Emily
Nunca me senti tão m*u em toda minha vida, mas o sentimento de ter um coração batendo e esse coração ser partido... Sendo sincera, é algo que não desejo nem para o meu pior inimigo. Com lágrimas nos olhos deixei Aiden naquele apartamento, e agora estou nos braços do Mason correndo por uma floresta com ele repetindo várias vezes que pelo Aiden, eu tenho que viver. Eu ainda tenho esperança de que ele não morrerá, e isso é o que eu mais desejo, pois sei que poderei olhar para aqueles olhos azuis outra vez.
- Aqui, trouxe umas roupas para você... Emily por favor, faz o que ele te pediu!
- Seria o nosso adeus Mason? - Pergunto ainda me recuperando do ocorrido na minha antiga casa.
- Acho que sim branquela. - Ele fala sorridente, porém com lágrimas nos olhos. - Eu farei o que puder para tirar o Aiden dessa encrenca, e logo vocês vão se reencontrar... - Sem deixá-lo terminar sua frase, pulo em cima dele para abraçá-lo, mas o mesmo me afasta, e some em meio a escuridão da floresta.
Como farei para sobreviver nesse mundo sozinha? Logo na minha primeira saída de casa me meti numa confusão dessas, e agora me encontro aqui... No meio do nada, sozinha, e vazia por dentro. De repente, ouço um gemido de dor vindo da minha direita, e não sei porque, mas o desespero toma conta de mim do nada. A noite a minha visão é um pouco mais aguçada, e ao levar meus olhos na direção do som; avisto um corpo de uma criança... Consigo ouvir seu coração acelerado, sua respiração ofegante, e vejo a gravidade de seus ferimentos, porém, sinto medo de ir até ela por pensar que isso pode ser uma armadilha.
- Sombra. - No momento em que meu corpo se transforma em uma fumaça; começo a vagar ao redor da pequena, para evitar que seja emboscada por alguém da igreja, mas se pensar direito; não haveria como alguém machucar uma menina e deixar ela aqui no meio dessa floresta escura. Não sei dizer ao certo quão longe estou da cidade; pois me lembro de ter apagado algumas vezes enquanto estava nos braços do Mason.
Olho ao redor e não vejo nada além da garotinha, mas ao um pequeno descuido dela, consigo ver que tem algo debaixo da sua perna que está ferida. Decido observá-la por alguns minutos, tento ler sua mente, mas falho várias vezes, e para uma criança ela não deveria ter tanta resistência; há não ser que fosse uma...
- Bruxa? - Ouço uma voz de uma senhora na minha cabeça, e meu corpo treme na base ao entender que, quem quer que seja essa mulher; ela está fora do meu patamar. - Por favor; desça aqui... Não tenha medo; eu não irei te machucar. - Dessa vez, ela fala olhando diretamente para mim.
Faço então o que ela me pede, e ao colocar os pés no chão; a vejo se transformar em uma linda mulher, porém com adereços um pouco... Extravagantes demais? Ao tomar sua forma verdadeira, reparo que ela tem um corpo exuberante... Atraente demais, com tatuagens estranhas por todo seu corpo; algumas cicatrizes, mas nada que atrapalhe sua beleza, porém, ela tem uma voz de velha... Enquanto babo pela mulher que está na minha frente; surge uma coisa que sai do pescoço dela e desce até seus pés na forma de um lindo vestido preto, com alguns detalhes desenhados em vermelho, já outros em branco; para completar com chave de ouro, tem uma f***a lateral. Quando sua roupa toma a forma que ela esperava, sua pele começa a se esbranquiçar, suas unhas crescem pintadas por um esmalte vermelho; seus olhos se tornam vermelhos como sangue fresco, mas esse vermelho é tomado por uma escuridão que faz com que os olhos dela brilhem bastante. Porém, mais uma vez tenho que ressaltar os adereços, porque vai de ossos e penas de corvo, há também uma coruja que está em seu braço esquerdo.
- E então pequena? Quem tu és? E o que faz neste solo sagrado?
- Meu nome é Emily... Estou perdida... - Falo entre pausas, pois algo me faz inferior a essa mulher de alguma forma, e eu não sei dizer o que é.
- Hum... Está com medo? - A voz dela me apavora, mas eu sei que esse medo não é real... - Minha pequena... Ainda não sabes o que é real!
- Para de ler a minha mente! - Grito e em seguida surgem vozes de muitas pessoas diferentes na minha cabeça. Poucos segundos após essas vozes pararem, vejo um sigilo mágico abaixo de mim, e a única coisa que consigo fazer é sair correndo, mas tomo um choque muito forte ao tocar na borda do que parece ser a minha mais nova prisão.
Meu corpo ficou dormente de uma hora para outra, mas para piorar mais ainda, o peso do meu corpo é levado ao chão e com isso, a minha visão se distorce muito rápido.
- Já que passaremos um tempo juntas; poderia me contar sobre teus poderes pequena Emily?
- Antes gostaria de saber o que está fazendo comigo... Porque... Porque estou tão fraca? - Pergunto me esforçando para manter a pouca força que me resta.
- Precaução... Devo dizer... Você interrompeu a minha hora da refeição, mas relaxe, estou de bom humor hoje... Até descobrir quem tu és; não deixarei que conte ao mundo da minha existência.
- Para quem... Para quem eu contaria se só conheço você? - Me esforço para manter a voz firme. Não consigo resistir a essa fraqueza que toma conta de mim, e fecho meus olhos em busca de um sono profundo... Será que isso tudo não é um sonho?
[...]
Aiden
70 Anos mais tarde...
Já passei tanto tempo aqui que ando pensando seriamente se preciso de um acompanhamento psicológico... Além de sonhos estranhos que não fazem nenhum sentido; agora estou vendo coisas... Tanto tempo numa cela te deixa paranoico, e eu tinha me esquecido disso... Meu corpo está se desidratando e a cada dia que passa; parece que meus ossos vão se quebrar com um único movimento. O Marcel não voltou para me executar, pois essa era a brilhante ideia dele... Me matar de fome.
A Emily não saiu da minha cabeça... Queria poder ter tido tempo o bastante para conhecê-la melhor; e talvez entender porque me liguei tanto nela daquela maneira... Já faz tanto tempo que provavelmente a vida lá fora deve ter mudado, e se algum dia eu sair daqui...
- A quanto tempo velho amigo. - A porta se abre, segundos após o meu pensamento de sair desse lugar, e o que acabo de escutar é a voz do Mason. - Caramba você tá horrível...
- Olá Mason... Muito obrigado, eu não sabia que estava tão m*u... - Rebato seco, e ele devolve um sorriso divertido para mim.
- Trouxe um presente pra você... - Fala jogando um humano nos meus pés. - Tranquilo, ele tá hipnotizado.
Não consegui nem se quer respondê-lo de tanta fome, e parti logo para o ataque. Sinto dor ao deixar minhas presas saírem, mas ao sentir o sangue fresco na minha boca, meu corpo começa a se recompor; trazendo de volta o vigor, a energia, e a minha força. Tiro a vida desse pobre ser tão rápido que não sacia a minha fome, mas graças a Lua, o Mason não me deixou na mão e trouxe mais dois que foram hipnotizados, sabe se lá por quem... O que para ser sincero não me importa... Só o que me importa agora é me recompor e sumir desse lugar.
- Nossa vai com calma, machucou tanto o pescoço que quase arrancou a cabeça dele. - A voz do Mason ecoa na minha cabeça, mas sentir que é apenas um cadáver sem vida que está sob minha posse, eu apenas o deixo cair no chão e continuo na terceira vítima.
Quebro as correntes, tanto dos meus braços, quanto do meu pescoço em um simples movimento, e as feridas se fecham rápido, graças a todo sangue fresco que acabei de ingerir. Depois da refeição calorosa que acabei de ter, tiro as roupas de um dos corpos, e ao me trocar, volto a olhar a cara do Mason que ainda está na cela.
- Você parece um outro homem... E eu nem estou rindo...
- Mason, meu olho só mudou de cor... - Falo enquanto faço uma negativa com a cabeça. - Vamos embora, essas roupas estão me apertando...
- Ah claro, vamos; tenho muita coisa para te contar.
Olhando pela janela do carro, eu não vi nada de diferente; pelo menos por aqui, a decoração tá mais sombria e... Azul... Mason não me disse nada demais, além de que apareceram lobisomens novos, e que foram eles que tomaram a direção dos humanos dessa parte da cidade... Ainda tenho mais perguntas, mas estou esperando chegar no meu apartamento, ou no que sobrou dele para que possamos conversar melhor.
- O que aconteceu com o Marcel? - Pergunto curioso.
- Dias depois da sua prisão, ele foi assassinado... - Não esperava receber essa resposta. - Nós pensamos que a família Silver foi responsável...
- Tolice; eles morreram aquele dia...
- Não, não morreram... Lisandra Silver ainda está viva, e ainda guarda um rancor enorme de você...
- Lisandra não é a mãe da Emily? - O interrompo, e ele assente sem tirar os olhos da estrada. - Então porque ela me salvaria da morte?
- Ninguém sabe, talvez ela queira suas desculpas, ou que você faça algo para cobrar todo dano que foi causado a ela... Estou investigando, assim que tiver uma resposta, eu contarei.
- Investigando? Virou detetive agora? - Brinco e ele assente me deixando com cara de i****a.
- As coisas mudaram Aiden; as caçadas não são mais tão requisitadas como antes, e nós estamos aprendendo a sobreviver hoje em dia.
- Então, o que você sugere que eu faça? Fiquei preso por 70 anos; não sei o que fazer agora... - Digo apreensivo. - Eu nem sei dizer o que aconteceu com a minha casa, e tudo que eu tinha.
Meus pensamentos caem sobre todos aqueles artefatos antigos que eu sofri para conseguir, e se aconteceu alguma coisa com eles, eu sei onde encontrar todos de volta. Com certeza o Marcel deve ter pego, mas como ele tá morto; a igreja deve ter tomado a posse deles. No meio daquelas coisas tinham vários livros de magia, e coisas de onde eu poderia retirar poder; para ser sincero, eu tinha um pouco de tudo para fazer pesquisas; por isso estou preocupado... Lá tem coisas que se caírem em mãos erradas, elas podem se tornar o meu pior pesadelo.
- Veremos isso quando chegar lá... Ao que me disseram; não mexeram em nada que era seu. Depois que te levaram apenas interditaram o andar inteiro.
- Entendo. O Marcel sempre foi exagerado... - Digo e o Mason esboça um sorriso divertido em seu rosto.
- Verdade rs rs rs.
Continuei o caminho em silêncio apenas observando meu rosto no espelho do retrovisor, e o Mason realmente não estava brincando mesmo; minha aparência mudou bastante. Meu olho esquerdo está azul, já o direito está vermelho sabe se lá porque... Meu rosto não tem mais cicatrizes, e está mais bem cuidado do que antes; agora, o que me chama atenção é essa barba bem feita que me deixou mais bonito. As cicatrizes sumiram apenas do rosto, mas do corpo ainda estão todas aqui, e falando sobre o corpo, parece que fiquei ainda maior do que já era.
- Nós chegamos. - O desmancha prazeres do Mason me tira dos meus pensamentos. Eu apenas assenti, e sai do carro logo atrás dele.
Dentro do prédio não mudou nada; quem ainda comanda aqui são os humanos, e ainda é frequentado por menos monstros. Pegamos o elevador, e eu comecei a lembrar daquele dia que vi Emily pela primeira vez... Onde será que ela está? Pensando nela, de repente me entristeço pensando que poderia estar com ela agora, e que mesmo sendo caçados pelo resto das nossas vidas, nós pelo menos tentaríamos ser felizes juntos.
Após pular por algumas faixas da polícia, chegamos ao meu antigo apartamento, e ao que parece, eles não mexeram mesmo em nada. Corro até meu quarto procurar por aquelas coisas, e graças a Lua está tudo aqui. Apenas pego roupas o bastante para encher uma mala, coloco todos os livros e as minhas pedrinhas mágicas dentro da mochila, para podermos ir embora.
- Tudo pronto? - Mason pergunta e eu assinto já indo na direção dele. - Então podemos ir...
- Vai me dizer como vai me ajudar? - Pergunto curioso.
- Como agora eu sou da polícia; gostaria de pedir a sua ajuda para pegar um criminoso barato...
- Me diga que não é um humano por favor. - Infelizmente ele assente, o que me deixa extremamente desapontado. - Você é a p***a de um lobisomem que não consegue pegar um humano Mason...
- Não é tão fácil quanto parece... Ele é sorrateiro, vive se escondendo para dificultar o nosso trabalho, além de saber todos os passos da polícia e como ela trabalha; por causa disso estamos com tanto problema para pegar esse sujeito.
- O nome. - Retruco seco, e já muito entediado.
- Jason Gibson. Ele é o dono da Alpha, onde você vai trabalhar.
- Que!? Você não disse nada de trabalhar pro seu criminoso procurado. - Digo e só o que o Mason faz, é rir da minha cara. - Qual é a graça i****a!?
- Sua cara foi engraçada... Só dizendo que se aceitar, poderá fazer o que quiser com ele, e todos os humanos que estão naquela empresa.
- Como esse cara é dono de uma empresa, e ainda é procurado? Mason que p***a aconteceu com você durante esses anos!? - O questiono novamente.
- É claro que ele deixa pessoal cuidado de tudo para ele Aiden! O que eu quero que você faça, é se infiltrar lá e descobrir onde ele está.
- Que seja! - Saio do carro antes que ele continue me enrolando, e ando até o prédio que agora, segundo o Mason, é minha nova casa.
Entediado, e aborrecido até com a minha sombra; subo até o meu andar, onde sem querer acabo me esbarrando em uma mulher que estava vindo de encontro comigo.
- Me perdoe, eu não estava prestando atenção. - Ela assente sem responder nada, e chega a se assustar quando percebe que seu namorado; marido, ou sei lá o que é, está vindo atrás dela.
Do nada me veio a mente de como a Alanna estava lá, viva e do lado da igreja pra me parar... E o que eu mais achei estranho, foi ver a Alanna junto de um monstro, sendo que era o que ela mais odiava; nem sei dizer como ela aguentava ficar do meu lado... Será que eu era a exceção a regra? É uma ótima pergunta, que também não tem nenhuma resposta. Para ser sincero, ainda tenho perguntas demais e agora com essa direção nova da igreja, eu nem sei o que esperar, nem o que vou encontrar; que seja o que a Lua me mandar.