Antes de me casar…

2692 Words
- Ficou louca? Não está falando sério. Está?- Perguntou Betina, boquiaberta. A garota estava sentada na cama de Layla, bem acomodada ao lado de Rebecca. Ao ouvir a notícia de que, mesmo com o casamento marcado com um egípcio vinte anos mais velho, Layla havia combinado encontros amorosos com o jovem médico, amigo do irmão mais velho de Hugo, que estava na casa do mesmo, no dia do jogo de verdade ou desafio, Betina quase teve uma síncope. - Eu achei digno de um livro de romance. Já pensou? Um amor proibido, que no final, consegue vencer as adversidades e ficarem juntos.- Rebecca suspirou, levando uma das mãos ao peito.- Vocês podem fugir juntos. Já imaginou? Ele já tem condições de se casar com você. Daí, você vai poder ficar com alguém que realmente…- - Rebecca, por favor. Chega de sandices.- Betina franziu o cenho ao encarar Rebecca. Achou um tanto piegas o discurso da amiga. Layla, que até então estava quieta, ouvindo os comentários das outras, viu naquele momento a sua oportunidade de falar. - Não pretendo fugir com o Breno ou cometer nenhuma loucura que vocês já viram em novelas, ou sei lá o que. Eu só quero aproveitar esses dias na companhia dele, antes de me casar. Quero saber como é me apaixonar e viver a vida de uma mulher comum.- - Está usando o Breno como sua despedida de solteira?- Rebecca arqueou uma das sobrancelhas, não aprovando a atitude de sua amiga. - Não, Becca. Eu estou completamente apaixonada pelo Breno. Eu quero ter a oportunidade de viver um amor de verdade, nem que seja por alguns dias. Quer saber? Amanhã eu vou na feira de livros, e no domingo vamos passear de barco e andar pela cidade.- Disse Layla, com entusiasmo. - É mesmo? E como pensa em convencer o seu pai? Ele não te deixa colocar os pés do outro lado da rua sem o Hakim.- Lembrou Betina, irritada com a imprudência de Layla. - Na feira de livros, não vou precisar nem me esforçar. O “ baba” sabe que eu amo ler. É claro que já deve imaginar que eu queira ir no evento.- Layla mordeu os próprios lábios, um pouco desconcertada ao pedir aquele favor.- Mas no domingo, precisarei de vocês.- Betina deixou escapar um gemido de frustração, jogando o corpo para trás, caindo por cima dos travesseiros. Gostaria muito que Layla não fosse obrigada a casar. Queria sua amiga feliz, mas aquela situação estava se tornando cada vez mais complicada. No final das contas, aquele redemoinho iria aumentar o bastante, ao ponto de prender a todos. Breno não ficaria nada satisfeito ao descobrir que Layla mentiu para ele por todo esse tempo. - Sabe que essa história tem tudo para terminar em tragédia, não é? Acho melhor conversar com os seus pais e falar que não está pronta para assumir um matrimônio.- Sugeriu Betina. - Pois eu aceito te ajudar. Sei que não é tão simples como a Betina faz parecer ser.- Rebecca fuzilou com os olhos a garota que estava ao seu lado, antes de se voltar para Layla.- Quero que tenha a oportunidade de experimentar o amor verdadeiro.- Layla deu gritinhos de alegria, se jogando em cima de Rebecca para abraçá-la. As duas caíram por cima do colchão na comemoração efusiva. Betina continuou quieta no lugar, refletindo. Talvez não se perdoaria nunca se Layla tivesse que sofrer uma série de consequências por conta de suas mentiras e desobediências. Mas talvez, seria ainda pior se a garota se transformasse em alguém amargurada, por nunca ter conhecido o que era o amor. Layla estava apaixonada por Breno, e ela precisava apoiar sua amiga. - Tudo bem, também vou ajudar, mesmo com medo por sua própria segurança. Mas se isso vai te fazer feliz, conte comigo.- Betina apoiou sua mão por cima da mão de Layla, que estava apoiada em sua própria coxa. As duas garotas, sentadas no outro lado da cama - Layla no colo de Rebecca-, puxaram, juntas, Betina para a direção delas. As três amigas caíram novamente por cima do colchão, todas gargalhando com o emaranhado de pernas que ficaram para o alto. Batidas na porta do quarto de Layla a fizeram saltar da cama, assustada. Temia que alguém ouvisse o que estava conversando com as meninas. Ela correu para atender a pessoa que estava do outro lado, ficando ainda mais tensa ao se deparar com seu “ baba”. Como de costume, o homem estava sisudo, com a expressão séria. - “ Baba”? Algum problema?- - Não. Vejo que está com suas amigas.- Ali espiou por cima dos ombros de Layla. Sempre gostava de verificar o que a garota fazia com suas amigas.- Apenas vim te informar que dentro de uma semana estaremos indo ao Marrocos. Quero que o Samuel conheça toda a nossa família, antes do dia do casamento.- Layla não evitou engolir em seco, angustiada. Sempre que ouvia alguém de sua família mencionar sobre o casamento, seu corpo era tomado por arrepios estranhos. A cada dia que passava, Layla se encontrava cada vez mais próxima de se tornar uma mártir. - Não podia esperar as meninas irem para me dar essa notícia catastrófica?- - Acho melhor começar a enxergar o seu casamento de outra maneira, Layla. Terá que lidar com isso para o resto de sua vida. Bom, arranje uma forma de suas amigas irem, temos muito o que conversar.- Ali fez menção de ir embora, quando Layla o chamou. Pretendia deixar para conversar com o mais velho depois, mas não estava se aguentando de ansiedade. - “ Baba”. Será que o senhor me permite ir na feira de livros amanhã? Estou tão empolgada para comprar livros novos. Será um evento incrível.- - Com quem pretende ir?- Perguntou, desconfiado. - Com o Hakim. Não pretendo demorar muito, só quero comprar alguns livros, daí nem convidei ninguém para me acompanhar. Bom, não sei se as meninas pretendem ir, ainda estão decidindo.- - Tudo bem, vou abrir uma exceção só dessa vez. Apenas porque se trata de livros, e acho muito importante uma mulher ser bem instruída.- Layla mordeu os lábios, extasiada. Mal via a hora de contar para Breno que tudo estava certo para o encontro deles. - Mas o Khalil também vai com você.- Disse o homem, novamente. Na mesma hora, o sorriso largo de Layla se transformou em uma curva para baixo, estava decepcionada. - O Khalil? Por que o Khalil? Ele nem gosta tanto assim de ler.- Protestou Layla. - Tenho certeza que não vai se opor ao meu pedido. Confio no Hakim, mas acho que dois olhos te observando funcionará melhor. Ou é isso, ou fica em casa.- - Eu aceito.- Respondeu Layla, rapidamente. Não queria que seu pai mudasse de ideia. Não queria perder a oportunidade de poder passar mais tempo com Breno. Saberia disfarçar bem. Nem Khalil nem Hakim perceberiam que existia algum interesse a mais. De repente, uma ideia inovadora veio à mente de Layla, assim que a garota fechou a porta. Ela olhou para as amigas, com uma cara de quem aprontava. - O que foi? O que o seu pai te disse?- Perguntou Betina. - Nada relevante. Apenas que em uma semana vou ter que ir para o Marrocos por conta do casamento. Claro, não vou poder demorar por causa das aulas. Enfim, não é nisso que estou pensando.- Respondeu Layla, novamente aproximando-se das meninas. - E no que está pensando?- Perguntou Rebecca. Prontamente Layla fitou a amiga que recém perguntou. - Preciso que distraia o Khalil enquanto eu converso com o Breno.- Disse Layla, em tom de súplica. - Eu?- Rebecca arqueou uma das sobrancelhas.- Por que eu? Sequer simpatizo com ele.- - Ah, por favor. Você sabe manter uma boa conversa, sabe ser convincente… Tenho certeza que depois de amanhã, meu irmão e você se tornarão bons amigos.- … Layla já não aguentava mais contar os minutos para que chegasse logo o dia do evento. Pela manhã, seguiu sua rotina normal. Foi para a faculdade, estudou na biblioteca com as amigas, mas naquele dia não encontrou com Breno. Acharam melhor fazer daquela forma para não levantarem suspeitas. Passou todo o dia efusiva, ansiosa. Até precisou de ajuda para escolher sua roupa. Optou por um vestido simples, p.r.e.t.o, com mangas caídas pelos ombros. Não podia mostrar muito o corpo, sem causar um escândalo na família. Ao menos, a peça lhe caiu bem, valorizando suas curvas exuberantes. Layla perdeu as contas do número de vezes que se olhou no grande espelho que ficava de frente para a sua penteadeira. Mordeu os lábios ao perceber que atingiu o resultado esperado. Chegou na feira justamente no horário mercado, e tentou não ser tão óbvia ao varrer o ambiente com os olhos. Logo atrás dela estava Hakim, o guarda-costas, e ao seu lado, estava Khalil, seu irmão mais velho, que não parecia nada contente ao estar ali. - Quem está procurando?- Perguntou Khalil, intrigado, apertando os olhos ao falar com ela. - A Rebecca. Ela disse que viria.- Layla ainda olhava para a frente, acenando na direção de Rebeca ao vê-la de frente para uma das muitas prateleiras. Khalil não resistiu á vontade de revirar os olhos, Rebecca não era uma de suas companhias favoritas. Achava que a garota falava demais, era opiniosa demais, e irritante demais. Ele bufou pouco antes dela chegar. - Acabei de chegar. Que bom que chegamos na mesma hora.- Disse Rebecca a Layla, forçando um sorriso ao desviar o olhar para Khalil. - Não é? Mal sei para onde olhar, são tantas opções.- Falou Layla, entusiasmada. Rebecca ergueu um sorriso malicioso com o canto da boca. A verdade, é que ela sabia muito bem para onde sua amiga preferiria estar olhando. - Fique a vontade, está em seu habitat natural.- Comentou Khalil, sem o mínimo de empolgação. Layla seguiu as instruções de seu irmão, caminhando na direção das mesas. Inspecionou cada um dos livros, estava com uma ideia em mente, e queria exercê-la ainda naquela noite. Rebecca observou Layla se afastar sorrateiramente, com cautela para não chamar a atenção. Voltou-se para Khalil, que não só estava em silêncio, como também a olhava com desconfiança. Os dois nunca se deram muito bem, para falar com franqueza. - Vejo que já comprou algo. Mulheres e suas manias por compras.- Ele bufou, assim que analisou a sacola que ela levava nas mãos, deixando Rebecca não só irritada pelo comentário, como também pela forma desdenhosa com a qual chasqueou os lábios. - Livros não são apenas “ algo”. Você adquire conhecimento, cultura. Está investindo em si mesmo, na sua capacidade intelectual.- - Me poupe do discurso.- Ele a interrompeu, já ouviu Layla repetir algo parecido diversas vezes.- Por que não vai dar uma volta? Olhe mais livros para gastar todo o dinheiro do seu pai com eles.- As bochechas de Rebecca ficaram vermelhas de raiva. Ela queria dizer todos os palavrões do mundo dos quais conhecia. Queria arrancar a língua de Khalil fora, e também queria trucidá-lo, mas tinha uma missão especial naquela noite. Precisava ajudar sua melhor amiga com o encontro amoroso dela, e para isso, tinha que distrair o cerberos do irmão mais velho dela. - Por que me trata assim? Nunca te fiz nada.- Rebecca o encarou diretamente nos olhos. A cor dourada dos glóbulos oculares escurecendo um pouco. Se tinha um truque que ela conhecia bem, era o de fazer um pouco de drama. Khalil engoliu em seco ao perceber que a garota havia ficado sinceramente magoada. Ou talvez, ela só estivesse querendo fazer troça dele, como gostava de fazer com todo mundo. - Ah, não se faça de coitada. Você é uma pentelha, só sabe irritar todo mundo. Como espera que eu te trate diferente? Não sei porque está se esforçando em conversar comigo.- - Você me acha tão desinteressante assim?- Perguntou a garota, franzindo o cenho com seriedade. Khalil mordeu os lábios discretamente ao analisá-la, até que Rebecca não era de se jogar fora. Seu rosto era harmônico: belos olhos dourados que ganhavam um tom esverdeado no sol. Cabelos loiros, um nariz pequeno, e boca perfeita para beijar. Tinha pernas bonitas, torneadas, e um traseiro avantajado. Suas curvas eram bem desenhadas, e provavelmente ele a levaria facilmente para a cama, se não fosse essa personalidade insuportável. Khalil não estava acostumado com mulheres que questionavam demais, ou que rebatiam demais, e Rebecca unia os dois adjetivos, o que o tirava do sério. - Desinteressante não é bem a palavra correta.- Constatou o homem. - Será que podemos conversar em particular? Tenho algo muito importante para te dizer.- - Você? Algo importante para falar comigo?- Khalil estreitou os olhos, cada vez mais desconfiado. - Vem.- Sem dar a oportunidade do rapaz responder, Rebecca o agarrou por uma das mãos e o conduziu para longe dali. Eles desviaram da multidão, Layla, de longe, assistindo os dois se afastarem. Suspirou, aliviada, agora seria mais fácil encontrar Breno sem ter os olhos espertos de Khalil a vigiando. Ela segurou o livro que tinha escolhido, virando-se repentinamente para trás, no intuito de procurar o rapaz do qual combinou encontrar. Para a sua surpresa, ele estava a poucos metros de distância, logo em suas costas. - Breno?- Perguntou, surpresa. - Estava me perguntando quanto tempo demoraria para virar.- O homem se aproximou, segurando dois volumes nas mãos. - Estava te procurando.- Ela enrugou a testa, intrigada.- Há quanto tempo está aí?- - O suficiente para ver que a Rebecca levou o seu irmão para longe.- Ao terminar de falar, ele esticou um dos livros na direção de Layla, que prontamente o segurou. - Comprei esse para você. Está com a minha dedicatória na primeira página, para que se lembre de mim.- O rapaz manteve o contato visual ao falar, por um momento, quase se perdeu nos dois lagos escuros dos olhos de Layla.- Esse daqui comprei para mim.- Breno ergueu o outro volume que estava em sua mão. - São os mesmos livros.- Constatou Layla, surpresa. Já havia entendido o ponto que Breno queria chegar. - Para lermos juntos. Assim, teremos mais uma coisa em comum. Tenho certeza que vai gostar. Se trata de um amor proibido que aconteceu na época da segunda guerra mundial, entre um alemão e uma judia.- - Espero que não tenha um final trágico.- Comentou Layla, sentindo o coração bater mais forte quando Breno mencionou o “ amor proibido” entre os protagonistas.- - Vamos descobrir juntos.- - Estou feliz que tenha tido uma ideia semelhante a minha. Também escolhi um livro para te presentear, mas ainda não tinha colocado a dedicatória.- Layla pousou o objeto na mesa, abrindo a primeira página, e segurando a caneta que estava ali. Ela escreveu seu nome e sobrenome na capa dura, exatamente como Breno fez, o entregando em seguida.- Agora você também pode pensar em mim ao ler. Bom, eu confesso que já tenho esse livro e conheço o final. Mas gostaria que tivesse algo que fizesse com que você lembrasse de mim.- - O diário de viagem de Colin MacGyver.- Falou Breno, lendo o título. - É a visão de um inglês sobre todos os países que já visitou. Ele fala sobre os amores que teve em cada viagem, sobre a cultura dos lugares… É realmente muito interessante.- Explicou Layla, com breve palavras. - Será o meu novo livro de cabeceira.- Falou o rapaz, erguendo a boca em um sorriso largo.- O que acha de darmos mais uma volta? Aposto que ainda não conseguiu ver todas as mesas, porque eu mesmo estou aqui há mais de meia hora, e sequer tive a chance.- - Acho que deveríamos fazer isso juntos. Ainda tem muito o que quero olhar.- Layla mordeu os lábios, fitando Hakim por cima do ombro de Breno. O homem a vigiava como um cão de guarda. - O seu guarda-costas está querendo me devorar?- Brincou Breno. - Está apenas de olho. Mas não tem importância, não estamos fazendo nada demais.- - Não, não estamos.- Confirmou o homem, sem conseguir deixar de olhá-la. Mal via a hora de poder beijá-la novamente.
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