Uma decisão nada fácil

1291 Words
Carol Acordei com a luz do sol entrando pela janela, semi cerrei os olhos até eles se acostumarem com a claridade. Me sentei na cama ainda sonolenta, olhei no relógio e ainda era cedo, tive a sorte de acordar pouco tempo antes do despertador tocar, na verdade, 05 minutos antes. Meu celular começou a tocar quase ao mesmo tempo em que coloquei os pés no chão, olhei no visor e vi que meu pai estava me ligando. Eu não imaginava porque ele estaria me ligando tão cedo. Com um bocejo, atendi a ligação: Ligação on: "Alô? Pai?" "Carol, porque não atendeu minhas ligações? Pensei que tivesse acontecido algo de grave com você." "Eu estou bem, pai. Não aconteceu nada, mas porque está me ligando tão cedo?" "Eu só fiquei preocupado, eu te liguei ontem a noite e você não atendeu." "Eu... eu fui dormir cedo ontem, pai. " "Sua voz está estranha, aconteceu alguma coisa?" "Eu terminei com o Samuel." - contei, com um suspiro. "Já não era sem tempo, estava farto de ver aquele moleque vivendo às suas custas." "Pai, não seja c***l, por favor. Eu já estou muito mal."  "Minha filha, eu sinto muito por isso, mas a minha opinião não mudará. Venha para casa no final de semana, o seu irmão também virá, faz tempo que não nos reunimos. Você pode aproveitar e nos contar todos os detalhes sobre o término com o Samuel." "Eu adoraria, pai, mas eu já tenho planos para o final de semana. Eu vou me mudar." Eu havia acabado de tomar a decisão de deixar tudo para trás e começar de novo em outro lugar, mas para onde eu iria? "O que?! Mudar? Como assim, Caroline?" "Papai, preciso desligar agora." "Tudo bem, mas me ligue depois, ok?" "Eu ligo, pai." Ligação off. Minha cabeça estava dando voltas sem parar, eu queria sumir, sair dessa cidade e nunca mais voltar. No entanto, eu não fazia ideia do que fazer, eu só queria deixar tudo no passado, mas para isso, eu precisava sair daqui. Então, me lembrei que eu tinha uma tia por parte de pai que morava em São Paulo, eu poderia ficar na casa dela até conseguir um lugar para morar. Que ideia louca é essa? Abri o notebook que estava sob os pés da cama e pesquisei sobre vagas de emprego na área da publicidade na cidade de São Paulo. Depois de uma busca rápida, consegui encontrar somente uma vaga para publicitária em uma grande empresa denominada CS Publicidade. As entrevistas ocorrerão daqui a dois dias, meu coração começou a palpitar de ansiedade. Meu Deus, será que me candidato? Será? Tamborilei os dedos sobre as teclas do computador num gesto nervoso, eu precisava decidir isso depressa. Me mudar será bom para mim, não será? É claro que primeiro eu teria que passar na entrevista, para depois decidir o que fazer. Eu não tinha nada a perder, não tinha nada que me prendesse a essa cidade. Por que não tentar então? Com um suspiro de decisão, me candidatei à vaga de emprego na agência de publicidade. Agora, eu precisava reservar uma passagem de avião para São Paulo, e então estaria tudo certo. Eu poderia ir e voltar no mesmo dia, não seria problema nenhum. Contudo, eu ainda morava aqui e precisava pagar o aluguel até o final do mês, por isso, precisava ir para o emprego. Tomei um banho rápido, me arrumei e sai.  O dia estava nublado e frio como era de costume aqui em Curitiba, o trajeto para o trabalho foi tranquilo, pois ainda era cedo. Eu ainda não havia conseguido um emprego na minha área de formação, então trabalhava como recepcionista em uma pequena clínica de atendimento psicológico. A função era sossegada e o local agradável, mas eu queria mesmo era ser uma grande publicitária e mostrar o que eu sei fazer. - Bom dia, Dr. Gabriel. - cumprimentei meu chefe ao chegar. - Bom dia, Agatha. Dormiu bem? Você está com a cara péssima. Aconteceu alguma coisa? - disse, estudando minha expressão. - Dormi sim. - menti - E não, não aconteceu nada. Não comece a me analisar, por favor. - ele sorri. - Eu não ia! O que te fez achar isso? - perguntou, achando graça. - O senhor está sempre analisando todo mundo, paciente ou não. - disse, rindo. - Isso não é verdade. - ele riu - Mas é sério, se precisar de uma consulta, não exite. O Dr. Gabriel era o melhor chefe que eu já tinha tido, me pagava mais do que o salário base da minha função, e sempre me  remunerava muito bem quando precisava ficar até mais tarde. O meu peito aperta só de pensar que talvez eu precise pedir as contas, eu vou sentir muita falta daqui e dele também, e sei que ele também irá sentir a minha. - Eu sei, Dr. Na verdade... - Na verdade? - ele me encarou. - Aconteceu uma coisa.  - Você quer me contar?  Eu me sentei na cadeira a sua frente, o Dr. Gabriel esperou que eu falasse. - Ontem, eu peguei meu namorado com outra na minha cama. - contei. - Nossa, eu sinto muito, Carol. Não vou perguntar se você está bem, porque sei que não está. - É, eu não estou. Eu não sei se consigo mais ficar nessa cidade, eu sei que estou sendo fraca, mas eu só quero ir para bem longe dele, não quero nunca mais ter que olhar na cara dele. - Eu entendo, entendo como se sente. É normal querer fugir e isso não te faz fraca, Carol. Mas, se você for embora, eu e os pacientes iremos sentir muito a sua falta.  - Eu também, Dr. Demais, muita mesmo. Eu preciso te contar que eu me candidatei a uma vaga de emprego em São Paulo. - Em São Paulo? - disse, surpreso - Tão longe assim? -  Dr. Gabriel, pareceu triste de repente. - Não tem muitas vagas na minha área de formação por aqui, e eu tenho uma tia por lá também... - Entendo. Bom, seja como for, lhe desejo toda a sorte do mundo, pois você merece. - ele sorriu, e eu notei como sua barba deixava o seu sorriso mais atraente. Eu nunca havia percebido antes. Nossa! O que estou pensando? Já estou tão carente assim? Se liga, Carol! - Obrigada, Dr. Bem, vamos trabalhar, não é? O dever nos chama e hoje a sua agenda está lotada. - disse, me levantando. - É isso aí! Gosto de te ver animada. - ele riu. A sala de espera já estava mesmo cheia de pacientes, olhei na agenda e chamei a primeira pessoa para entrar: - Bom dia, Dona Olga. Vamos lá? - Bom dia, Carol! Como você está? - disse, sorrindo. - Estou bem, obrigada! - Não parece...  - A senhora não comece também, já não basta o Dr. Gabriel. - disse, rindo. Dona Olga gargalhou. - Ele é demais, não é? - Ele é sim. ... Ao fim do expediente, voltei para a minha casa vazia. Alguns vizinhos no elevador ficaram me encarando, certamente devem ter ouvido minha briga com Samuel noite passada. Paciência.  Joguei minha bolsa num canto e entrei debaixo do chuveiro, eu só queria comer alguma coisa e me jogar na cama com um pote de sorvete gorduroso a fim de afogar minhas mágoas. Mas só de pensar que o sorvete em questão era o preferido de Samuel, senti vontade de jogá-lo no lixo, mas não irei fazer isso. Sou corna, não burra. Me deitei na cama com o pote de sorvete em mãos e liguei a televisão. A essa altura, eu já estava me sentindo deprimida de novo e as lágrimas já começaram a ameaçar cair. 
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