PÉRGAMO

1244 Words
Não me lembro de ter tido dias maus na minha vida, nasci sozinho e assim criei-me. A minha mãe me entregou a igreja do Reino Eterno quando havia acabado de nascer e deixou um bilhete informando os seus motivos, dissera que ainda jovem não tinha condições para me criar e agradeci por sua sinceridade e gentileza. Quando criança ajudava o pastor Policarpo com os cuidados da igreja e fui-lhe necessário na morte da sua esposa e cuidado de Esmirna, a sua única filha. Quando a vejo passar por tamanho tormento com os seus irmãos e madrasta, sinto-me envergonhado, por ser incapaz de retribuir a Policarpo todo amor e cuidado que me dera. Este foi o motivo pelo qual me alistei no exército do rei, utilizar de futuros benefícios para dar a Esmirna uma vida melhor do que lhe foi oferecida pelo destino agressor. Hoje dou inicio ao meu primeiro dia como guarda da princesa, filha única e muito amada do rei Átalo. Foram anos me preparando para este momento, desde os meus dezesseis anos criando nos meus superiores o respeito que precisava para alcançar este lugar privilegiado, grandes lutas combati, enfrentei muitos traidores em nome do rei e agora aos vinte e dois anos, finalmente a conhecerei, Filadélfia, a jovem de cartas escritas direcionadas a mim, sem mesmo me conhecer. Aos meus dezessete anos, poucos dias após alistar-me no exército real eu conheci-a no labirinto do castelo. Filadélfia usava um vestido rosa de seda, ele deixara-a ainda mais linda apesar de não ter sido capaz de ver o seu rosto por estar coberto do lenço da pureza que me trouxe grande irritação, o meu coração gritava constantemente "ela é e linda" Naquele mesmo dia recebi uma carta vindo das mãos de uma das suas servas, o escritor em questão dizia "Eu ja o escolhi para mim, venha ao meu encontro quando alcançar este privilegio, então poderá caminhar pelos corredores ao meu lado e assim me permitir tocar a sua mão, num descuido desejado" Eu já a amava mesmo antes de vê-la, como seria agora quando finalmente teria a oportunidade de olhar os seus olhos, sentir o seu cheiro mesmo que apenas de longe, estava ansioso e desejoso em contar a Esmirna sobre essa paixão que me invadia, mas sua vida de dor fez-me perceber o egoísmo que me tomara, era ela quem eu deveria cuidar e por ela, deveria manter o decoro guardado em mim. — Pergamo, chegou a hora. — Assuero diz, se aproximando quando estou a selar alguns cavalos para os soldados. Assuero era o comandante do exército e foi responsável pela minha promoção como guarda real. — A princesa é demasiadamente difícil, durante estes anos nenhum guarda foi capaz de ficar ao lado dela, sempre dispensados no primeiro dia e espero que você fique pelo menos por uma semana, até encontrarmos outra pessoa. — Não se preocupe senhor, irei dar o meu melhor. — Respondo com firmeza e ele sorri, batendo levemente no meu ombro esquerdo. Respiro fundo e o acompanho até a sala do trono, após subir as longas escadas nunca tocada por meus pés. Confesso sentir os meus olhos escuros queimar ao ver tamanha riqueza de detalhes, toda extensão da sala real era coberta por ouro puro, o famoso trono de revestimento carmim e flores em tons pasteis em cada pilastra lateral do lugar, sorrio, me lembrando que seria algo encantador para Esmirna, ela amava flores e tudo que era bonito, desejei por alguns minutos correr e trazê-la aqui ou ter um objeto que pudesse gravar esta imagem e dar para que guardasse de recordação, mas percebi ser algo bobo, impossível uma criação assim. — Majestade, permissão para falar. — Assuero se aproxima e fazemos reverência com o nosso corpo em frente ao rei. Átalo era um homem de meia-idade, cabelos grisalhos e barba cumprida. Apesar de não estar com a idade avançada, tinha cicatrizes no seu rosto e um certo cansaço, por nos seus dias de glória ter sido um forte combatente no seu reino. Definido como um rei guerreiro, trazia temor aos seus inimigos e respeito dos seus aliados. — Permissão concedida. Então este é o jovem que me disse? — Átalo observa-me com atenção, enquanto dirige a sua pergunta a Assuero. — Sim, meu rei. Pérgamo tem sido de grande ajuda no nosso reino, a sua lealdade e devoção ao senhor e também a Deus o torna perfeitamente capaz de proteger a princesa e acompanhá-la nas suas caminhadas matinais. — Imagino que sim, mas além de ser um bom soldado e devotar a mim o seu respeito, também precisa dar a sua vida se assim necessário pela minha filha, pois além do futuro do nosso reino, também é o meu maior bem e mais precioso. — Não se preocupe senhor, ele fará isso. — Assuero diz e Átalo agora dirige seus olhos firmemente para mim, deixando que minhas pernas tremam. Temo cair ali ajoelhado em sua frente, então firmo com força meus pés ao chão e respiro fundo, buscando não demonstrar o desespero que havia em mim. — Diga-me, você fará isso? Irá Proteger a minha filha com toda a sua vida? — Pergunta em tom de interrogação e levo a minha mão até a testa e digo alto. — Sim, meu rei! A minha vida e toda a minha força serão destinadas a proteger a princesa, sua filha e bem mais precioso para ti e o reino Eterno! — Exclamo e ele gargalha, batendo palmas, sorrio levemente deixando que a minha respiração se regularize. — Se e assim, então chamem a minha esposa e Filadélfia para vir nos acompanhar no desejum. Assuero fique também, quero que participe junto de Pérgamo. — Claro senhor, assim faremos. — Assuero acena com a cabeça e faço mesmo, animado com a oportunidade de comer á mesa do rei. — Não se anime tanto, ele deixa que todos guardas comam na sua mesa, apenas como um prêmio de consolação já que durarão apenas uma semana. Assuero e eu colocámo-nos ao lado da sala, um servo volta e se apresenta, curvando-se ao rei, Átalo concede a fala e o homem usando roupas simples profere as palavras. — Vossa majestade a Rainha Esperança e consigo, a princesa Filadélfia! — A rainha passa pela porta acompanhada da sua serva, ela usa um vestido vermelho, eu acho, desculpe-me ser um péssimo redator, neste exato momento havia-me perdido um pouco mais ao fundo. Ali estava ela, a jovem e o seu véu da pureza que ainda me trazia irritação, ela caminha tão suavemente que parecia flutuar. Por segundos esqueço-me que estou na presença do rei e devaneio em pensamentos românticos. O seu rosto permanece em direção ao seu pai e a minha boca se abre como se quisesse gritar "Veja, estou aqui". Assuero toca o meu braço, olho para o chão e vejo que os meus pés caminharam e por pouco não chegou ao seu lado. Era desesperador, aterrorizante, eu estava apaixonado, perdido em amor. — Querido, que bom vê-lo bem nesta manhã. — A rainha fala, deixando um delicado beijo nos lábios do seu esposo. Ela se senta ao lado esquerdo do rei e agora, Filadelfia sobe as escadas e toca a bochecha de seu pai, pondo-se ao seu lado esquerdo. Ela ainda não me viu? Ou será que perdera o encanto por tamanha demora da minha chegada? Eu deveria dizer "oi"? Apresentar-me, como o seu guarda real ou Destinatário do seu amor secreto?
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD