Sem rumo

1781 Words
Carol Atualmente. Minha amiga Bárbara e eu caminhamos através da chuva fina que caía no estacionamento mal coberto e bem mal iluminado com duas ou três lâmpadas queimadas do supermercado, com nossas jaquetas protegendo nossas cabeças. Entramos no carro, e a chuva se intensificou e com ela veio um forte vento, fazendo as janelas do carro balançarem. Bárbara e eu esperamos o tempo se acalmar, até podemos voltar para a casa dirigindo em segurança. Eu dividia um pequeno apartamento com minha melhor amiga no centro de Curitiba há cerca de quatro anos. Eu nasci e cresci em uma cidade do interior, Bárbara e eu nos conhecemos na faculdade, quando eu fazia Publicidade e ela Arquitetura, então decidimos morar juntas para reduzir um pouco os gastos, visto que nossos pais só nos enviavam o dinheiro referente ao valor da mensalidade da faculdade e nada mais, o resto nós precisávamos trabalhar para bancar, como água, luz, internet e comida. Desde o ano passado, Bárbara se mudou e foi morar com o namorado, e o meu veio morar comigo. Samuel e eu estamos há quase dois anos juntos, nos conhecemos em uma festa organizada pelo meu curso na faculdade. Apesar de namorarmos a pouco tempo, sinto que ele é o cara certo, o homem da minha vida. Ele está comigo sempre em todos os momentos, nos bons e nos ruins, e eu também estou sempre com ele. Somos bons juntos, combinamos em tudo, ele é lindo e adora esportes, eu adoro vê-lo malhar e sorrir para mim enquanto faz isso. Quando a chuva finalmente acalmou, liguei o carro e dirigi para casa. Bárbara já tinha ligado para o namorado buscá-la no meu apartamento quando chegássemos, depois de um dia inteiro enfunadas dentro de um supermercado lotado de gente, iríamos cair na cama, exaustas, ou cair nos braços dos nossos amados, tanto faz, não tem diferença. Chegamos e eu estacionei o carro na garagem, Bárbara não quis subir, preferiu esperar pelo namorado ali mesmo, pois nunca foi muito com a cara do Samuel, eu não entendia o porquê, porém nunca forcei nenhuma interação entre os dois. Nossas roupas agora já estavam quase secas, as jaquetas sobre nossas cabeças tinham nos protegido um pouco. ― Não quer mesmo subir e esperar lá em cima? - perguntei a minha amiga. ― Não, Carol. O Luan já está vindo, não se preocupe comigo. Tenha uma boa noite - disse, me abraçando - E descanse. ― Você também. Me ligue quando chegar, ok? - pedi. ― Eu ligo sim. Dei um último abraço em minha amiga e subi utilizando o elevador, o meu apartamento ficava no quarto andar, então logo eu estava em pé em frente a minha porta. Coloquei a chave na fechadura e girei, tudo estava silencioso quando entrei. No entanto, notei algumas peças de roupas espalhadas no corredor que levava ao nosso quarto, quarto onde Samuel e eu dormíamos. Meu coração se acelerou na hora e pareceu estar batendo para fora do peito, quando identifiquei que aquelas peças eram roupas de mulher e não pertenciam a mim. Colei o ouvido à porta devagar, a fim de escutar algum som, mas tudo estava silencioso. Apoiei a mão na maçaneta e com o coração aos pulos, eu girei, a porta se abriu e para minha consternação, uma mulher dormia ao lado de Samuel, ela estava com a cabeça apoiada em seu peito, seus cabelos compridos encaracolados estavam esparramados pelo meu travesseiro, ela estava deitada no meu lado da cama, aconchegada no peito do amor da minha vida, ou que eu pensava ser o amor da minha vida. O meu mundo caiu, o chão se abriu sob os meus pés, mas eu me apoiei na maçaneta para não cair, me virei e sai correndo pela porta da frente que eu havia deixado aberta. Escutei passos vindo atrás de mim, o som dos meus pés enquanto eu corria deve ter despertado Samuel. Apertei o botão do elevador com desespero, ele chegou, eu entrei. Antes que a porta se fechasse por completo, vislumbrei o rosto de Samuel me encarando. Com todo o ódio que eu estava sentindo, fiz um gesto obsceno para ele e disse em voz alta: ― Vai se F*der! O elevador abriu na garagem, Bárbara já não estava mais ali, já tinha ido embora. Então, com os olhos ardendo com lágrimas de tristeza e raiva, eu entrei no meu carro e sai pela noite escura de Curitiba, dirigindo sem rumo. Como ele pôde ter coragem de fazer isso comigo? Eu abri a minha casa para ele, eu deixei que ele morasse e vivesse lá de graça, sem pagar nada, mesmo trabalhando. Eu nunca me importei por ele raramente contribuir com alguma despesa. Desgraçado! Com outra na minha casa, na minha cama, no meu lado de dormir. Filho da mãe, traidor! Eu estava com tanta raiva que comecei a socar o volante sem perceber, só me dei conta quando a buzina começou a soar em meus ouvidos, pois acabei apertando-a enquanto espancava o volante do carro. Depois de dirigir por aproximadamente 5 km, eu percebi o que estava fazendo: eu estava fugindo da MINHA casa, MINHA sim, eu saí e deixei a casa lá para os dois, o meu apartamento, o apartamento que eu pagava o aluguel. Isso não está certo, o que estou fazendo? Dei meia volta e tomei o caminho que me levava de volta para casa, eu iria expulsá-lo de lá e seria hoje mesmo. Entrei cantando pneu no estacionamento do prédio, saí do carro depressa e me esqueci de tirar a chave da ignição, voltei praguejando e peguei a chave. Entrei no elevador, pensando nos bons tapas que eu daria na vagabunda da amante do meu agora ex-namorado, isso, se ela ainda estiver lá. Saí feito fumaça do elevador e entrei em casa, a porta estava apenas encostada. Samuel se levantou num pulo quando me viu entrar pela porta, ele veio apressado até mim: ― Carol! Amor, onde você estava? Eu estava aqui morrendo de preocupação. - disse, tentando me tocar. ― Fique longe de mim, seu filho da puta! - disse, dando um empurrão nele. Samuel caiu sentado no sofá. ― O que deu em você?! Ficou louca? ― Fiquei! Louca eu estava quando confiei em você, quando achei que você fosse um homem sério, que você gostasse realmente de mim. Eu abri a minha vida pra você, deixei você morar aqui sem pagar nada. E como você me retribui? Me traindo, trazendo outra mulher para a minha casa, para a minha cama. - gritei. ― Que mulher, Carol? De quem você está falando? - ele se fez de desentendido. ― Pode parar, Samuel, você não vai fazer com que eu me torne a louca aqui, entendeu? Não vai. Eu vi muito bem, você e a mulher de cabelo cacheado deitados juntos na minha cama. Desgraçado! ― Você não viu direito, amor, não tinha mulher nenhuma aqui. Eu estava dormindo, acordei com os seus passos pela casa, então eu corri atrás de você. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. - quem visse de fora até poderia acreditar nesse teatro. ― Saia daqui agora! Saia da minha casa! - ordenei, com um dedo em direção a porta. ― O que?! Sair? E pra onde eu irei? Eu moro aqui. ― Pra onde você vai, não é da minha conta. Eu quero que você saia daqui agora, desapareça da minha frente, Samuel. Agora! ― Amor, vamos conversar, você não está raciocinando direito. ― Sai. daqui. - falei, com os dentes trincados. ― Carol. - disse, se aproximando novamente de mim. ― Agora! - o empurrei em direção a porta e a fechei na cara dele. Meus olhos queimavam com as lágrimas que escorriam de meus olhos. "Carol! Abre essa porta, por favor. Eu não tenho pra onde ir, estou só de shorts e mais nada. Vamos conversar, abre essa porta." ― Não seja por isso, vamos dar um jeito nisso agora mesmo. - falei. Fui até o quarto e tirei todas as suas roupas de dentro do armário, abri a janela e as joguei todas lá embaixo. Voltei para a sala e Samuel ainda gritava para que eu abrisse a porta para ele. "Carol!." ― Acho bom você correr e pegar suas roupas que eu joguei pela janela, Samuel, antes que alguém pegue. "Você fez o que?! Sua vadia, você me paga!" - e é assim que conhecemos uma pessoa de verdade. ― Foi você quem quis assim, Samuca. - falei, com ironia - Eu sou uma pessoa maravilhosa, é só não mexer comigo. ― Eu juro que você me paga, sua vagabunda! ― O ponteiro está girando, corre e vai pegar suas roupas e aproveite para nunca mais voltar aqui. - gritei, próxima à porta. Escutei quando o elevador abriu e fechou. Ele se foi e espero que nunca mais volte. Sozinha, agora eu não preciso mais sustentar a pose de mulher forte e decidida. Me deixei cair sobre o tapete no chão da sala, escorei minha cabeça no sofá e desabei. ... Quando acordei, não consegui me lembrar de como eu tinha ido parar na cama, somente que em algum momento durante a noite, quando as lágrimas secaram, eu devo ter ido cambaleando até o quarto de hóspedes, pois não conseguia nem pensar em me deitar na cama que estava impregnada com o cheiro de Samuel e de sua amante. Estiquei a mão sobre o outro lado da cama, me esquecendo de que agora, eu dormiria sozinha. As noites agora prometiam ser longas e os dias sem cor, mas pelo menos, eu não teria mais um par de chifres sobre minha cabeça. Observei meu peito subir e descer depressa só por me lembrar da noite anterior e do que aconteceu. Afastei os cobertores e me sentei na beirada da cama, meus pés roçaram o piso frio de madeira. Procurei pela luz do sol que deveria entrar pela janela, mas não enxerguei nada. Me levantei e parei por um momento, esperando a tontura por ter me levantado depressa demais, passar. Caminhei até o banheiro, o piso estava muito frio, eu deveria ter colocado meias. Acendi a luz e me olhei no espelho por alguns segundos, eu estava horrível. Meus olhos estavam fundos como covas, com olheiras abaixo deles. Usei o banheiro e voltei para a cama, no relógio em cima da mesa de cabeceira, marcavam 03h30min da manhã. Agora eu entendo porque não consegui enxergar a luz do sol através da janela, porque ainda é de madrugada. Me cobri novamente e me ajeitei na cama, tentando pegar no sono novamente. Depois do que pareceu ser muito tempo, meus olhos pesaram e eu adormeci.
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