Entrelinhas Editora

2066 Words
Então Bentinho era um lunático e a Capitu a esposa injustiçada, hein?" Gosto de sua opinião e para ser sincero também acredito que o Bentinho era um maluco. A aula termina e percebo que Julia atrasa sua saída, esperando que todos os alunos deixem a sala. Com certeza, ela quer falar comigo sobre os nossos encontros nada casuais. E de fato tenho razão, ela me pergunta se acredito em coincidências e eu digo que não. Ela responde que também não acredita. Isso me satisfaz de certa forma. Pois, acredito que tudo o que acontece em nossas vidas é pura obra do destino, sem mais nada a declarar. Então, só para provocá-la, decidi perguntar sobre o guarda-chuva. Mas me arrependo. Sua expressão de choque, beira a dor. Ela não tinha se dado conta de que o havia perdido ou esquecido em algum lugar. Ela se desespera tentando se explicar e se desculpar comigo. Me sinto no dever de tranquilizá-la sobre isso. Afinal, o guarda-chuva não era mais meu, e eu não estou zangado ou nada do tipo, estou apenas achando tudo isso muito divertido. Ela é sem dúvida, a pessoa mais atrapalhada que já conheci em minha vida. E não, isso não é r**m. Isso é muito bom. Fazia tempo que não conhecia uma pessoa tão espontânea. Parece que a minha vida ganhou um novo colorido. Quando estou quase saindo da sala, minha outra aluna, Pamela, entra querendo falar comigo. Logo na apresentação, ficou claro o tipo de pessoa que ela é: Debochada, exibida, metida a sabe tudo e muito, muito provocante. Não me passou despercebido, o quanto ela tentou se insinuar para mim, deixando o decote a mostra sempre que possível e me pedindo para chamá-la de "Pam". Ah, por favor! Ela é bonita sim, mas não me envolvo com alunas. Ainda mais alguém que costuma zombar dos colegas, como ela fez com a Julia quando esta estava se apresentando. Não gosto de alunos que acham que são melhores que os outros. Comigo ela não se cria. ― Com licença, professor Danilo. Posso falar com o senhor? ― ela diz, com melosidade na voz. ― É claro, do que se trata Pamela? ― Que bom que lembrou meu nome. ― Há poucos alunos nessa turma para lembrar os nomes. Então, não é difícil. ― Ah, sim... É claro. ― diz ela, sem graça. ― Então, o que você queria falar? ― Então, nossa turma irá se reunir em um Pub no centro da cidade, para comemorar, o senhor sabe, o início do nosso tão sonhado curso de Mestrado e gostaríamos que o senhor se juntasse a nós. ― Entendo. Mas, não costumo socializar com alunos fora de sala de aula. ― digo, dando um passo em direção a porta. Ela intercepta minha passagem. "p***a! Me deixa em paz", penso irritado. ― Olha, professor. Ficaríamos muito felizes se o senhor comparecesse. Outros dois professores de outras duas disciplinas também irão. Mas não quero insistir. Caso mude de ideia, a localização e o horário serão enviados no grupo da sala. Reflito por um momento, será que todos os alunos vão nesse encontro? Talvez seja uma oportunidade de ver a Julia novamente. Nossa, o que eu estou pensando? Irei vê-la em nossa próxima aula na quarta-feira. ― Todos os alunos irão? ― pergunto, sem deixar transparecer meu interesse. ― Sim, todos. ― ela me diz, com um sorriso. ― Então, verei o que posso fazer. Quem sabe eu não apareço por lá. ― Isso! Que demais, professor. Iremos adorar ver o senhor lá. Pense com carinho. ― diz, se atirando em meus braços. Eu, porém, permaneço rígido. ― Tudo bem , Pâmela. Ela se recompõe, um pouco corada. ― Bom, então até mais, professor. Eu aceno com a cabeça e vejo ela desaparecer no corredor. Preciso ficar atento a essa menina, se eu não lhe cortar as asas, pode me causar problemas. Julia Passo no shopping e almoço alguma coisa rápida e vou direto para a editora onde trabalho, mas antes, dou uma passada no banheiro e troco meu moletom por um blazer. Agora sim estou parecendo uma editora respeitável no estilo sport chic. Só que não, né? Mas quer saber? Não está tão r**m assim, dá para enganar, quem não me conhece até pensaria que sou uma executiva importante, e para finalizar, só faltam os meus óculos de grau, são de descanso, meus olhos não aguentam horas olhando para a tela do computador sem eles. A Entrelinhas Editora é uma editora de médio porte, mas já com grande reconhecimento no mercado editorial. É especializada em publicações literárias de gêneros diversos. Quando chego, Helen está comendo uma salada em sua mesa, ela raramente sai para almoçar fora, prefere pedir comida e comer no local de trabalho mesmo. Helen é minha melhor amiga, porém ela é um pouco mais velha que eu, com 27 anos, ela optou por não fazer mestrado, diz não ter mais cabeça para estudar. ― Oi, amiga. Não quis sair para almoçar hoje de novo? ― pergunto, me sentando à minha mesa que fica dem frente a dela. ― Oi, Ju. Não, você sabe que prefiro comer aqui, sem paciência para enfrentar o trânsito dessa cidade. ― Te entendo bem. E como está o clima por aqui hoje? ― Até agora, tudo calmo. O "Chucky" ainda não chegou, então por enquanto não há o que temer. ― diz ela, pronunciando as últimas palavras com tom de drama. O "Chucky" no caso, é o nosso chefe, também editor chefe da editora, Arthur ou Rei Arthur como também é chamado secretamente por alguns funcionários. Embora o primeiro apelido seja mérito inteiramente meu e da Helen. Não quero nem pensar no que pode acontecer caso ele descubra. Com certeza seríamos mandadas embora por justa causa e com toda a razão. Na casa dos seus 40 anos, Arthur é um chefe linha dura ou carrasco mesmo, se preferir assim. No entanto, é uma pessoa justa e recompensa sempre os funcionários que fazem bem o seu trabalho. Rio baixinho do comentário de Helen e me lembro que tenho algo importantíssimo para contar a ela: O meu lindo professor, que antes era só um lindo estranho ajudando uma desconhecida na rua. ― Helen, você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje, quando eu te contar você vai pirar. ― digo, entusiasmada. Helen se inclina para frente, interessada. Ela adora uma fofoca. ― O que aconteceu? Vai, me conta logo. Eu conto a ela o ocorrido no ponto de ônibus e no shopping até chegar a parte que descubro que o desconhecido era ninguém mais, ninguém menos que o professor da minha disciplina favorita do curso. ― E eu tipo, fiquei parada na porta com a boca e os olhos arregalados enquanto todo mundo olhava para mim. Eu simplesmente não estava acreditando que ele, justo ele, era o meu professor. É muita loucura, isso não pode ser coincidência, você não acha? ― Na verdade, pode né, amiga? ― diferente de mim, Helen não crê muito nessas coisas de destino, para ela as coisas acontecem sim, por acaso. ― Você sabe que não acredito nisso, Helen. Para mim, só pode ser o destino. ― Então, você acha que o destino quis que você conhecesse o seu professor de maneiras misteriosas? ― pergunta ela, achando graça. ― E não é assim que o destino age? De maneiras misteriosas? ― Ah, Julia, fala sério! Você não está se interessando pelo seu professor, não é? ― diz ela, ficando séria. Eu fico em silêncio, refletindo um pouco. Eu não estou interessada nele. Apenas o admiro muito, como profissional e como pessoa também. ― É claro que não. Imagina. Se bem que não posso negar que quando o vi pela primeira vez, achei que era o homem mais bonito que eu já havia visto em minha vida. E na segunda vez que o vi, eu tive certeza disso. Além de ser incrivelmente atraente, simpático, gente boa, divertido... ― Eu acho que já deu para entender, Júlia. Você não está interessada nele. ― Não, não estou... ― Você está CAIDINHA por ele! ― ela me interrompe. Eu fico chocada com o quão bem minha amiga me conhece. ― d***a! Será? ― pergunto, sentindo que perdi a batalha. ― Para mim não restam dúvidas. Mas, cuidado amiga: Ele é o seu professor, tome cuidado para não misturar as coisas. E tem mais: Não fique alimentando falsas fantasias, porque pelo o que você disse, ele é extremamente profissional e focado no trabalho e carreira. Só não quero que você se machuque de novo. É por esse motivo que Helen é minha melhor amiga, ela não só me conhece muito bem, como também cuida de mim. Foi ela quem me consolou quando aquele cretino do Ryan me traiu com a amiga de infância dele. Eu ainda o odeio por isso. Ryan foi o último namoro sério que eu tive, egocêntrico e mimado sugou quase toda a minha energia, até eu me dar conta de que estava em um relacionamento abusivo. b****a! Espero nunca vê-lo novamente. ― Eu sei, amiga. Não se preocupe, eu vou ter cuidado com os meus sentimentos. Até mesmo porque, eu não pretendo me relacionar com o meu professor. Não seria nada ético. ― digo, afagando a mão dela sobre a mesa. De repente, sua expressão muda e eu sigo o seu olhar em direção a porta de entrada. ― Esse aí não morre mais. ― diz ela, baixinho enquanto nosso chefe entra na sala. ― Bom dia, senhoritas. ― cumprimenta ele, de cara fechada. ― Bom dia, chefe. ― cumprimentamos em uníssono. ― Júlia, na minha sala em cinco minutos. ― diz ele, sem olhar pra mim. ― É claro, chefe. ― respondo, trocando um breve olhar com minha amiga. "Lá vem", nosso olhar diz em silêncio. " O que será que eu fiz dessa vez?" penso. Tomara que nada, já fui repreendida algumas vezes, mas não muitas. Mas nunca é legal receber uma bronca do chefe. Me levanto e caminho em direção a sala dele. ― Com licença, Chefe. O senhor deseja falar comigo? ― Bato levemente na porta antes de entrar. ― Sim, por favor entre. ― diz ele, sem levantar o olhar dos papéis em sua mesa. ― Sente-se. ― Te chamei aqui, porque estou pensando em tornar nossa editora um pouco mais digital. Temos uma página no f*******:, mas nunca é atualizada com frequência. Eu estava pensando em expandir nossos contatos nas mídias sociais, até hoje estamos fora do Twitter e do i********:. ― E como eu posso ajudar? ― Você quer ser efetivada, não quer? ― ele pergunta, me estudando. ― É claro que sim, chefe. É o sonho de todo estagiário. ― Não quero saber dos sonhos de "todos" os estagiários. Quero saber dos seus. Então, pergunto novamente: Você quer ser efetivada? ― pergunta ele, categórico. ― É tudo o que eu mais quero. ― Ótimo. Então, tenho uma proposta para te fazer. ― Estou ouvindo. ― Você aceita assumir a direção de nossas redes sociais? Isso inclui, é claro, a criação delas, já que possuímos somente o f*******: e também a administração e postagens de conteúdos referentes a nossa editora. Então, o que me diz? ― Uau! Isso é uma grande responsabilidade. ― respondo um pouco confusa. ― É sim, Júlia. Gosto muito do trabalho que você desempenha aqui. Você é muito competente. Pensei em você de imediato, porque percebo que você se dá bem com as redes sociais e possui um bom engajamento no i********:. Sua imagem pode contribuir para ampliar a da editora. ― Obrigada, chefe. Eu só estou um pouco em dúvida em relação aos meus outros afazeres. Irei continuar realizando a revisão dos manuscritos? ― Não, você assumirá total responsabilidade sobre nossas mídias sociais. Irei contratar uma nova estagiária para realizar seu antigo trabalho. E é claro, com a efetivação também vem um bom aumento de salário. "Agora ele tocou no meu ponto fraco". Gerenciar mídias sociais não era o sonho da minha vida, eu gosto de revisar os manuscritos, descobrir novas histórias e novos talentos. Porém, esse aumento de salário iria me ajudar e muito. ― Então, o que me diz? Vai aceitar minha oferta? ― diz ele, me encarando nos olhos. ― Sim, eu aceito, e me sinto muito honrada por me escolher para este cargo. Eu agradeço imensamente. m*l posso esperar para começar.
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