ISOBEL
Eu sei que não deveria me deixar afetar com algo tão simples quanto o status em uma rede social, mas ainda assim sinto um aperto no peito quando abro o f*******: e percebo que Guilherme não está mais em um relacionamento sério comigo, mas sim com a tal Eduarda.
Sabe o mais surpreendente? Ele deu uma aliança para ela. Está aqui, na tela do meu notebook ultrapassado, a foto com um
belo filtro que mostra a mão dela com longas unhas pretas e a dele tão maior ao lado. Eu nunca vou ter unhas compridas desse jeito porque tenho o péssimo hábito de roê-las e pelo visto três anos de namoro não foi o suficiente para eu ser digna de uma aliança.
Já faz mais de uma semana e ainda assim me sinto humilhada, ainda mais agora que estou encarando a foto deles e percebendo que terão um filho juntos.
Tudo o que eu sonhei para nós, ele está realizando com outra. E tudo bem, Diego tem sido bem legal comigo e todos os dias meio que conversamos através de nossas sacadas e ele parece realmente se preocupar comigo, mas nem uma amizade inesperada consegue apagar um relacionamento que te quebra.
Meu vizinho fica me chamando para fazer aquela sessão de fotos, dizendo que irá aumentar minha autoestima, mas não sinto vontade.
Ultimamente só tenho forças para trabalhar com as entregas dos meus
produtos e em mentir para minha família. Tenho que me esforçar muito para fingir que está tudo bem e que simplesmente desisti de ter um futuro com Guilherme. Não quero que meus pais se preocupem comigo e pensem que não estou dando conta de viver na cidade grande sozinha. Afasto as lágrimas com as pontas dos dedos e fecho o f*******:, voltando a me concentrar nas planilhas e vendo, com uma pontinha de felicidade, que meu negócio está crescendo e que em breve terei que repor o rímel da blogueira Ariela Ferrari, famosa por suas maquiagens maravilhosas.
Meu negócio estar fazendo sucesso vai de encontro a acusação de Guilherme de que eu sou uma fracassada e tudo o que ele me falou foram coisas absurdas e que só me magoaram. Eu preciso esquecê-lo. Já repeti isso inúmeras vezes nos últimos dez dias e vou continuar, até que nada sobre ele
me afete.
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Faço algumas entregas e então fico sentada no sofá da minha sala, olhando para a TV e com Dondoca em meu colo, me sentindo tão solitária que chega a ser meio ridículo.
Minhas noites de quarta-feira sempre foram de Guilherme.Ficávamos juntos e ele pedia massagem nos pés e resmungava até que eu o deixasse escolher o filme, mas ainda assim era uma companhia e acho que nunca me senti tão sozinha quanto hoje, ainda mais porque Pamela foi para os jogos abertos na cidade vizinha encontrar o Paulão.
Decidida a seguir com meu plano anterior, começo a procurar todas as fotos que eu tenho com o desgraçado e colocá-las dentro da minha lixeira de inox. Quando todas as lembranças dos últimos anos estão dentro do
lixo, pego um litro de álcool na dispensa e despejo metade do conteúdo em cima das fotos, riscando o fósforo e o jogando dentro da lata.
Imediatamente tudo o que eu vivi com o cara que não foi capaz de me amar com a mesma intensidade que eu lhe dediquei começa a virar cinza e meu apartamento é tomado pelo cheiro de papel queimado, mas ainda assim não me importo.Recuso-me a chorar, minhas lágrimas finalmente secaram e esse é meu último ato de piedade. Já chorei tudo o que precisava por alguém que não merecia. Acredito que todos os relacionamentos precisam de um período
de luto, por mais tóxicos que tenham sido. Dez dias são mais do que o suficiente para começar a expurgar Guilherme de dentro de mim...
— Isobel? Isobel, está tudo bem? - m*l tenho tempo de processar os chamados de Diego antes da minha porta ser aberta com um chute e bater de forma ruidosa na parede. Ele
corre pela minha sala segurando um extintor de incêndio nos braços e me puxa para trás, extinguindo o fogo da minha lata de lixo em segundos. — Neném, você se machucou? -Ele se inclina para ficar com os olhos na mesma altura dos meus, me olhando com intensidade.
Mordo o lábio e então percebo que Diego não está usando nada além de uma calça de flanela caída nos quadris e que ele tem várias tatuagens espalhadas pelo corpo, sem falar que a barriga tem tantos gominhos que parece um monte de pãezinhos fofinhos empilhados.
— Isobel? Você aspirou muita fumaça? -As mãos dele passam para os meus ombros e eu sinto meu corpo todo esquentar. Engulo em seco e dou um passo para trás.
— Está tudo bem — afirmo com voz rouca. — Estava apenas queimando algumas fotos. Não precisava ter se preocupado. -Diego suspira, visivelmente aliviado, e então segura meu rosto entre suas mãos grandes e quentes.
— Você é maluca, garota. Quase me matou do coração quando eu percebi que o cheiro vinha daqui. Isso foi muito irresponsável, Isobel. O prédio todo poderia ter pegado fogo.
— Eu estava cuidando de tudo direitinho.- Diego bufa e eu acabo sorrindo de um jeito meio constrangido que o faz me olhar daquela sua forma sarcástica.
— Você é completamente doida, neném.- Começo a rir da forma como ele me chama e Diego me solta, pegando o extintor de incêndio e o colocando no lugar, ao lado do elevador.
Olho para a lixeira e vejo que a maioria das fotos foram queimadas e que apenas um está meio inteira. É uma minha e de Guilherme em
um parque de diversões. Eu estou segurando um urso e sorrindo toda feliz, enquanto ele parece achar tudo um saco. Brigamos porque ele não quis me dar o urso e eu fui lá e o ganhei na pescaria. Engraçado como tudo o que eu queria passava a ser motivo de brigas.
— Esse paspalho nunca te mereceu, Isobel. -Olho para Diego e balanço a cabeça, concordando com o que ele diz. — Que tal você vir para o meu apartamento até o cheiro de queimado do seu sair e a gente comer uma pizza?
— Pode ser. Posso levar a Dondoca?
— Desde que ela não destrua nada muito importante. Pego Dondoca e então sigo o vizinho para o apartamento ao lado, não me sentindo mais solitária.
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Estar com Diego é divertido. Descobrimos gostar dos mesmo sabores de pizza, calabresa e Califórnia, e ele tem sempre uma história legal para contar das inúmeras viagens que fez ao redor do mundo e principalmente, ele me ouve sem desdenhar das coisas que eu conto sobre a minha vida na área rural e das coisas que eu fazia com meu irmão e primos para me divertir, tipo pescar e descer um morro a toda velocidade em um carrinho de rolimã.
— Então você está me dizendo que era terrível quando criança?— ele indaga quando eu pego o último pedaço de abacaxi da caixa de pizza.
— Eu tive uma infância bem feliz. Brinquei bastante e você?
— Fui uma criança de apartamento que tinha medo até de vagalumes. -Começo a rir de sua resposta e então bagunço seus cabelos como se ele fosse um menino, sentindo a maciez entre meus dedos e prendendo a
respiração quando ele segura meu pulso e beija a parte interna, despertando terminações nervosas que eu nem sabia que existia nesta parte do meu corpo.
— Não deixe que nenhum b****a a faça ter vergonha da própria história, doce Isobel.- Prendo a respiração. Queria poder justificar as doces palavras do meu vizinho e dizer que estamos bêbados, mas a verdade é que tem apenas coca-cola em nossos copos e a forma como meu corpo reage aos toques
inocentes dele não tem desculpas.
— Não vou mais deixar. Talvez eu não encontre mais ninguém que me queira mesmo. -Falar com Diego é tão fácil que eu perco o receio e também o filtro entre meu cérebro e boca e exponho um dos meus medos mais secretos, aquele que fica maior do que eu em época de TPM e quando eu vejo
comédias românticas com finais excessivamente felizes.
— Ser traído dói, neném, mas acho que se fechar para o amor é ainda pior. Eu ganhei um par de chifres, fiquei receoso, mas nunca fechei porta alguma da minha vida. -Mordo o lábio, percebendo que ele entendeu completamente errado minha justificativa.
— Não acho que seja pela traição que irei ficar sozinha, mas pelo fato de não ser...
— Não ouse terminar a frase. Você é linda, encantadora, gentil e fará qualquer homem que a mereça feliz, mesmo que tenha um filhote de leão a tiracolo. -Ele lança um olhar para Dondoca, dormindo embaixo da mesa e
fazendo o chinelo dele de refém. Ela já mastigou toda tira direita e agora está
dormindo. Tentei educar minha b******a, mas ela esperou a gente se distrair
para atacar.
— Você está sendo muto gentil e isso pode acabar com a sua reputação de homem m*l-humorado. -Diego sorri diante das minhas palavras e, p**a m***a, ele fica
ainda mais bonito sorrindo. Sua barba por fazer e o cabelo bem cortado são
um chamariz e tanto, mas são seus olhos escuros que me instigam, como se ele tivesse muitos segredos e eu todo o tempo do mundo para desvendá-los. Ele ainda está sorrindo quando se aproxima um pouco mais,
fazendo eu olhar para as tatuagens distribuídas por sua pele bronzeada.
Minha pulsação acelera quando ele desliza o polegar por minha bochecha, me
obrigando a olhar para o seu rosto, tão próximo do meu.
— Você parece tão inocente. -As palavras são ditas em um tom rouco e sexy e eu penso em
contestar e dizer que não sou mais virgem, porém perco toda a linha de raciocínio quando os lábios dele pairam a centímetros dos meus.
— Eu posso beijar você? -Arregalo os olhos. Jamais imaginei que um homem pediria
permissão para beijar uma mulher. Meu primeiro beijo com Guilherme foi roubado e eu nunca beijei outro homem além dele.
Quanto tempo faz que não sou beijada de verdade? Sempre quis experimentar aqueles tipos de beijos que parecem deixar as pessoas sem ar e s*******o do mundo ao redor, mas nunca consegui sentir nada assim. Com Guilherme foram apenas selinhos depois dos primeiros meses de namoro.
— Pode. -Eu digo isso baixinho e Diego olha em meus olhos, querendo ter certeza do que eu disse. Balanço a cabeça e ele sorri e então se aproxima, fazendo meu coração acelerar em expectativa.