- M-me desculpa! – gaguejou ao se desculpar e depois voltou à atenção para o caderno. Foi pego de surpresa ao notar o toque do outro em seus fios – O que-
- É lindo.
- Hã?
- O seu cabelo é lindo, me lembram dos flocos de neve. – se aproximou mais do rosto alheio – Mas o que me encantou ainda mais foram os seus olhos. É como se você conseguisse olhar a minha alma através deles... Por acaso você consegue fazer isso?
Ren ficou sem palavras. Era a primeira vez que ouvia algo assim, já que apenas sua mãe dizia que seus cabelos e olhos eram lindos, que eram as características que o faziam ser único.
- Não... Me desculpa.
- É a segunda vez que se desculpa sem motivo. – se afastou ainda o olhando – Está tudo bem, Ren.
- Como sabe o meu nome? – perguntou e o outro riu. Damian então apontou na direção do peito do ômega.
- Nakamura Ren. Está escrito no seu uniforme.
- Ah! Tem razão.
A aula que seguia estava relacionada aos cuidados que os ômegas e alfas devem ter no período do cio. Damian aos olhos de Ren parecia ter bastante entendimento sobre o assunto, já que passou o tempo inteiro de cabeça baixa. Mas para ele os mínimos detalhes eram tão importantes quanto qualquer outro, ainda mais quando o próprio nunca não entrou no cio.
Houve situações onde seus feromônios ficaram mais fortes e ele não conseguia controlar, mas nunca chegou ao ponto de sentir seu corpo esquentar, ou então desejar que um alfa o marcasse como todos relatam. Por ter 17 anos achava estranho tal fato, porque o primeiro cio dos ômegas se manifesta aos 15 anos, se passaram dois anos e até agora nada.
- Há formas diferentes de lidar com o cio. A primeira é encontrar um parceiro que o satisfaça, se for um ômega, apenas um alfa será capaz de satisfazê-lo completamente, assim como apenas um ômega é quem consegue satisfazer os desejos sexuais do alfa. Porém há situações que não ocorrem necessariamente desse jeito.
- E passar o ciclo de calor sozinho também é possível, mesmo sendo arriscado. Alguns usam remédios para dormir durante esse período. – disse Hana, uma das alunas ômegas. Tinha o cabelo castanho longo e ondulado, os olhos também castanhos junto dos óculos e a franja deixavam ela ainda mais fofa.
- Exato! – a professora concordou – Há situações especificas em que o alfa precisa ficar recluso por haver possibilidade de ferir alguém. No caso dos ômegas, ter um companheiro também pode ser o suficiente, mesmo que ele não seja marcado e a duração é de seis dias, enquanto dos alfas são apenas três. Alguns são muito seletivos, preferem passar esse tipo de momento com alguém que ame de verdade.
- Professora, apenas f***r é o suficiente. – disse Hasekura simplista – Os alfas tem o instinto de serem dominantes, então havendo alguém disponível já está bom. Não precisa ter um companheiro, pelo menos comigo é assim, sou um espirito livre.
- Por favor, evite palavras desrespeitosas, senhor Hasekura. Compreendo sua perspectiva, e como eu disse não é algo obrigatório, apenas a escolha de alguns.
- E quanto aos alfas lúpus? – questionou outro aluno – O que eles são exatamente? Nós só ouvimos poucas vezes sobre eles. Todos os professores dizem que eles são como os alfas comuns, só que possuem algumas características peculiares.
- De fato. Os lúpus tem habilidades ainda desconhecidas, são muito raros, fazendo parte de apenas 10% da população global. Eles são mais sensitivos e escolhem bem seus companheiros. Se houvesse uma briga por território, com certeza os lúpus ganhariam apenas usando os feromônios, são as informações que temos.
- É isso mesmo ou vocês simplesmente gostam de se fazer de desentendidos? – Damian disse chamando a atenção de todos – “Habilidades desconhecidas”, você diz... Será que vocês apenas não querem que todos saibam do que alguém que vem da linhagem lupina pode fazer?
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Nada. Eu só acho muito estranho uma escola como essa não ensinar direito os seus alunos. – disse esboçando um sorriso sínico – Mas está tudo bem, não é sua culpa professora Kyoto. Provavelmente está apenas seguindo as informações que lhe disponibilizam.
...
O sinal tocou indicando que era a hora do intervalo, os alunos saíram da sala cochichando sobre o aluno transferido e não demorou para que toda a escola soubesse sobre o que e quem ele era. Ren pensou em acorda-lo, mas ele parecia dormir profundamente então apenas se retirou com o seu lanche.
Se dirigiu ao seu esconderijo secreto, no terraço da academia ao lado da caixa d’água. Ninguém costumava aparecer por ali, mesmo havendo um banco para se sentar, era o lugar favorito do ômega. Nenhum dos colegas da turma aparecia para atormentar e ele podia comer sem que ficassem o julgando por não comer na cantina.
Um dos motivos era pelo fato de achar a comida cara, mesmo sua mãe tendo condições de dar dinheiro todos os dias, Ren guardava e dizia ter gasto. Pensava que futuramente precisaria desse dinheiro para emergência e por isso optava por levar algo de casa. O simples para ele era o melhor, sem sombra de dúvidas.
E comendo sua maçã começou a pensar sobre o aluno transferido. Conhecia a marca KG dos anúncios que passava na televisão e de tanto sua mãe falar que quando tivesse condições compraria algo dessa marca para dar para ele. Claro que Ren falava o de sempre “não preciso dessas coisas”, o que desejava era ele mesmo dar algo para demonstrar sua gratidão pelo esforço de sua mãe para mantê-lo.
- Kurosawa Damian. – soou baixo. Estranhamente pensar sobre ele fazia o seu interior revirar, mesmo tendo acabado de conhece-lo – Devo estar ficando maluco. – riu de si mesmo e se deitou no banco repousando uma das mãos em seu rosto por conta do sol.
- Ora, ora, ora... Então é aqui que você se esconde.
O ômega se levantou assustado e engoliu seco ao ver Hasekura acompanhado de Akemichi e outros dois alunos de sua classe.
- O que estão fazendo aqui? – questionou sem pensar, logo se arrependendo ao ver a feição nada contente do alfa.
- O que estamos fazendo, você pergunta... Por acaso te devemos alguma satisfação? Eu acho que não. Mas para que não pense que eu sou m*l educado irei responder. – caminhou em passos largos até ficar de frente para o Nakamura, o olhando de cima já que era mais alto – Viemos procurar por você.
- Como assim? – perguntou. Hasekura então usou os seus feromônios, no mesmo instante Ren sentiu uma pressão sobre seu corpo e respirar parecia quase impossível. Seus joelhos foram de encontro ao chão o fazendo gemer de dor. O alfa se abaixou para ficar à altura do ômega e agarrou os fios brancos puxando-os para trás, com o propósito de ver bem o rosto alheio.
- Você deve ter adorado muito quando aquele aluno transferido resolveu ficar do seu lado, não é? Aposto que riu internamente de mim também... Mesmo que isso tenha acontecido, não muda o fato de que é alguém insignificante. Eu só preciso liberar os meus feromônios um pouquinho para que caia aos meus pés, isso mostra o quão fraco e impotente você é.
- Por favor, me deixa em paz... – pediu deixando algumas lágrimas rolarem pelo seu rosto, estava assustado. De todas as situações pelas quais passou, essa era a primeira vez que sentia medo das ações do outro.
- Que maldade, fez o cordeirinho chorar. – disse Akemichi fazendo os outros que o acompanhavam rirem, mas logo parou de rir ao ver que Keita parecia um tanto surpreso enquanto olhava o ômega – Keita? – chamou esperando que fosse respondido, porém nenhuma resposta veio.
O alfa que se sentia bem ao fazer maldade com Ren se sentiu meio culpado ao ver a reação do outro, mas ao mesmo tempo gosto de ver a feição chorosa do ômega por algum motivo. Então o soltou dessa vez levantando apenas o queixo dele entre o polegar e indicador.
- Cara, acho que eu devo estar enlouquecendo... – soou baixo.
- Eu concordo com você. – Hasekura sentiu um frio percorrer sua espinha – Você deve estar mesmo louco por assediar um colega desse jeito, ainda mais sendo o filho de um dos governantes das províncias. – o alfa se virou para então encarar Damian, mas sentiu seu corpo paralisar ao ver as orbes avermelhadas dele.
- O que você está fazendo aqui? – Akemichi perguntou gaguejando na primeira letra. Se sentia intimidado apenas pelo olhar do outro.
- Combinei com o Ren que ele iria me mostrar a academia durante o intervalo, mas acabei dormindo já que a aula estava sendo um tédio. Felizmente, eu acordei assim que senti um cheiro desagradável invadir minhas narinas, segui o odor e acabei vindo até aqui. Que coincidência, não acham?
- O que você quer? – o beta que fazia parte do quarteto resolveu questionar.
- Isso! O que quer? – o ômega do grupo também perguntou, mesmo que estivesse tremendo de medo por causa da aura dominante do alfa.
Damian riu da situação e depois caminhou calmamente até onde Ren estava e o segurou em seus braços. Percebeu que ele estava tremendo, então tentou conforta-lo segurando ele com mais firmeza.
- Me desculpa por estar te tocando sem permissão dessa forma, mas preciso te levar até a enfermaria, então aguente só um pouco. – dito isso o ômega escondeu o rosto no peitoral alheio.
- Esse garoto te interessa tanto assim? – Keita perguntou vendo o quão cuidadoso estava sendo com o Ren – Seu gosto é bem estranho, aluno transferido.
- Deixarei uma coisa clara para vocês, se ousarem tocar nele novamente, ou então judiarem dele, não responderei pelas minhas ações. Não dou a mínima se são da realeza, fazem parte da politica ou são herdeiros de um aglomerado, para mim não passam de filhinhos de papai que não sabem nem ao menos se cuidar.
- Seu-
- Já dei o aviso. – soou indiferente – E dê um jeito nesse seu cheiro, parece que andou nadando no lixão. –, passou pelos meliantes com um ar de superioridade, os deixando sem reação alguma.