In the ward

2184 Words
Enquanto caminhava pelos corredores da escola, os alunos que o viam logo começavam a cochichar pelo fato do aluno transferido estar carregando Ren em seus braços. O ômega conseguia escutá-los e se culpava por estar fazendo Damian passar por isso, ainda mais em seu primeiro dia. Mas se tinha uma coisa que ele não podia negar, era de ter ficado feliz ao ter sido salvo pelo alfa. Ao chegarem à enfermaria não havia ninguém além do doutor, que assim que viu quem seria seu paciente rapidamente preparou a maca para poder examiná-lo devidamente. Damian notou que ele era um alfa, então ficou em estado de alerta para caso ele tentasse fazer algo contra Ren, assim como foi o caso com os outros alunos. - Uma rejeição de feromônios. – concluiu – Não o afetou de forma muito grave, só ralou os joelhos, então teve sorte. - Teve sorte? Está dizendo que o que aconteceu com ele foi sorte? – Damian perguntou incrédulo. - Não. Eu quis dizer que poderia ter sido pior se ele acabasse perdendo o controle dos próprios feromônios. Não seria bom se ele entrasse em um cio induzido, ainda mais nesta escola cheia de alfas inexperientes que não sabem controlar os seus instintos. - Então ele está bem? - Sim, mas provavelmente se sentirá enjoado ao longo do dia. Peço que o aguarde lá fora, agora eu preciso fazer os curativos no joelho e dar os devidos medicamentos para que não se sinta indisposto. - Entendido. Ren viu o alfa se retirar e suspirou aliviado. - Como irei suportar isso até o fim? – murmurou e viu dessa vez o doutor se aproximar e suspirar em seguida. - Ren, por que não fez o que eu disse? Era só vir para minha sala na hora do intervalo, aqui ninguém iria implicar com você. - Eu não podia fazer isso, senhor Kim. Da primeira vez que parei aqui os outros alunos ficaram falando coisas ruins sobre o senhor, não queria que boatos falsos surgissem a seu respeito. - Eu não me importo com nada disso, Ren. Naquela vez tive te tratar porque desmaiou e caiu da escada, fiz meu trabalho como médico, o meu dever de cuidar de todos que precisem do meu atendimento. Kim Azumaya, formado na Universidade de Oxford. Se formou em medicina aos 20 anos, considerado um gênio desde criança. Para ele naquela escola os status não tinham importância, todos os alunos mereciam ser tratados da mesma maneira e sem discriminação. - Por isso mesmo. Não há motivos para eu vir aqui todos os dias, não estou doente. - Você precisa tomar mais cuidado nessa escola, Ren. - Sei, disso. Eu sei disso, mas... O Kim sabia que o ômega suportava tudo porque queria garantir um bom futuro para sua mãe. Fazer o ensino médio naquele lugar garantia uma vaga em universidades renomadas, sem contar que também ajudaria na procura de um emprego futuramente. - Mesmo que você conclua os seus estudos em uma ótima escola, ou até mesmo na melhor universidade, isso não lhe garante o melhor tratamento dos outros. Vivemos uma sociedade cheia de preconceitos, infelizmente. - Eu também estou ciente disso, mas sabe senhor Kim, eu não quero deixar de viver a minha vida por isso. Quero conseguir lutar, ou ao menos suportar tudo, assim eu poderei dar uma vida melhor para minha mãe. Estou errado por pensar desse jeito? - Não está. E Ren, me chame de Azumaya. Me sinto um velho quando me chamam de ‘senhor Kim, eu ainda sou muito Jovem. – ao dizer isso o outro riu – Irei te dar um remédio intravenoso, enquanto isso cuidarei dos ferimentos. Se durante o procedimento se sentir m*l me avise. Não houve reclamação nenhuma, fez os procedimentos necessários e prescreveu alguns remédios para caso Ren sentisse algum m*l estar quando chegasse em casa. Graças ao Kim, se sentia melhor do que antes e agradecia aos deuses por ter alguém como ele naquela escola, um adulto com quem pudesse conversar. - A propósito, quem te trouxe é o aluno novo, certo? – assentiu – Vocês se conhecem? – negou – Tem certeza? - Sim. Hoje foi a primeira vez que o vi e falando nele preciso agradecer... - Entendo, faça mesmo isso. Direi para ele entrar, enquanto isso irei entregar um relatório na diretoria. Se preferir pode voltar para sala, mas eu recomendaria que ficasse aqui mesmo na enfermaria para que ninguém te perturbe mais por hoje. - Tudo bem. E obrigado por ter cuidado de mim mais uma vez, senhor Azumaya. - De novo esse ‘senhor’... – suspirou – Mas tudo bem, é um avanço por ter dito o meu primeiro nome. – sorriu e depois se retirou. Damian entrou na sala minutos depois parando ao lado da maca onde Ren estava, o olhou da cabeça aos pés. Franziu o cenho ao ver que os joelhos precisaram ser enfaixados. O alfa então direcionou o olhar para o ômega se sentindo culpado por aquilo ter acontecido. - Me desculpa, eu não devia ter dormido. - Por que está se desculpando? Não foi culpa sua o que aconteceu comigo. Na verdade me sinto agradecido por ter me ajudado naquela hora, coisa pior poderia ter acontecido, mas graças á você saí só com alguns arranhões. - Ren... O ômega percebia o quanto estava se culpando, mesmo que o caso não tivesse nada haver com ele. Pensava que talvez, só hoje, o seu pedido tenha funcionado de alguma forma. - Você pode voltar para sala, o sinal deve tocar daqui á pouco. Você disse naquela hora que eu te mostraria o colégio, mas acho que não poderei fazer isso hoje. Outro dia eu faço isso como agradecimento se ainda quiser... - Mas é claro que eu irei querer, ainda mais sendo você, Ren! – soou como se fosse o óbvio e então viu a expressão confusa do outro – Você não se lembra de mim, não é? - Nós já nos conhecemos? - Sim. Quando eu era uma criança você me salvou. Eu tinha quatro anos naquela época, saí de casa escondido para ir brincar em um dos parquinhos que havia próximo da minha casa, já que eu queria tanto ir e não tinha ninguém que me levasse. Achei que não teria nenhum problema, mas um grupinho se juntou contra mim para falar o quão esquisito eram os meus olhos. - Esquisito por ficarem dourados? – Ren questionou e o alfa assentiu. - Desde que eu nasci eles são assim. Eu mesmo não gostava deles, mas não tinha nada que eu pudesse fazer naquela hora, então eu comecei a chorar e mesmo assim eles continuaram a dizer o quão estranho eu era, que eu não era normal. – riu de si mesmo – Mas então você apareceu, se posicionou na minha frente e me defendeu, colocou eles para correr dizendo que se eles continuassem o olho deles ficariam da mesma forma e os cabelos ficariam tão brancos quantos os seus. - Me desculpa por não lembrar disso. - Tudo bem. Eu te achei muito maneiro naquela época e ainda disse que meus olhos eram bonitos e me faziam ser único. E como eu era um fracote comecei a chorar de novo, mas eu estava feliz, porque foi a primeira vez que me disseram aquilo, eu fiquei feliz de verdade... “Alguém acha eles bonitos, então também posso gostar deles”, esse foi meu pensamento. - As pessoas não gostam do que é diferente, elas têm medo de coisas que não são dentro da normalidade, mas isso não significa que temos que viver das mesmas concepções que elas têm. Os seus olhos á principio podem ser considerados estranhos no começo, mas obviamente possui uma explicação para serem assim e o fato de ser um lúpus deve está relacionado. - Está certo. Por acaso sabe sobre os lúpus? - Pouca coisa. Eu sempre gostei de estudar, aprender mais um pouco sobre de cada coisa, então já li muitos livros e também ouvi muitas histórias, mas estranhamente, qualquer informação que eu buscasse sobre os lúpus era limitada. Como se não quisessem que soubessem sobre eles... – dizia pensativo. - Não deixa de ser uma verdade o que disse. Os lúpus existem, mesmo que sejam a minoria em todo o mundo e se eu te dissesse do que são capazes, provavelmente não acreditaria em mim. Porque eu mesmo quase não consegui acreditar no que me disseram. – riu – Se quiser saber mesmo sobre, te contarei futuramente. - Eu irei cobrar se falar desse jeito... - Não me importo. Quando estiver com a mente mais tranquila lhe direi tudo o que quiser. – o alfa esboçou um sorriso – Por agora, me diga se precisa de alguma coisa, posso pegar para você. Está com fome ou cede? Sente alguma dor ou incômodo? - Não. Eu estou bem, apenas meio sonolento. Provavelmente deve ser por causa do remédio intravenoso que o senhor Azumaya me deu. - Vocês parecem ser bem próximos... - É que não é a primeira vez que eu venho nessa enfermaria. - Entendo. Damian percebeu que havia acabado com a conversa entre os dois, então um silêncio perturbador se instalou no ambiente em que estavam. Em certa hora o doutor Kim voltou para a enfermaria e disse para Kurosawa que podia voltar para sala, assim pegaria a matéria para passar para Ren. Pensou em recusar, porém viu que era necessário se quisesse mesmo ajudar o ômega, então voltou. O alfa assistiu ás aulas, ou ao menos tentou, pois precisou lidar com diversos comentários. Indagaram o sobre o fato de ter levado Ren em seus braços pelos corredores da escola, quando este era um garoto de classe muito baixa. Teve que controlar os seus instintos para não causar mais confusão, mas sabia que o assunto não seria esquecido tão rapidamente. - Kurosawa, até quando ficará calado desse jeito? – perguntou um dos colegas da sala. Havia feito questão de sair da primeira carteira de sua fileira apenas para tentar descobrir o que aconteceu – Á propósito, me chamo Chris. Sou o filho do- - Não quero saber. – soou ríspido – Volte para o seu lugar, está atrapalhando a minha concentração na aula. - Eu só quero saber o que aconteceu de verdade. Alguns estão especulando que você brigou com o grupo do Hasekura por causa do Ren... – disse direcionando um olhar de escanteio para o tal de quem falava – Viu? Ele até está com a cara emburrada. - Não brigamos, apenas trocamos algumas palavras. E se está tão curioso pergunte á ele, por que ficam fazendo perguntas apenas para mim? - Não me atreveria , na verdade ninguém. - Por quê? Achei que todos fossem seguidores fiéis dele. - Não é bem assim. Alguns poderiam se oferecer como tapete para ele, outros o obedeceriam se ele pedisse algo, mas também tem aqueles que o temem porque é filho de um governante. É chato haver essa comparação no colégio, todos estão aqui pelo mesmo propósito, que é se formar. - Você... O que seu pai faz? - Ele é empresário e minha mãe é dona de uma floricultura. - Interessante... - Agora que tivemos uma conversa decente, pode me dizer o que aconteceu mais cedo? É que eu sou do tipo muito curioso. O Ren está bem, não é? Ele não se machucou, não é? Damian não havia ficado irritado quando outros vieram questioná-lo, mas dessa vez, Chris estava conseguindo de fato testar a sua paciência. - Senhor Chris! – o professor de matemática chamou sua atenção – Pare de perturbar o senhor Kurosawa e volte para o seu lugar. - Sim, me desculpe professor! - Queria deixar uma coisa clara para vocês, o aluno Nakamura Ren se machucou no horário de intervalo, não há com o que se preocuparem. O colega de classe de vocês, apenas o ajudou, então não fiquem distraídos. - Sim. – responderam todos juntos. - Bem, a aula está quase no fim então irei relembrá-los sobre o trabalho de casa. Pesquisem sobre quem foi considerado o “pai da matemática” e o porquê dele ter sido tão importante. Façam em dupla e me entreguem na próxima aula. O sinal tocou e rapidamente Damian juntou o seu material e o de Ren. Correu até a enfermaria e quando chegou se deparou com o ômega na porta. - Vamos? – disse o alfa. Ren o olhou sem entender – Te levarei em casa. - Mas eu estou bem, eu só ralei os joelhos. - Eu insisto. Vai se bom irmos juntos, precisamos falar sobre o trabalho em dupla que o professor de matemática passou e como você foi o único com quem eu me dei bem no meu primeiro dia, acho que seria legal se fizéssemos juntos. – viu a expressão de surpreso do outro – Não podemos? – perguntou sorrindo sem graça. Ren pensou em recusar, mas ele havia sido muito legal consigo e também sentia que iria se arrepender se o fizesse. - Tudo bem, vamos fazer juntos. – sorriu.
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