Capítulo 5

2615 Words
Alex percebeu que algo estava estranho quando, no dia do jantar, Marina mandou a localização justo da casa dos King-Lenox. Desde que se entendía por gente, ele conhecia aquele caminho. A calçada de pedras, as árvores floridas, a arquitetura clássica das mansões. Por mais que tivesse passado seis anos fora, aquela imagem familiar nunca sairia de sua cabeça. Qualquer incerteza que Alex poderia ter, terminou a partir do momento em que o gps indicou o quinto casarão da rua. Ele estacionou o carro quase na frente, apenas alguns metros atrás. Ainda estava perplexo com a coincidência do destino, e se perguntou mil vezes, antes de tocar a campainha, como nunca descobriu que Marina, sua namorada, era Marina enteada de Ethan King-Lenox. Talvez fosse cedo demais para pedir a mão de Marina, como haviam combinado. Seus pensamentos foram interrompidos quando uma das funcionárias do casarão abriu a porta, e já não existia 1% da porcentagem de negar a realidade. Marina, Victoria, Ethan e até mesmo Cora, estavam sentados no amplo sofá cinza, como se fossem uma família de comercial. O rapaz engoliu em seco antes de descer os degraus que faltavam para se aproximar dos anfitriões. Ethan e Cora o encaravam com um misto de surpresa e perplexidade, diferentemente de Marina e sua mãe, que pareciam encantadas por vê-lo. Marina foi a primeira a tomar a iniciativa em cumprimentá-lo. Ela o recebeu com um beijo, como de costume, não havia percebido o que estava acontecendo ao redor, diferentemente de Victoria, que era muito observadora. - Vocês já se conhecem?- Indagou Victoria, intrigada. - Esse é o filho do meu sócio e melhor amigo, querida, é o filho mais velho do Richard Windsor.- Ethan riu diante a coincidência.- O mundo é realmente muito engraçado. Nossas famílias conectadas, e vocês foram se conhecer justo em Londres. - O Thomas e o tio Richard não vieram com você?- Perguntou Cora, tentando olhar por cima do ombro de Alex para achá-los. - Não, eles não vêm hoje. No primeiro momento quis vim sozinho para conhecer melhor vocês. Pensei em marcar um outro jantar com eles, quando já estivéssemos mais próximos…- Alex suspirou, ainda estava admirado demais com a coincidência.- Nunca imaginei que a família da Marina fossem os King-Lenox. Desconfiei assim que entrei na rua, mas só tive certeza quando o GPS indicou a casa.- Marina, que até então estava em silêncio, tão surpresa e perplexa quanto os demais, começou a ficar preocupada com a hipótese de Alex desistir do noivado, devido ao fato de que não tivesse contado a ele sobre quem realmente era. Não havia um único estado-unidense que não conhecesse os King-Lenox e a sua dinastia. A jovem bufou, levando os fios loiros para detrás da orelha, gesto que costumava ter quando estava nervosa. De repente, ter toda a sua família tão próxima, quando queria ter uma conversa em particular com o Alex, parecía claustrofóbico. - Será que podemos conversar a sós?- Perguntou Marina, virando-se em seguida, para o seu padrasto.- Ethan, nos empresta o seu escritório?- - Ih, pelo visto, vocês não foram totalmente sinceros um com o outro.- Cora não resistiu a oportunidade de implicar. Ela checou as próprias unhas, em seguida, lançando um olhar desdenhoso para o casal que estava do outro lado.- Ainda vai ter jantar? Porque eu estou com fome, e o Anthony já está chegando. Por favor, digam logo, porque ainda dá tempo de fazer reserva em um restaurante.- Marina bufou, olhando de cara feia para a sua meia-irmã. Os olhos castanho-escuros da mesma pareciam prestes a explodirem e pegarem fogo, minando quem estivesse na frente. - Um problema desse tamanho e você pensando na sua barriga?- Murmurou Marina, trincando os dentes. Cora curvou o corpo para frente, fitando a outra com cinismo. Um sorriso torto se ergueu no canto de sua boca, ela parecia se divertir com a situação. - O problema é seu, e não meu. Meu estômago não tem que pagar por sua falta de sinceridade.- Falou Cora, dando de ombros. - Mãe, eu vou arrancar a língua dessa garota.- Proferiu Marina, direcionando seus olhos castanho-escuros para Victoria, que continuava silenciosa. A mulher mais velha era muito parecida com a filha. Os mesmos cabelos loiros, que devido ao avançar da idade, ganharam uma tonalidade meio acobreada. Os olhos escuros e inexpressivos também eram iguais, assim como o sorriso, a estatura, e o p.i.o.r de tudo, como costumava dizer Cora, as duas tinham o mesmo “ espírito de porco”. - Cora, querida. Isso não é hora para brincar.- Falou Ethan, tentando não criar um conflito ainda maior naquela confusão.- Não se preocupe, Marina. O Alex e a Cora se conhecem desde que se entendem por gente, ele sabe o quanto minha filha é espirituosa.- - É, espirituosa demais.- Comentou Marina, em um tom claramente desdenhoso pela raiva que sentia.- Bom, se me dão licença, o jantar precisará ser adiado por motivos de “ vou conversar em particular com o meu noivo”.- - Só espero dez minutos. Se não vierem logo, começo o jantar sem vocês.- Avisou Cora, com a mesma expressão inescrutável e o mesmo sorriso petulante. Marina até chegou a abrir a boca para rebater, mas a garota já caminhava na direção da sala de jantar. Deixou escapar um grunhido de raiva, antes de segurar a mão de Alex e praticamente arrastá-lo para o escritório de Ethan, como havia planejado. - Olha, acho que temos muito o que explicar um para o outro.- Disse Marina, após fechar a porta. A garota temia, sim, perder Alex devido ao mal-entendido, e não apenas porque era apaixonada por ele, mas porque Alex representava a sua independência financeira. Desde a morte de Henry Thompson, seu pai, a sua família se afundou em dívidas. O que conseguiu salvá-los foi o casamento de sua mãe com o magnata Ethan King-Lenox, no qual pagou os estudos de seu irmão mais velho, Daniel, que ainda estava na Suíça, e os seus, que decidiu passar uma temporada em Londres. Casando com Alex, Marina deixaria de viver do dinheiro do padrasto, e ganharia uma boa posição social ao virar uma Windsor. - É, eu sinceramente não sei nem o que dizer, estou muito surpreso.- - Alex, antes de tudo, eu preciso te dizer que não tem nada a ver com falta de confiança, eu precisei fazer isso para me preservar. A minha vida inteira as pessoas sempre se aproximaram de mim por interesse. Antes, por causa do meu pai, que era quase tão rico quanto o Ethan antes de perder quase tudo, depois, quando entramos para a família dos King-Lenox. Eu ainda não te conhecia direito e queria que você gostasse de mim por quem eu sou. Depois, foi ficando cada vez mais difícil contar. Tinha medo que você ficasse magoado por eu não dizer a verdade, eu…- - Eu te entendo, Marina.- Alex a interrompeu, falando com sinceridade.- Foi o mesmo motivo que me levou a ocultar que meu pai e eu somos acionistas da Iogurte King-Lenox. Já tive uma péssima experiência por ser quem eu sou, e também preciso de um relacionamento que alguém me ame sem interesse.- Alex bufou, foi inevitável não recordar de Susie. Sua cabeça começou a latejar forte, seu cérebro parecia prestes a explodir. Sentía como se não conhecesse Marina, e tinha medo de se decepcionar de novo. Por anos Alex tentou evitar se apaixonar, mas a mente humana não era como um computador do qual podemos instalar programas para evitar vírus, entre outras coisas. O hormônio ocitocina, produzido pelo hipotálamo cerebral e armazenado na hipófise, é responsável pelo apego emocional e carinho que os seres humanos sentem uns pelos outros, da mesma forma, ele é responsável por temermos o desconhecido. Naquele momento, Marina era uma desconhecida, e tudo o que Alex conseguia era sentir medo. Mas precisava ser justo, ela só queria se auto-preservar da mesma forma que ele. - Então você me entende, porque também ocultou a verdade de mim. Temos os mesmos motivos.- Falou Marina, com alívio. - É, temos os mesmos motivos. Mas isso, Marina, significa que devemos ir mais devagar com a nossa relação.- - O-o que quer dizer? Está terminando tudo? Está desistindo do nosso noivado?- - Não, Marina, não estou terminando tudo, por Deus, tenha calma. Acho que devemos nos conhecer melhor antes de assumir um noivado.- - Já nos conhecemos o suficientemente bem para termos certeza do que sentimentos um pelo outro, Alexsander. O único que escapou foi um pequeno detalhe indiferente, um pequeno detalhe que temos em comum, os King-Lenox.- - É, pode ser, mas isso mostra que não nos conhecemos tão bem quanto imaginamos, e agora parei para pensar melhor sobre.- - Acabou sendo melhor, não é? Porque veja bem. Os King-Lenox são minha família, e a sua família tem negócios com eles há anos, ou seja, no final das contas…- - Estamos todos em família.- Concluiu Alex, esboçando um sorriso apático. - Exatamente. Até mesmo porque, depois do noivado, teremos tempo para discutirmos muitas coisas, não precisamos nos casar logo. Noivados podem durar cinco, dez ou quinze anos.- Alex balançou a cabeça, concordando em partes com as palavras de Marina. O único porém, era que nunca nenhum noivado tinha durado quinze anos. Além do mais, ele conhecia Marina bem o suficiente para saber que ela não era uma golpista, e o fato de ser aparentada com os King-Lenox, só melhorava o seu dossiê de caráter. Ele tinha uma confiança muito grande em Ethan. - Tudo bem, me convenceu. Vamos prosseguir com o nosso jantar de noivado, mas, teremos tempo para nos conhecermos ainda melhor, e avaliar todas as circunstâncias, com cuidado.- - Combinado.- Concordou Marina, erguendo os braços para envolvê-los ao redor do pescoço de Alex, em seguida, pousando um beijo nos lábios do mesmo.- Eu te amo, Alex, e não será o nosso vínculo com os King-Lenox que vai mudar isso.- Murmurou a garota, roçando sensualmente sua boca por cima da dele. Alex subiu as mãos grandes para a cintura de Marina, apertando-as de leve. Ele suspirou, silenciosamente, não tinha coragem de dizer que também a amava. Gostava e muito dela. Marina era inteligente, divertida, e sempre se mostrava justa e compreensiva, qualidades que Alex prezava muito em um ser humano. - Acho melhor irmos para a sala de jantar, se não, Cora vai mesmo cumprir com a ameaça dela.- - Ela que tente.- Marina deixou escapar uma risadinha, repuxando o lábio inferior do homem, com os dentes. Alex deu um último beijo rápido na moça, afastando-se em seguida para sair do escritório de Ethan. Tinha certeza que, pelo simples fato de precisar aturar Cora por uma noite inteira, aquele jantar não seria nada fácil de se digerir. … - Então quer dizer que seremos todos da mesma família, que fascinante. Terei que aturar o Alex em tempo integral.- Comentou Cora, já sentada á mesa do jantar, bem acomodada em uma das cadeiras do meio, ficando ao lado de Anthony, seu namorado, e de frente para Marina e Alex. Marina piscou os olhos, aturdida, fitando o seu namorado, intrigada. - O que a Cora quis dizer com “ tempo integral”?- Perguntou a garota. - Eu sou chefe da sua irmã lá na empresa. E acredite, ela me dá muito trabalho.- Respondeu Alex. - Hum….- Marina se limitou a comentar aquilo, não parecia nada satisfeita com a informação.- Imagino que dê.- Não que desconfiasse que Alex poderia ter algum interesse por Cora, afinal de contas, o único sem juízo que estava disposto a suportar a d.i.a.b.a era Anthony. Qualquer dia, Marina acreditava que Cora apareceria com chifres e uma cauda. Mas na verdade, Marina não suportava ser a última a saber das coisas. - Ah, esqueci que você não estava a par dos acontecimentos, afinal, Victoria deixou de visitar a empresa desde que papai a ofereceu um emprego.- Cora lançou um olhar desafiador para a sua madrasta, que estava sentada na ponta, ao lado de Ethan, que ocupava a cabeceira.- E na verdade, chefe, quem me dá muito trabalho é você. Aquelas suas planilhas me enlouquecem.- - Soube que anda bem dedicada no seu trabalho, filha. Até marcou uma reunião para tentar aumentar os lucros dos nossos negócios.- Disse Ethan, mostrando-se orgulhoso. - Lucros?- Marina riu desdenhosamente.- Ah, por favor. O único que a Cora entende sobre números é na hora de estourar o limite do cartão de crédito do pai.- - Bom, se isso fosse mesmo verdade, ao menos eu estaria estourando o do meu pai, e não o dos outros.- Rebateu Cora, lançando um olhar impertinente para a outra garota. - Meninas, por favor, não é hora de discutir. Vamos continuar com o nosso jantar e fazer um brinde a felicidade de Marina e Alex.- Proferiu Ethan, entusiasmado com a ideia. - Vamos brindar ao Anthony e a Cora também. Eles já namoram há tanto tempo, quem sabe não decidem casar.- Sugeriu Victoria, fitando Cora com olhos cínicos. - Eles ainda são jovens demais. Tudo ao seu tempo.- Retrucou Ethan. - E também, Cora ainda não passou no vestibular. Na idade dela, mesmo, eu já tinha começado a faculdade de direito.- - Sim, com o dinheiro do meu pai pagando tudo. Porque se fosse para passar no vestibular, não tinha.- Cora ergueu o canto da boca em um sorriso malicioso.- Afinal de contas, antes do senhor Thompson falir, era assim que você conseguia tudo.- - Isso está realmente ficando desagradável…- Ethan tentou intervir. - Pelo menos eu levava o dinheiro do meu pai a sério, assim como também levei o do seu. Já você, só sabe jogar dinheiro fora.- Rebateu Marina. - Ah, quem com certeza joga dinheiro fora é você, querida. Paga uma fortuna em sapatos de baixa qualidade e em roupas que tem mil réplicas. Eu consigo peças de alta costura, da estação certa, e também com o preço certo. Etiqueta e bom gosto vem de berço, coisa que os Thompson nunca tiveram. E vejam só, nem a fortuna souberam administrar.- - O que acha de brindarmos ao nosso noivado também? Podemos ficar noivos até terminarmos a faculdade e depois nos casamos.- Sugeriu Anthony para quebrar o clima de guerra, após uma breve pausa de quase um minuto. - Não, hoje é o dia da Marina. Ela conseguiu fisgar um herdeiro por conta própria, sem a intervenção do meu pai, ou da mãe dela.- Cora cruzou as duas mãos por cima da mesa, antes de segurar o seu copo de suco e erguer para o alto.- Um brinde a caçadora de milionários. É, Marina, em breve vai deixar de depender do meu pai.- - Ethan, sua filha está indo longe demais.- Rosnou Victoria, esperando uma reação do anfitrião de casa que, tudo o que conseguia fazer, era olhar. - Acho melhor deixarmos o jantar para outro dia, os nervos estão muito exaltados.- Sugeriu Alex, usando um tom de voz seco. Ele lançou um olhar gélido para Cora, claramente insatisfeito com os comentários. Ouvir aquilo, fez a bile arder na garganta. Foi inevitável, mais uma vez, não se lembrar de Susie e de tudo o que ela fez. - De forma alguma.- Marina pousou a mão sobre a mão de Alex.- Não ligue para a Cora, ela está chateada por não ser o centro das atenções.- Ela olhou de cara f.e.i.a para a outra, que continuou com o mesmo sorriso cínico.- Vamos brindar com os copos de suco mesmo. Um brinde ao Alex e a mim, e claro, a nossa felicidade.- Marina tomou a iniciativa de erguer o copo, satisfeita quando todos fizeram o mesmo, até Cora, que parecia empenhada em arruinar a sua noite. Os copos se juntaram, finalizando o brinde.
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