Se eu soubesse, eu nem teria ido

1719 Words
Julia Confesso que nunca imaginei que a minha efetivação viria tão rápido, está certo que trabalho aqui a quase dois anos, mas geralmente, se leva muito mais tempo para que isso aconteça. Por um lado estou contente: Consegui um emprego estável, um bom salário, mas por outro eu não sei se vou me sair bem nessa nova função. Eu sou um rata do i********:? Sim, eu sou. Mas, promover uma empresa como a Entrelinhas Editora nas mídias Sociais, tendo em vista que ela estava praticamente fora delas durante todos esses anos, é bem diferente. Será um grande desafio para a minha carreira e um desafio pessoal também, mesmo porque eu nem sei por onde começar. "Nossa, porque eu fui aceitar?" Agora é tarde para voltar atrás. Quando volto para a minha mesa, Helen está me esperando com expectativa e curiosidade. Quase tenho a impressão de que seus olhos irão saltar das órbitas. ― E então, o que foi? O que o "Chucky" queria? ― perguntou ela baixinho. ― Eu fui efetivada. ― respondo no mesmo tom. ― O QUÊ?! VOCÊ FOI EFETIVADA? ― grita, ela. ― Helen, fala baixo por favor. Não quero que a editora inteira fique sabendo disso. ― E como não vão ficar sabendo? Acha que isso vai ficar em segredo para sempre? ― Eu sei que não vai. Mas, acredito que vá haver uma reunião com toda a equipe, pois trata-se da criação de um novo cargo. ― conto. ― Sério? E que cargo é esse? ― Diretora de mídias sociais. Serei responsável por administrar e gerenciar as redes sociais da editora. Isso inclui, fazer ela se engajar o máximo possível. ― Espera, então você não vai mais fazer a revisão dos manuscritos? ― Não, nosso chefe disse que iria contratar uma nova estagiária para fazer o que eu fazia. ― E como você está com tudo isso? Quero dizer, você está feliz, não está? Era tudo o que você queria. ― É claro que sim, estou muito contente. Esse aumento de salário vai ser ótimo, mas... ― Mas... ― Eu não sei se consigo fazer isso, Helen. O meu trabalho é revisar textos e é isso o que eu sei fazer.― respondo, um pouco chateada. ― Eu entendo você. Mas, eu acredito que você vai dar conta, você é a pessoa mais competente que eu conheço e esforçada também. ― As palavras de Helen, soam tão confiantes que eu quase acredito. ― Eu vou dar o meu melhor, disso pode ter certeza. Mas não é só isso, eu vou sentir falta desse trabalho, eu gosto do que faço, é mais do que simplesmente revisar textos, é descobrir novos autores talentosos que merecem uma chance e reconhecimento. ― Eu sei, amiga. mas, pensa assim: Você ainda está em início de carreira, não precisa se cobrar tanto. Novas oportunidades surgirão, embora eu não goste nem de pensar em trabalhar aqui sem você. ― diz ela com um sorriso. ― Eu sei, amiga. Você tem toda a razão, isso é só o começo, e não se preocupe, por enquanto eu não vou a lugar algum. ― digo, sorrindo também. Eu só espero ter tomado a decisão certa. O resto do dia passa rapidamente com tanto trabalho para fazer, imagino se o tempo passará tão depressa assim, quando eu estiver encarregada da minha nova função, eu espero que sim. Mas, isso só saberei amanhã. Me estico na cadeira, minhas costas doem de tanto ficar sentada o dia todo. Checo meu celular pela primeira vez, desde que saí da universidade e noto uma pequena movimentação no grupo da sala do Mestrado. Lendo as conversas, percebo que a turma marcou de se reunir em pub no centro da cidade, eu no entanto, não fui informada, o porquê, eu desconheço, mas me importo menos do que deveria me importar. "Humm, interessante", penso. Alguns professores também foram convidados, me pergunto se o professor Danilo também irá, ele não parece ser do tipo que socializa com alunos, mesmo na presença de outros professores. Por um momento me sinto tentada a aparecer por lá, até porque, eu também faço parte da turma. Mas me lembro que preciso sair daqui e passar no supermercado na volta, pois minha geladeira está vazia e para ser sincera não sei o que vou jantar essa noite. ― Helen, você vai passar perto do mercado? ― pergunto, enquanto ajeito minhas coisas na bolsa. ― Vou sim, porquê? ― Pode me dar uma carona? Preciso fazer compras. ― digo, revirando os olhos. Helen ri do meu gesto. ― Preguiçosa, aposto que não tem nada para comer na sua casa, né? Você sempre deixa chegar nesse ponto, precisa se alimentar melhor, Ju. ― Eu, mas você sabe que eu detesto ir ao supermercado, é sempre tão cheio de gente, a fila para o caixa é enorme e eu acabo perdendo muito tempo lá. ― digo, fazendo biquinho. ― Eu concordo, mas não tem outro jeito, não é mesmo? Mas, sim eu te dou carona, vamos. Helen, conseguiu comprar seu primeiro carro trabalhando na editora, é um carro simples, mas é o meu sonho de consumo. Como eu gostaria de parar de andar de ônibus! Helen, parece que leu os meus pensamentos: ― Agora, com esse aumento de salário, dá para você pensar em comprar um carro. Não que eu não goste de te dar carona, por favor não pense isso. Mas, seria bom não seria? ― pergunta ela, enquanto dirige. ― Sim, seria ótimo. Vou pensar sobre isso, mas primeiro tenho que me estabilizar nesse novo cargo, fazer dar certo para depois pensar em gastar. ― Está certa. Mas, já te disse que você vai conseguir. Tenha fé. O que você tanto olha nesse celular, hein? ― diz ela, esticando um pouco o pescoço. ― Não é nada, é só que a turma marcou de reunir em um pub hoje a noite e eu nem fui informada. ― É sério? E quem foi o responsável pela organização? ― fala, brava. Minha amiga sempre toma as minhas dores, e eu as delas. ― Deixa-me ver... Ah! Está explicado. ― O que foi? Descobriu quem foi? ― Foi a oferecida da Pamela. ― eu falo, revoltada. ― Quem é Pamela? ― É uma aluna da minha sala, ficou a aula toda se oferecendo para o professor Danilo, mostrando o decote e tudo, você precisava ver. ― Que v***a! Mas porque ela não convidou você? O que você fez para ela? ― Eu não fiz nada. Foi ela quem ficou tirando sarro de mim na hora da apresentação pessoal. ― Eu conto para Helen o ocorrido na aula do professor Danilo. ― Vaca! Ela acha que é melhor que você? Pois tenho certeza que não é. ― fala, irritada. ― Ela é só uma i****a que eu pretendo ignorar pelo resto do curso. ― Pelo seu bem e pelo bem dela também. Prontinho, chegamos. Está entregue. Quer que eu te espere acabar de fazer as compras? ― Não, de jeito nenhum. Pode ir, amiga. Muito obrigada pela carona. Você é a melhor. ― falo, já batendo a porta do carro. ― Não, você é a melhor. Te vejo amanhã então. ― Tchau, amiga. Encaro a entrada do supermercado sem vontade nenhuma de entrar, mas não tenho escolha. Ainda bem que ele fica próximo a minha casa, assim poderei voltar andando. Com um suspiro, caminho em direção a porta. Danilo São 19:30 e eu estou sentado em um pub cheio de pessoas de 20, 30 e 40 e poucos anos que acham que tem 17, depois de um longo dia de trabalho na universidade. O local está lotado de gente, fervilhando mesmo. Não sei porque aceitei vir até aqui, eu raramente frequento esse tipo de lugar, ainda mais com alunos e colegas de trabalho. Dois outros professores também estão aqui, são bem mais despojados do que eu e se misturam facilmente no meio dos alunos. Percorro o olhar ao redor e percebo que quase todos os alunos da turma já chegaram, menos a Júlia. Como já são 19:30 e o encontro estava marcado para às 19:00, já estou começando a achar que ela não vem. Não que eu tenha vindo aqui para vê-la, de modo algum. Eu vim para... para... eu nem sei bem porque eu vim aqui. "Quem estou tentando enganar? " Eu não paro de pensar nela, naqueles olhos. Será que eles estarão em meus sonhos essa noite também? Tenho vontade de correr pra casa e dormir só para ver se eles aparecem de novo para mim. Acho que estou começando a misturar as coisas, ela não pode ser a mulher do sonho, não pode. "Ela é sua aluna, Danilo, sua aluna". "Não pode haver nenhum envolvimento entre vocês, preciso tirar essa menina da minha cabeça. Mas, como?" Estou começando a ficar enjoado desse lugar, dessas pessoas, desses professores ridículos achando que são adolescentes. Amanhã acordo cedo, preciso ir pra casa descansar. Me levanto e vou até o balcão pagar pelo único drink que tomei, a aluna nova, Pamela, caminha até mim. Ela está com um vestido preto curto e um decote bem exagerado, seus s***s balançam enquanto ela anda, desvio o olhar rapidamente antes que ela me pegue olhando e me interprete m*l. Se é que tem como não interpretar m*l um homem que olha deliberadamente para os seus p****s. ― Professor, não me diga que já está indo embora tão cedo? ― pergunta ela, se encostando ao meu lado no balcão com um sorriso nos lábios vermelhos. ― Na verdade, eu digo sim. Estou cansado e gosto de dormir cedo. ― Falo, tentando manter meu olhar longe do decote dela. ― Entendo, mas insisto que ainda está cedo, que tal mais uma bebida? ― Vamos deixar para uma próxima vez, "nunca mais me pega", penso. Eu realmente tenho que descansar. Por favor, agradeça a turma pelo convite. Aliás, me parece que não estão todos aqui, ou é impressão minha? ― pergunto, não deixando transparecer meu interesse pela ausência de Julia. ― Na verdade eu não reparei, professor. O senhor sentiu falta de alguém? ― pergunta ela,  um tanto desconfiada. ― Não, só me pareceu que a turma era maior. Bom, eu vou indo. Boa noite, Pamela. ― Pode me chamar de Pam. Eu finjo que não escuto e vou embora.
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