer isso. - Olho para os olhos deles que estão fixos no decote do meu vestido e fico envergonhada. Levanto a taça de champanhe para que minha mão atrapalhe sua visão dos meus s***s, eu estava me sentindo tão constrangida com ele ao meu lado que não consegui ver quando meu pai passou por nós, apenas senti um celular sendo colocado na minha outra mão livre. Peguei o celular e havia uma notificação de mensagem, eu sabia o que era... Não queria ler, eu não queria obedecer a eles, eu não podia obedecer a eles. "Você sabe o que deve fazer, mas hoje ainda não, Falcone vai estar em Londres, enrole ele até lá" Eu não podia acreditar que Zane estava quebrando o nosso acordo, estava tão frustrada e nem podia ir falar com ele, já que isso o deixaria furioso. O que eu estava querendo? Eu era uma Campbell, não tinha o direito à liberdade, ele havia me dado muito tempo... Ele sabia que eu era virgem apenas para ficar livre dos alvos, já que ele mesmo me prometeu que enquanto eu fosse virgem eu não precisaria fazer o que David e Mônica fazem. Eu não precisaria! Mas agora? Ele estava jogando aquilo no lixo. Estava me jogando no lixo, como ele sempre faz. - Desculpe, Bernardo, eu estou me sentindo um pouco indisposta. Preciso ir embora. - Disse sorrindo e Bernardo segurou minha mão olhando em meus olhos. - Não vai, fica aqui comigo. - Pede ele me puxando para um abraço do qual eu não queria estar, mas retribuo. Zane estaria vendo, estaria observando a tudo. Provavelmente estava de olho na Mônica, em mim e no David, mas principalmente em mim, a única ovelha n***a da família. - Eu preciso ir. - Sussurro em seu ouvido. - Me ligue. - Disse quando nos afastamos, ao perceber que minha mãe caminhava ali por perto ouvindo o que conversávamos. Estendi a mão para Bernardo. - Me empreste seu celular, vou gravar o meu número. - Abri um sorriso quando ele me entregou, não foi o sorriso mais sincero, mas foi o mais convincente que consegui. - Agora vou dormir feliz, gatinha. - Disse ele dando um beijo em minha bochecha. Me afasto e sigo até o elevador, meus olhos estão marejados e não sei por quanto tempo vou conseguir segurar as lágrimas. Entro rápido no elevador e lagrimas começam a cair pelo meu rosto sem permissão, aperto o botão para fechar as portas rápido, mas uma mão mantém a porta aberta e vejo ele entrando. Adam, o Ogro Gigante, lindo, tatuado e musculoso. As portas se fecham e eu olho para o outro lado, tentando fazer com que ele não me veja chorando. - Ao que parece você é bem simpática. - Disse ele ao meu lado, mas apenas fito o chão. - Minha mãe e Julie dificilmente se divertem em festas assim, mas elas estavam bem sorridentes ao seu lado. Julie e Valentina, dois nomes que não queria ouvir agora ditos por uma voz que também não queria ouvir agora. - Elas são adoráveis. - Respondo baixo, mas ele ouve. Julie e Valentina eram especiais, queria ter um relacionamento assim com a minha mãe, na verdade queria ter qualquer relacionamento com eles que não fosse de uma empregada para manter o status dos Campbell. Todas as coisas que aconteceram hoje se passam pela minha mente não consigo conter as lágrimas. - Você está bem? - Pergunta aquela voz ao meu lado. - Estou ótima. - Digo tentando disfarçar a voz embargada. - Você não está bem. - Ele sussurra. Sinto ele pegar o meu queixo me fazendo olhá-lo e eu o vejo. Vejo aquele olhar penetrante que parece invadir minha alma lendo todos os meus sentimentos mais profundos. Me afasto rapidamente e volto a fitar o chão. - Foi o Bernardo? - Ele pergunta cruzando os braços. - Não, eu apenas não estou me sentindo bem, fisicamente. - Limpo as lágrimas e me preparo para saltar do elevador quando ele está prestes a abrir as portas. - Ruiva. - Grita Adam quando eu estou no meio do corredor andando apressada, me viro rapidamente para ele. - Se precisar de alguma coisa, é só avisar. - Ele me dá um sorriso fraco e eu volto a seguir meu caminho. Eu odeio ser uma Campbell. Eu odeio que o meu alvo seja o Bernardo. Eu odeio que os Jones sejam tão perfeitos.
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