The hormones

2107 Words
As pessoas sempre estranharam o fato de Ren possuir o cabelo branco, mas o olho ser lilás era o que mais estranhavam. Desde que se entendia por gente, os olhares sobre ele eram de desprezo, curiosidade, estranheza, repugnância... Quando criança se recordava de chegar ao ponto de chorar algumas vezes por isso, porque na época, não conseguia fazer amigos. Mas conforme foi crescendo, acabou aprendendo a lidar com as adversidades. Ao entrar na MA não mudou muita coisa. Se antes o evitavam por causa das suas características, agora evitavam ele também pelo fato de ser da classe baixa. Bom, Ren, não esperava muita coisa quando conseguiu entrar nessa escola. Sua verdadeira intenção era apenas usar a academia como agrego no próprio currículo, não tinha muitas expectativas. Mas com a vinda daquela pessoa, os últimos dias até que foram divertidos para o ômega. Kurosawa Damian. Alfa. Possuidor de uma característica considerada também peculiar, seus olhos dourados. Ele dizia ser um lúpus e que já se teria encontrado com Ren quando menores, afirmando que tinha sido salvo por ele, mas claramente o de olhos lilás não lembrava-se desse fato. Apesar disso, não achava que ele estivesse mentindo, já que toda vez que havia uma troca de olhares entre eles, o ômega sentia uma certa nostalgia. Diferente de Ren, mesmo que Damian tivesse uma característica peculiar, os outros daquela escola pareciam ser atraídos por ele. Em apenas cinco dias, o alfa recebeu presentes, convites para festas, pedidos de namoro e também pedidos de diferentes clubes para que fizesse parte. Talvez seja uma das habilidades dos lúpus, atrair os outros. Pensava Ren. Tinham poucas informações sobre essa linhagem, o que era um grande motivo para ele achar estranho. Por que existiam poucos relatos sobre eles? Será que eram assim tão incríveis, a ponto de não querer que descobrissem sobre? Ou então eles eram uma espécie insignificante que não precisava da atenção de ninguém? Levando em consideração ao que aconteceu no primeiro dia dele aqui, achava que talvez pudesse ser a primeira opção. Ele tinha certeza de ter visto os olhos de Damian ficarem vermelhos e até pensou em questionar sobre isso, mas achava que ainda não tinham uma relação forte o suficiente para pudesse questionar sobre tal ocorrido. Além disso, tinha algo que não conseguia entender ainda, seu interior parecia se alegrar com as mínimas ações do alfa, se sentia mais a vontade ao lado dele, que podia ser ele mesmo. Damian não parecia se importar com a sua aparência, na verdade fazia questão de elogiar e dizer que ele era incrível, mesmo que não tivesse feito nada de muito interessante. - Ren, o que você acha de sairmos depois da aula? – Chris sugeriu animado. Chris acabou se aproximando rapidamente depois que Damian passou a falar com Ren, o que acabou deixando-o sem reação. Mas ainda assim, o beta demonstrava ser alguém legal, um pouco falante demais, mas muito engraçado ao mesmo tempo. - Não inventa. – disse Damian – Eu e Ren já temos planos. - Achei que iriamos fazer o trabalho de matemática. – Hana se pronunciou – Por acaso se esqueceu? Hana também acabou se aproximando. Na verdade desde o primeiro dia de aula, Ren a observava. Ela era inteligente e interagia com os professores durante as aulas, mas sempre conversava apenas com o Chris. Vinha de uma família comum; a mãe trabalhava como professora e o pai era chefe de cozinha. Pelo que conversaram até agora, descobriu que a ômega possuía uma saúde frágil e por isso tinham dias em que precisava se ausentar da escola para fazer exames de rotina. - Ah! É verdade. – coçou a nuca meio sem graça – Me desculpa. Mas e se nós saíssemos no sábado então? No caso amanhã. Tem uma peça de teatro que eu estava querendo assistir, ‘ligação da alma’. - E por que iriamos assistir uma coisa que só você quer assistir? – Damian perguntou meio desinteressado. - Eu achei interessante, pelo nome. – Ren argumentou e Hana concordou consigo – Deve ter um enredo legal... - Nesse caso podemos ir. – o alfa mudou acabou mudando de ideia. - Ótimo! Então combinamos o horário de encontro mais tarde. Hoje por ser sexta-feira, a progenitora de Ren não voltaria para casa por causa do trabalho, então achou que seria o melhor dia para fazer o trabalho de matemática, não precisaria se preocupar em preparar o jantar. Damian concordou, então pensou ter sido ainda melhor. Combinaram que ele iria da escola com o alfa e por esse motivo deixou sua mãe ciente. Era a primeira vez que o ômega iria para casa de um amigo da escola, então estava um pouco nervoso. Pelo que sabia até agora, Damian vinha de uma família importante também e por saber disso pensava que não devia agir de maneira estranha enquanto estivesse em sua casa... - Por que está tão pensativo? – o alfa acabou por perguntar. Era o ultimo tempo de aula no momento – Não fez nenhuma questão até agora. – dizia analisando o caderno de Ren, para em seguida lhe direcionar o olhar. E mais uma vez o de olhos violetas se perdeu em suas orbes. Toda vez que ele as olhava, a íris do alfa passava pela transição do azul para o dourado, era como se ele conseguisse hipnotiza-lo só com isso. Ren sentia o seu sangue fluir com mais rapidez e seus batimentos mudavam o ritmo. Por quê? Ele se questionava. - Nada demais, só... – buscou bem pelas palavras antes de continuar a fala – Estava pensando de que maneira iremos fazer o trabalho. - Bem, combinamos de usar os livros que eu tenho em casa, não foi? - Ah, é verdade! Me desculpa. – viu o outro sorrir. - Não precisa se sentir nervoso, meu pai não vai estar em casa. Talvez você acabe se encontrando apenas com o Alex. - Alex? - O meu cachorro. O nome dele é Alexander, mas chamo só de Alex. Você vai gostar dele, afinal vocês tem uma coisa em comum. – viu a feição confusa do ômega. Damian sorriu e voltou sua atenção para os exercícios do caderno. Ren pensou em fazer o mesmo, mas notou o olhar de outra pessoa sobre si. Hasekura o olhava do outro lado da sala, não sabia descrever a sua feição. Desde o acontecimento do terraço ele não se atreveu a fazer algo contra si, mas não mudava o fato da situação entre eles estar sendo desconfortável. Quando pensava no ocorrido daquele dia, seu corpo parecia paralisar por um momento. A sensação de impotência lhe tomava. “Eu só preciso liberar os meus feromônios um pouquinho para que caia aos meus pés, isso mostra o quão fraco e impotente você é.” As palavras dele não sumiram da mente e a sensação r**m também não. Foi doloroso. Seu corpo rejeitou completamente os feromônios alfa de Keita naquele momento. “É mais comum que os ômegas entrem em um estado de submissão e se atraiam pelo alfa nessas situações, mesmo que contra a sua vontade.” Perdido em tais pensamentos, foi pego de surpresa ao ter a mão segurada por Damian. - O que- - Não se distraia com aquele i****a. – soou como uma exigência – Se quiser olhar para alguém, olhe para mim. Ah... mais uma vez o seu coração acelerou. Pensava se ele não devia estar com alguma doença, uma que fazia suas bochechas esquentarem como uma brasa. O que eu tenho? - Banheiro. – falou o ômega. - Banheiro? - Preciso ir ao banheiro. Ao dizer que precisava ir ao banheiro, sua verdadeira intenção era ir até a enfermaria e foi o que acabou fazendo de fato. Pediu ao senhor Azumaya que fizesse um check-up rápido em si para saber se realmente estava tudo bem. - Não vi nada de anormal em você, Ren. Está se sentindo m*l? - Eu não sei dizer. Ás vezes sinto o meu coração bater em um ritmo mais acelerado e do nada meu corpo parece esquentar. Antes de vir aqui eu estava assim... Tem certeza que eu estou bem? – perguntou e o Kim pareceu pensativo enquanto analisava os papéis na prancheta. - Bom, os seus hormônios estão com uma pequena alteração. Como você nunca entrou no cio, talvez sejam indícios de um que está por vir... Mas também pode não ser isso. – dizia pensativo – Por via das dúvidas lhe darei um inibidor para ocultar o seu cheiro. E tome um supressor se sentir que esses sintomas que você falou persistirem por mais dois ou três dias. - Se eu nunca entrei no cio antes, por que isso aconteceria agora? - Só porque não aconteceu na idade certa, não significa que não possa se manifestar agora. Quando eu estava na Inglaterra, eram comuns casos assim. Aqui no Japão a idade que ômegas e alfas entram no cio é de 15 anos, mas em outros países isso varia. Então como alguém formado em medicina, a idade não é o fator principal para determinar a vinda do primeiro cio. - Então seria correto dizer que é uma questão de genética? – perguntou o ômega. - Sim. Eu por exemplo, tive o meu primeiro cio aos 17, estava na faculdade quando aconteceu. Eu esperava que fosse acontecer por essa idade comigo, já que com os meus pais foi da mesma forma. Mas também há fatores externos. - Fatores externos, como assim? - Ás vezes o estresse pode induzir o cio, ou então algum outro tipo de emoção extrema. Mesmo que haja um período certo para cada vinda do cio, as emoções podem acabar interferindo nos hormônios e consequentemente desencadear um ciclo de calor precoce. - Então mesmo depois do primeiro cio, mesmo que eu fique atento ás datas, há chance de acontecer antes da previsão? - Exatamente. Por isso tem que se atentar aos sinais. Ren voltou para sala pensativo com o que o médico Azumaya lhe disse. Ele nunca teve uma conversa decente com Kyoko, sua mãe, sobre essas coisas. Não porque ela não quisesse dizer, mas porque sempre que ele pensava em perguntar, voltava atrás. Ela chega sempre cansada, então não havia motivos para incomodá-la com isso. – era o que pensava. O mesmo era sobre sua outra mãe. Não chegou a conhecê-la, nem sequer em fotos. Kyoko sempre dizia com uma feição triste que ambos haviam sido abandonados. Por esse motivo, não fazia perguntas de como ela era, mesmo ele tendo curiosidade em saber. O sinal tocou e o último dia de aula da semana finalmente havia chegado ao fim. - Vejo vocês amanhã! – disse Chris – Irei mandar o endereço do local de encontro e o horário. - Não se importem muito com o horário. – dizia Hana – Ele sempre chega atrasado. - Hana! – a repreendeu. - O que? Eu só disse a verdade. Até amanhã Ren! – mostrou um sorriso para o outro ômega – Até amanhã, Kurosawa. - Me chame pelo primeiro nome também. – Damian falou – Somos amigos, certo? - Então... Até amanhã, Damian! Vamos logo Chris, falei com os meus pais que estaríamos em casa para o almoço. Eles acabaram indo na frente. Não importava o ângulo que fosse visto, os dois tinham uma relação muito boa um com o outro, e Ren, os invejava por isso. - Vamos indo também? – o alfa estendeu a sua mão para Ren, que de imediato o olhou confuso – Sua bolsa. Deixe eu levar para você. - Não precisa, eu faço isso. – respondeu e ele continuou com a mão estendida – É sério, não precisa. – tendo dito isso, Damian, segurou sua mão. - Então vamos de mãos dadas até a saída? - Hã? Por quê? - Porque eu quero segurar a sua mão. – entrelaçou a dele na do outro – É quente e macia. Não posso? – perguntou olhando-o com um olhar esperançoso. Por que ele fazia aquilo? Ren entendia como uma provocação proposital para ver qual seria a sua reação – Acho que passei um pouco dos limites. Não havia mais ninguém na sala além dos dois. Se Damian quisesse, poderia facilmente ouvir o ritmo acelerado em que o coração do ômega estava batendo agora. - Pode segurar... Mas só aqui dentro. Ele sorriu. - Então vamos ficar aqui até nos expulsarem da sala. Dois minutos. Foi o limite. Depois desse tempo Ren saiu na frente, deixando a sua bolsa para trás. No corredor pôde ouvir a risada do de cabelos negros, mesmo assim ele seguiu o ômega logo atrás com as duas mochilas.
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