Chris
Que dor de cabeça! m*l consigo abrir os olhos, pois minha cabeça parece que vai explodir se eu fizer o mínimo esforço. Depois de uma noite de farra, regada a bebidas caras e muito sexo casual, só me lembro de ter caido no sono com duas belas mulheres do meu lado. Com muito esforço, abro os olhos lentamente a tempo de vislumbrar seus corpos completamente nus um de cada lado. Elas ainda estão dormindo, mas eu não sei como essas mulheres vieram parar aqui, quer dizer, é claro que eu sei, nós viemos os três para cá, já super chapados e com várias garrafas de whisky debaixo do braço, e transamos como animais por todos os cantos desse quarto. Mas porque elas estão dormindo na minha cama? Eu nunca durmo com mulher nenhuma no meu quarto, ainda mais na minha cama. Minha cabeça está doendo pra c****e, só quero ficar sozinho na minha casa, quero minha privacidade de volta.
― Acordem! - chamei em voz alta - Acordem e vão embora.
Elas se mexem e abrem os olhos, uma delas sorri e vem para cima de mim, tentando me beijar. Eu a afasto.
― Já está na hora de irem, peguem suas coisas e deem o fora. - digo, levando elas para fora da cama. - Vistam- se e saiam.
― O que?! Mas nem vai nos convidar para tomar café com você? - diz uma delas, de cabelo ruivo, que nem sei o nome.
― Eu não tomo café com ninguém, meu bem, eu tomo café sozinho. Agora se puderem se apressar, eu agradeço. - disse, empurrando suas roupas para elas.
― Que grosseria! Depois de comer nós duas a noite inteira, é assim que você nos trata? - falou a outra, de cabelo preto.
Eu respirei fundo, antes de responder.
― Como você bem disse, o que eu tinha que fazer, eu já fiz. Agora sumam da minha frente, não quero ver vocês aqui. - disse, levando elas pelos braços para fora do quarto.
― Está nos machucando. - disse a ruiva.
― Só saiam logo. E batam a porta quando fizerem isso. - tranquei a porta do quarto e voltei a deitar.
Enfim, sozinho de novo. Sozinho sim, mas em paz nunca. O despertador começou a tocar do lado da cama, já era hora de levantar e ir para a empresa. Ô meu saco! Afastei as cobertas e muito a contragosto me levantei e tomei um banho. Enquanto me arrumava, eu refletia sobre o quanto estou cansado dessa casa enorme, eu sou sozinho, não preciso de uma casa tão grande assim, talvez seja melhor comprar uma menor, só para mim mesmo. Quem sabe em um bairro residencial, com vizinhos e crianças andando de bicicleta pela rua. Seria legal. Preciso amadurecer essa ideia.
Cheguei na agência e Fernando já veio ao meu encontro, ele não estava com a cara nada boa. Me pergunto o que deve ter acontecido dessa vez, ultimamente estamos tendo muitos problemas com funcionários faltosos.
- O que foi dessa vez, Fernando? - perguntei, antes dele ter oportunidade de falar.
- Eu tenho uma péssima notícia para você. Eu demiti a nossa diretora de criação.
Parei abruptamente para olhar para ele.
- E porque você faria isso?
- Descobri que ela estava vendendo nossas ideias para a concorrência.
- O que?! Como você descobriu isso?
- Eu a vi por acaso outro dia, ela conversando com o CEO da WZ em um café próximo daqui. Eu estava passando, então vi os dois pela janela, então decidi entrar e me camuflar em meio às pessoas para ouvir o que estavam falando, foi assim que descobri.
- Meu amigo, você é quase um agente do FBI. Parabéns por ter nos livrado dessa traíra. E onde ela está agora?
- Está na sala juntando seus pertences.
- Vou falar com ela agora. - disse, voltando a andar.
- Ô Chris, vê se não vai fazer barraco, hein?
- E eu lá sou homem de fazer barraco, Fernando?
Subi as escadas e fui em direção a sala da traidora. Ela estava jogando seus pertences dentro de uma caixa.
- Oi, chefe. - falou, sem olhar para mim.
- Ex- chefe. - a lembrei.
Ela engoliu em seco, mas não respondeu.
- Porque fez isso, Laís? Porque nos traiu? Porque traiu a empresa que te acolheu tão bem? Eu não entendo.
- Certas coisas não tem explicação, Christopher.
- Eu estou muito decepcionado com você. Espero que ele tenha uma vaga para você na agência dele.
- Como você teve coragem? Só me fala isso.
Ela dá de ombros, sem se importar em responder.
- Bom, espero que você se dê muito m*l, Laís. São os meus mais sinceros votos para você.
- Adeus, Christopher. - disse, saindo da sala com a caixa nas mãos.
Balancei a cabeça sem entender como uma pessoa pode fazer uma coisa dessas, eu nunca vou entender o ser humano. Olhando em volta agora nesta sala vazia, percebi que precisamos contratar uma nova diretora de criação o quanto antes, nossa empresa não pode ficar sem uma profissional tão importante.
- Bom dia, Camila. - cumprimentei minha secretária. - Diga ao Fernando que preciso dele na minha sala agora.
- Bom dia, chefe. Tudo bem.
Entro na minha sala e coloco o blazer sobre minha cadeira, me sentando em seguida. Menos de um minuto se passou, até que Fernando entrou em minha sala.
- Chamou? - disse, se sentando em minha frente.
- Chamei sim. Preciso que contrate uma nova diretora de criação. Rápido de preferência.
- Certo, e como será o processo seletivo?
- Anuncie a vaga no site e coloque as atribuições e exigências. Determine uma data para as entrevistas e pronto.
- Tudo bem, vou fazer isso agora mesmo.
- Eu agradeço muito, amigo.
Fernando já ia se levantando, quando se deteve de repente, me encarando.
- O que foi? - perguntei.
- Nada, só estou te achando um pouco deprimido. Ontem foi mais uma noite daquelas, né?
- Foi. Acordei de novo com duas mulheres nuas na minha cama, que eu nem sabia quem eram e com uma tremenda dor de cabeça.
- Me deixa adivinhar, expulsou elas da sua casa de novo?
Fernando me conhece bem, mais do que eu mesmo.
Assinto.
- Nossa, cara, você tem que parar com isso.
- Eu tento, estou tentando há anos.
- Você ainda pensa nela, não pensa?
- Sim, eu ainda penso, muito.
Eu estive procurando pela minha garota por muitos anos, todo verão eu volto naquele resort em Florianópolis para ver se a encontro de novo, mas até hoje eu não a encontrei. Depois daquele dia, eu nunca mais a vi, e isso me mata um pouco a cada dia, eu nunca a esqueci e duvido que um dia eu vá.
- Você não acha que está na hora de deixar isso para trás? Já faz 10 anos, Chris.
- Nunca, eu ainda vou encontrá-la, nem que seja a última coisa que faço na vida.
- Meu Deus, Chris! Foi só uma f**a bem dada.
- Não foi só isso para mim, Fernando. - me irritei.
- Calma, cara! Beleza, eu não vou falar mais nada. Só se cuida, ok? Você está se destruindo. - ele se levantou.
- Fernando? Não esqueça de postar a vaga.
- Pode deixar. - ele sai, me deixando sozinho.
Eu sei que preciso esquecê-la, que preciso parar de procurá-la, mas eu não sei como fazer isso.
Há dez anos atrás eu criei essa agência de publicidade depois de me formar na faculdade, Fernando entrou como sócio, e desde então, eu vivo para essa empresa. Meus pais moram nos Estados Unidos com minha irmã e nos vemos somente em datas festivas. Eles têm seus empregos por lá e eu não posso me ausentar por muito tempo da agência.
Na hora do almoço, Fernando me chamou para comer com ele no restaurante perto daqui. Eu estava a fim de pedir comida, mas ele insistiu, então aceitei.
- Eu já postei a vaga e em menos de duas horas já recebemos dezenas de candidaturas.
- Nossa, vai chover candidato. Deixo com você a parte das entrevistas.
- A pior parte sempre fica para mim, né? s*******m, Chris.
- Você sabe que eu não tenho paciência para isso, não sabe? Para quando você agendou as entrevistas?
- Para daqui há dois dias.
- Nossa, que rápido, hein? É uma pena, mas nem que eu quisesse eu poderia participar das entrevistas, tenho uma reunião com os acionistas nesse dia.
- Nossa, que pena! - ele ri. - Sabe o que eu estava pensando?
- O que?
Mas antes que ele pudesse responder, a garçonete se aproximou da nossa mesa com os nossos pedidos.
- Aqui está. Bom apetite. - disse ela, lançando um olhar interessado em minha direção.
- Obrigado.
- Hummm! Arrasando corações, hein? Não que seja novidade pra mim. - diz Fernando. Eu reviro os olhos.
- A única pessoa que eu queria o coração, eu não consigo encontrar.
- Ah não, Chris! Sem melancolia, por favor. - disse, começando a comer.
- O que eu faço, Fernando? O que eu faço para tirar aquela garota da minha cabeça? - digo, aflito.
- Se apaixone por outra pessoa. É o único conselho que eu posso te dar.
- Eu juro que se eu conseguisse, eu faria isso.
- Mas você nem tenta!
- Eu não tento, porque sei que não vai dar em nada. Eu não quero machucar ninguém, Fernando.
Ele bufa.
- Foi tão bom assim? - ele pergunta.
- Foi surreal, cara.
- Nossa, eu não te entendo. Você transou com uma adolescente dentro de um banheiro feminino e acha isso a melhor coisa do mundo.
- Ela não era adolescente, eu acho. Ela devia já ter uns 18 anos, sei lá. E sim, foi a melhor transa do mundo pra mim. Se eu fechar os olhos, eu posso sentir a sensação do corpo dela no meu, seu perfume, seu gosto.
- Ok, já chega. Você ainda vai enlouquecer, meu amigo.
- Eu acho que vou mesmo.
Depois do almoço, voltamos para a empresa e passei o dia resolvendo algumas pendências sobre a nossa nova campanha. No fim do dia, voltei para a minha casa vazia e preparei o jantar. Uma das coisas que mais me distraem, é a cozinha. Eu amo cozinhar e testar novas receitas, nem que seja para comer sozinho, o que geralmente acontece. Eu gosto da minha privacidade, gosto de viver sozinho, mas existe um vazio dentro do meu peito, que eu preciso preencher. E para começar, eu tenho que me mudar dessa casa enorme para uma menor, quero uma casa mais simples e com vizinhos por perto. Amanhã mesmo vou pedir a Camila que agende um horário com um corretor de imóveis, quero me mudar o quanto antes.
Preparei macarrão ao molho bechamel e comi com uma taça de vinho tinto. De sobremesa, tomei um sorvete de menta assistindo minha série favorita. A vida é muito boa para quem sabe apreciar a própria companhia.