- Espero que você seja muito feliz em sua nova jornada. - Louise abraça-me.
- Olha, espere um pouco...vou lhe dar algo para a viagem.
- Não precisa, Louise. - Digo e a mesma sorri, me entregando uma caixa quadrada.
- Ah meu Deus, não mereço. - Falo ao ver um lindo colar de prata com pingente de piano.
- Você merece isso e muito mais. Quando se tornar uma pianista famosa, quero estar na primeira fila. - Fala e começo á chorar, lhe abraçando mais uma vez. - Obrigada Elisa, por sempre tratar os clientes com amor e me ajudar em tudo, saiba que minhas portas estarão sempre abertas para você.
- Obrigada por ser a melhor chefe do mundo...nos esbarramos qualquer dia desses. Bye, bye! - Me despeço e saio para fora da joalheria.
- Ei, como assim você vai para outro país?!
- Grita e lhe mostro a língua.
- Adios rapariga!! - Exclamo, entrando no primeiro ônibus que aparece, descendo logo no próximo ponto, pois aquele automóvel me levaria para o fim do mundo. Pelo menos a cena ficou legal.
- E aí, vai para Holanda comigo? - Sou recebida pelo senhor qualhada doce, que sorri até as orelhas.
- Você já sabia que eu iria, né? - Indago e Mateus move a cabeça repetidas vezes em confirmação.
- Vamos viver!!! - Grita abrindo os braços e reviro os olhos, retribuindo seu afeto. A dor ainda havia dentro de mim, como cumpridas agulhas que furavam meu coração e tudo bem...já leu aquele livro, onde diz que "A dor deve ser sentida", era isso que eu estava fazendo, sentindo a minha dor, mas, não poderia deixar que ela me impedisse de viver as alegrias.
No outro dia...
- Vou guardar sua mala no carro.
- Mateus fala, pegando minha única mala com as poucas roupas e lembranças que eu tinha.
- Tudo bem. - Assinto, observando aquela casa vazia onde vivi por longos anos, muitas alegrias e algumas tristezas. Respiro aquele ar brasileiro uma última vez e me despeço para sempre, prometendo que só voltaria quando me reconstruisse novamente.
- Lisa, está pronta? - Livra-me dos pensamentos e concordo. Saímos para fora da casa, entramos no carro do Uber, que nos leva ao aeroporto de Congonhas. - Quer comer alguma coisa? - Indaga quando estamos á esperar o avião.
- Mah, tem certeza que devo fazer isso?
- Lhe pergunto e ele sorri, sentando-se ao meu lado.
- Não é para mim que deve perguntar, mas á si mesma. Elisa, tem certeza que quer fazer isso? - Retruca minha pergunta. Inspiro meu medo e solto a minha coragem.
- Sim, eu tenho certeza Mateus Santos.
- Respondo. Mateus se levanta e pergunta mais uma vez.
- Quer comer alguma coisa antes de irmos?
- Um pão de queijo pela última vez.
- Digo por fim e Mateus corre até uma padaria, para pegar o pão de queijo. Após comermos, o número de nosso voo é chamado e embarcamos. - Será que vamos morrer antes de chegarmos na cada da Anne Frank? - Pergunto, tentando ajeitar meu cinto de segurança.
- Qualquer coisa, pode segurar a minha mão...aproveite enquanto não encontrei a Emma. - Ri de forma maliciosa e me afasto do mesmo, fazendo com que gargalhe.
- Depois dessa, prefiro voar de paraquedas até a Holanda. - Brinco, pondo um fone de ouvido e observando o avião subir, chegando nas nuvens. - Adeus, Brasil...Obrigada por tudo. - Toco minha mão na janela e logo depois fecho os meus olhos, descansando para a longa viagem que nos esperava. No fundo do meu coração eu sempre soube que não seria fácil, mas nunca imaginei a intensidade que me esperava há quilômetros de distância.
O patrão de Mateus lhe pagou um voo sem escalas, o que nos fez chegar um pouco mais rápido do que seria necessário. Depois de onze horas e muitooos minutos, aterrisamos no aeroporto internacional de Amsterdã o Schiphol. Diferente de mim, Mateus era fluente em inglês e arranhava muito bem a língua nativa do país o que nos possibilitou ser recebidos de forma sociável sem que fôssemos presos.
- Mateus, você deve estar se sentindo em casa. As pessoas daqui são tão brancas.
- Cochicho em seu ouvido, quando Mateus pega nossas malas.
- Mas, sou minúsculo...olha a altura dessas pessoas perto de nós dois. Parecemos Smurfs. - Fala e dou risada, concordando ao olhar para o segurança.
- Será que a Emma é alta? já pensou, Mah? Ela ter dois metros de altura? - Exclamo rindo e as pessoas começam a nos olhar.
- Para de rir, maluca. Vão descobrir que somos brasileiros. Vem, a Emma está nos esperando no térreo. - Puxa minha mão e seguimos pela escada rolante com nossas malas.
- Matt!! - Ouvimos um grito e dirigimos os nossos olhos a uma linda garota, dos cabelos loiros e olhos verdes.
- Caramba, ela é muito gata. - Digo e Mateus não me ouve mais, está totalmente preso na beleza da tal garota, que infelizmente era da minha altura...acredite, ela era bem pequena para uma Holandesa.
- Emma!! Meu amor!! - Exclama deixando a mala na entrada da escada, correndo até a menina, lhe rodopiando nos braços e beijando seus lábios de forma tão intensa, que todos ao nosso redor devem ter sentido inveja. - Você é linda, muito linda...ainda mais linda! - A elogia, enquanto ela apenas ri. Acho que não devia estar entendendo o que Mateus dizia.
- Você que é lindo. - Fala com um forte sotaque, mas com facilidade no português. - E essa deve ser, a Elisa? - Indaga e concordo indo ao seu encontro, sendo agarrada por ela.
- Prazer, Elisa. - Repito meu nome e ela assente com a cabeça me abraçando mais uma vez. - Ela ama abraços. - Murmuro para Mateus que concorda sorrindo. Ele estava tão alegre, que poderia distribuir á quem quisesse um pouco.
- Vamos, eu pedi ao meu irmão que nos buscasse, mas, ele se atrasou. Pegamos um taxi. Vocês gostam de biscoitos?
- Bolacha? - Pergunto e ela fica tentando decifrar o que eu havia dito.
- Cookies? Com gotas de chocolate?
- Mateus questiona e Emma finalmente concorda.
- Isso mesmo. Minha avó tem uma cafeteria aqui perto, ela prepara os melhores Cookies de Amsterdã, vocês vão amar! Nós vamos pegar esse taxi e depois um barco, tá bem?
- Barco!! - Mateus e eu gritamos aplaudindo, como dois bobos. Não tinha como disfarçar, estávamos deslumbrados com tudo.
- Venham, vamos entrar. Esse travel Ticket, funciona em todos os transportes daqui de Amsterdam, depois fazemos um para vocês dois.
- Tá bem. - Dizemos juntos e ela ri. Emma estava zombando de nossa cara, isso era certo. Mas, até que eu gostei da garota. Ela tinha tudo a ver com o Mateus, doces como algodão doce.
- Lisa, olhe! - Mateus aponta para o lago, onde se encontrava os famosos barcos da cidade romântica. - Esse lugar é muito romântico, não é amor? - Pergunta e Emma concorda.
- Mas, também tem bastante lugares sombrios...então deixem para ir, quando estiverem mais enturmados.
- Você já foi? - Pergunto e ela neg4.
- Meu irmão já, mas, eu sou cristã. Se vocês quiserem, temos uma igreja próximo da casa do Thomi. Eu moro com minha avó, mais pro interior.
- Meu chefe conseguiu um apartamento para Elisa e eu, não queremos atrapalhar.
- Mateus diz e Emma parece ficar um pouco triste. - Mas, não custa nada irmos passar um dia lá, não é Lisa?
- Hunrun, claro. - Respondo sem muito prestar atenção em sua conversa. Tudo naquele lugar era tão poético e lindo, que me fazia esquecer do mundo ao meu redor.
- I'am Sorry. - O motorista diz, quando paramos em um pequeno trânsito.
- O trânsito está h******l, hoje.
- Emma diz e olho para Mateus que ri. Amiga, você não viu o de São Paulo.
- Esse trânsito não chega nem perto de um dia normal em São Paulo. - Falo e os dois holandeses olham para mim, tipo: Impossível.
- O que está acontecendo? - Mateus pergunta, quando ouvimos um homem gritar dentro do carro que estava atrás de nós.
- Affs, um i****a qualquer xingando a gente.
- Emma fala, cruzando os braços.
- Por que? Espere, o que ele está dizendo?
- Questiono e a garota põe a mão no rosto.
- Nem queira saber, uma coisa pior do que a outra. - Fala.
- Ah, mas não vai ficar assim não, quem ele pensa que é? - Indago saindo do carro.
- Elisa, não! Ah meu Deus, vai fazer barraco em outro país, vamos ser expulsos daqui.
- Ouço Mateus falar, mas, já estou na porta do tal ser grosseiro.
- Ei, seu i*****l, ninguém tem ouvido alugado para ficar ouvindo suas baixarias, não! - Exclamo em inglês e ele ri, ainda com a janela fechada.
- Ah fique quieta, brasileira chata! - Retruca em português, com aquele sotaque insuportável.
- Abre essa janela e me xingue olhando na cara, seu insuporta...vel. - Gaguejo, quando o mesmo abre a janela de sua BMW, trazendo aos meus olhos um rapaz aparentemente vinte e um anos, cabelos acobreados, pele clara e olhos verdes como a grama pela manhã.
- Vond je het leuk? - Pergunta, tirando-me do transe.
- O que disse? - Cruzo os braços lhe olhando irritada.
- Perguntei se gostou, não para de me olhar. Se quiser, estou livre hoje a noite.
- Fala de forma audaciosa, arqueando uma de suas sobrancelhas.
- Ah vá catar coquinho! - Esbravejo, voltando para o táxi.
- leuke hippe dame! - Grita e entro no carro, sendo puxada por Mateus.
- O que ele disse? - Questiono e Emma ri.
- Emma, fala logo...O que aquele i*****l, falou?
- Não fala amor, ela vai querer voltar lá.
- Diz e me preparo para sair.
- Disse que tem um belo quadril.
- Ri e Mateus faz o mesmo. Eu iria voltar lá, mas sou impedida pelo minúsculo trânsito que começa á andar. - Espero nunca mais ver esse cara.
- Também espero, pelo paz de Amsterdam.
- Mateus levanta as mãos e Emma sorri, apertando minha mão com delicadeza.
- Não se preocupe, quando chegar em minha casa vou lhe dar muitos cookies, toda raiva irá desaparecer.
Após uma deliciosa viagem de barco, com vista para os lugares mais lindos, somos levados de carro até a fazenda da família de Emma. Lá havia um enorme pasto verdejante, com alguns animais a andar por ele e uma enorme casa de madeira com teto vermelho e uma linda lareira que saía fumaça.
- Ah meu Deus, estou em uma história de época. - Sorrio admirada e descemos do carro.
- Venham, vou leva-os para tomarem um banho e depois comemos biscoitos.
- Emma diz e passamos pela porta, já sentindo o delicioso cheiro de chocolate.
- Ah meu Deus, quanto tempo não vejo brasileiros!! - Uma senhora rechonchuda usando um avental, exclama abraçando a mim e Mateus com fervor. - Que moça linda, sua cor é maravilhosa.
- Ah muito obrigada. - Agradeço e ela sorri, apertando nossas bochechas. - Que cheiro delicioso.
- São Cookies! Querem comer? - Pergunta e concordamos animados.
- Eles vão tomar um banho primeiro, depois descemos para comer. Acabaram de chegar de uma longa viagem.
- Isso, depois voltamos. Muito obrigado dona... - Mateus aguarda o nome da mulher.
- Dorotéia, apenas Dori! - Ri abrindo os braços e assentimos, caminhando até o fim do corredor com Emma.
- Elisa, você pode tomar banho no meu quarto e o Matt toma no do meu irmão, caso queiram dormir aqui...ele tem uma casa na cidade.
- O que acha, Lisa? - Mateus pergunta como se implorasse para que eu dissesse sim.
- Tudo bem, estamos bastante cansados para voltarmos a cidade. - Respondo e os dois se olham alegres.
- Vem Lisa, vou lhe mostrar o banheiro. Aqui é bastante frio, então pode colocar essa blusa de moletom aqui, é do Tomi.
- Ah, não quero que ele fique irritado se me ver usando a blusa dele. - Falo e a mesma me entrega, como se minhas palavras não valessem de nada. - Tudo bem, então...
- Digo para mim mesma, seguindo para o banheiro e tomando um banho quente no chuveiro. Visto um jeans e o moletom do rapaz desconhecido, indo para a cozinha em busca de Emma ou qualquer ser humano minimamente conhecido.
- Você tem que parar de ficar brigando no trânsito, Thomas!
- Mas, aquela garota estranha que veio me xingar. Ainda era brasileira! - Exclama sentado á mesa.
- Tem algo contra brasileiros? - Indago cruzando os braços, me pondo na frente do falastrão do trânsito.