Capítulo 8

2889 Words
- Olá a todos do canal "Super Music"! Hoje nós estamos aqui com a banda Coreana BBS, grandes nomes da música atual que carregam consigo uma grande legião de fãs e prêmios mundiais!!! Sejam bem vindos, meninos. - Annyonghaseyo!! - Os cinco dizem acenando e batendo palmas. - Esse programa está sendo transmitido ao vivo e você telespectador, pode enviar suas demonstrações de amor a eles pelos comentários e curtidas. Não esqueçam que neste sábado eles estarão no salão de festas aqui no centro de Lisboa!! Alguns minutos antes. - E então, você quer fazer a entrevista? - Anthony pergunta e após não pensar muito, por estar sendo pressionada pelos olhos de Daniel eu concordo e ele sorri aliviado. - Tudo bem, então vamos trocar de roupa!! - Catarina me puxa e corremos para o banheiro, ela retira um vestido azul escuro de caimento tubinho e alguns babados nos s***s, o que parecia ajudar no volume. - Onde encontrou esse vestido? Ele é lindo. - Digo e Catarina sorri, me ajudando a coloca-lo. - Estava na sua mala, acho que sua mãe mandou sem que soubesse. Só ela para tirar você dessas roupas esquisitas. - Diz, me virando para o espelho e meus olhos ficam marejados. Desde a minha bulimia eu nunca mais havia colocado uma roupa que fosse do meu tamanho e ao me ver como realmente sou, causou em mim uma grande emoção. Por tanto tempo esperei ser aceita pelos outros, quando na verdade era eu quem precisava me aceitar e me amar. - Vamos passar algo em seu rosto, para cobrir os olhos inchados. - Tudo bem. - Concordo e Catarina me maquia e ajeita meus cabelos. - Terão de ser All-star mesmo, não tenho outros sapatos. - Não tem problema, já está ótimo. Vamos lá, quero mostrar a todos minha obra de arte. - Sorri dando palminhas. Respiro fundo e saio pela porta, recebendo os olhares dos garotos da banda que se animam aplaudindo, assim como Catarina. - É...está melhor do que antes, isso não temos dúvidas. - Daniel diz. - Agora vamos todos para os seus lugares, ele fala me puxando e passo ao lado de Anthony que ainda permanece com os olhos em mim. O que ele estava pensando? Havia achado demais ou não me reconhecia? {...} - Ficou ótimo pessoal, já podemos finalizar por aqui. - Daniel diz junto ao diretor que gravava o vídeo para o canal do YouTube. - Agora a banda fará algumas fotos e depois já começaremos as publicações e enviaremos os comerciais. Vocês foram ótimos!! - Todos aplaudem e Catarina sorri com os olhos brilhando de tamanha alegria. Talvez eu a perdoasse por se passar por mim de forma tão criminosa. - Podíamos ir almoçar, o que acham? - Catarina comenta e logo mudo de ideia. - Que tal naquele restaurante que nos levou da outra vez, priminho gato? - Pergunta se escorando no ombro de Anthony que sorri. - Não podemos, Catarina. Não viu o senhor Daniel dizendo que temos muito trabalho a fazer? - Mas, eu vim a pé...como vou voltar para casa? - Choraminga e respiro fundo. - Na verdade tenho cursinho hoje a tarde, por isso queria comer. - Tudo bem, podemos dar uma passada no restaurante antes de ir para a agência. - Anthony diz cedendo. - Uhuhuuu!!! - Catarina comemora correndo para o Jipe e mais uma vez estou banhada de vergonha. - Anthony, mais uma vez...me desculpa. - Peço e ele me observa profundamente, ajeitando seu terno para traz como sempre faz. - Acho que se você ou qualquer pessoa que ama me pedisse algo, eu não conseguiria negar. Mesmo que fosse todo dinheiro que me resta, eu daria só para te olhar e admirar você, Giiovana. - Fala e segue até Catarina, começando a conversar com ela. Paro por alguns segundos me sentindo mais uma vez com as pernas bambas e sorrio, pelo fato de ter me esquecido como isso era incrivelmente satisfatório. — Pode ir para empresa não demoraremos no restaurante. — Ele diz a Daniel que assente, pegando a chave de seu carro. — Será que ganho uma carona? — Pergunta se referindo ao Jipe velho que eu dirigia. — É claro, priminho! Olha, vou até lhe deixar sentar na frente. — Fala e Anthony agradece, sorrindo para mim. Entramos no carro e começo a dirigir, me esforço para prestar atenção no caminho, mas me perco repetidas vezes em Anthony me observando. — Ei cuidado!! — Catarina grita e viro o carro de uma vez, correndo o risco de atropelar um Bode com seu dono. — Ah meu Deus, me desculpem. — Digo, sentindo meu coração se acelerar. — Vê se para de me olhar, não consigo focar em dirigir. — Falo de uma vez e semicerro os lábios, Catarina ri e Anthony faz o mesmo, passando às mãos nos lábios e olhando para a janela. — Sabe, de repente eu me lembrei que já comi com os garotos da banda. Será que pode me deixar no ponto? O ônibus do cursinho sempre passa por ali. — Catarina diz e a olho pelo retrovisor. — Mas, podem ir comer sem mim. — Ri arteira e Anthony me olha como se perguntasse o que eu queria. — Já que não irá conosco, podemos voltar a empresa. Assim terminaremos o trabalho mais cedo. — Respondo e ambos concordam mais tristes do que se esperava. Eu não pretendia deixar que Anthony me visse beliscando a comida mais uma vez, antes de sair com ele, gostaria de resolver essa questão. Ao chegarmos na agência tudo está uma grande muvuca por conta da organização dos comerciais. A boy band se apresentaria no fim de semana e a última postagem poderia fazer toda diferença em relação a audiência em televisões e internet. — Por que chegou tão cedo? Não foram ao restaurante? — Daniel indaga e Anthony discorda, recebendo alguns papéis em suas mãos. — Então cuide disso...ahh Giovana, aqui está! Faça essas ligações. — Continua, entregando-me um bloco de lista telefônica com marcações. — Claro senhor. — Falo e me preparo para sair. Anthony segura minha mão e paro em sua frente. — Vamos almoçar primeiro, sobrou alguma comida do jantar que fiz ontem. — Ele murmura um tanto tímido e me puxa seguindo para a cozinha. — Ah me desculpe, esqueci de perguntar se gostaria de almoçar... — Bom, estou com um pouco de fome sim. — Falo, escutando minha barriga roncar e ele sorri satisfeito. Ao chegarmos na cozinha me sento em uma das cadeiras e Anthony traz uma vasilha. — Fiz salada de macarrão, tem intolerância a lactose? — Questiona e discordo, observando o alimento que parecia delicioso. — Preparou para mim? — Pergunto e ele discorda. — Na verdade, só sobrou. Não se deve jogar comida fora. — Responde sem olhar nos meus olhos e sorrio sem graça, percebendo que havia falado demais. — Agora coma, temos muito trabalho a fazer. — Coma comigo, não quero que fique sem comer o dia todo. — Digo e Anthony olha para mim. — Quer dizer, vai que está envenenada. — Desconverso e ele sorri assentindo. Anthony pega um prato e coloca um pouco para si e me entrega o restante. Era estranho como eu conseguia comer sua comida tão facilmente e como me sentia feliz ao deliciar cada um daqueles alimentos. — Giiovana, me desculpe se for parecer rude. Posso lhe fazer uma pergunta? — Claro, o que quer saber? Se eu realmente não sei cozinhar? — Brinco por conta da pergunta do dia anterior. — Não é isso...Giiovana, você tem ou teve algum distúrbio alimentar? — Anthony questiona e meu estômago dói. Eu o olho e tudo que parecia incrivelmente perfeito se desfaz dentro de mim. Corro em direção ao banheiro e jogo todo alimento para fora de mim sem ao menos ter iniciado a digestão. Me sentia tão ansiosa e angustiada, o que ele pensaria sobre mim? Que eu era uma maluca incapaz de amar o próprio corpo? Ou alguém que age de forma impensada? Ou pior, será que Anthony trataria minha questão como frescura, igual a tantas outras pessoas fizeram? Permaneço ali dentro, eu me sentia tão envergonhada por ter tido de passar por aquela situação, havia me esforçado para não deixar transparecer, mas errei rudemente. Após alguns minutos ouço a voz de Daniel me gritando pela agência, levanto-me e lavo minha boca, a escovando com a escova de dente que havia trazido em minha necessarie. — Nossa Giiovana, onde estava? — Daniel pergunta e olho de um lado para o outro, procurando por Anthony e temendo encontra-lo. — Me desculpe, senhor. Estou aqui agora, precisa de algo? — Pergunto e ele me devolve a tal pilha de telefones. — Irei fazer as ligações agora mesmo, senhor. Com licença. — Respondo e sigo para o balcão da recepção, pegando o telefone em minha mão. A sala de Anthony é logo a frente, mas está fechada tanto a porta quanto as persianas e me sinto ainda mais triste, por ter saído daquela forma sem dar a ele uma resposta. O dia passa em um completo alvoroço, todos saem mais tarde naquele dia. Era às 19:30 quando meus colegas de trabalho estão pegando suas coisas e se preparando para irem embora. — Giiovana, pode esperar e fechar as portas? Anthony ainda está em sua sala. — Daniel pergunta e concordo, afinal meu trabalho era basicamente esse, ficar até o final do dia durante toda a semana. — Que tal uma cerveja, pessoal?! — Oferece aos agentes que concordam animados, seguindo Daniel com dancinhas. — Não deixe ele ficar até tarde ou vai ter de pegar a estrada muito tarde. — Louise cochicha e assinto com a cabeça, ela sorri e acena indo embora junto dos outros. Os minutos se passam e tornam-se horas, observo o relógio e já é 20:30. Caminho na frente da porta de um lado para o outro, estava desejosa em ir para casa, mas ao mesmo tempo queria vê-lo e saber como estava depois do que aconteceu. O telefone toca e corro para atendê-lo. — Giovana, você pode ir embora. Ficarei até tarde hoje. — Anthony diz do outro lado da linha. — An... é claro, senhor. Como quiser. — Respondo, desligando. Respiro fundo e pego minha bolsa, vendo onde deixaria a chave. Ao abrir minha bolsa para pegar o celular, vejo o bolo que havia trazido para Anthony e o deixo no balcão junto das chaves e vou embora para casa. Com toda certeza eu havia dado a resposta para ele, sou um ser humano que não come. {...} O dia amanhece e após me vestir com o que já parecia meu uniforme, jeans e camiseta desço as escadas e encontro Miguel tomando café. — Bom dia... — Sorrio de lado e ele acena para mim. Me sento á mesa e vovó vem do lado exterior da casa. — Querida, você está bem? Pareceu triste ontem. — Ela diz e Miguel me olha preocupado, pondo sua xícara na mesa. — Estou bem, o dia de ontem só foi cansativo por conta de um projeto importante. — Ah claro, isso é bom. Não é Miguel? — Minha avó pergunta e o rapaz concorda, tocando minha mão. — Só não se canse muito, trabalhos vão e vem, mas sua saúde deve ser prioridade para você. — Orienta como um médico e movo a cabeça em afirmação. — Tome café, querida. Fiz pão de queijo. — Me entrega e aceito, beliscando os pequenos pedaços e me dando o direito de come-lo inteiro. Miguel sorri para mim, ele parece como um pai orgulhoso e estica a xícara de café para que eu beba. — Vai ajudar engolir. — Fala se levantando. — Quer uma carona? Estou indo naquela direção da agência. — Oferece e aceito, já que o Jipe estava sem gasolina e eu ainda não havia recebido meu p*******o semanal. Seguimos juntos no carro de Miguel, ele coloca uma música e dedilha o dedo sobre o volante com animação. — Como vai o trabalho? Não cheguei a perguntar... — Digo e Miguel me olha rapidamente, abaixando o som. — Trabalhando como médico, do jeito que sempre quis. — Sim, realmente. Está sendo bom, é claro que bem diferente do Brasil. — Fala e aguardo mais respostas. — Bom, esse sempre foi o meu país, mas parece que me sentia em casa quando estava no Brasil. Aqui pareço estrangeiro e nem sempre sou tratado muito bem. — Eu sei como é, meu chefe...quer dizer, o gerente da agência onde trabalho me trata diferente dos outros, não sei se é porque sou brasileira ou ele simplesmente não gosta de mim. — Deve ser a segunda parte, você é muito chata. — Zomba e reviro os olhos, sorrindo levemente. — Desculpe, não deveria ter brincado. — Não é por sua causa que estou assim. Sabe, meu chefe...ele descobriu que tive distúrbios alimentares, e simplesmente não disse nada a mim em relação a isso. — Não se preocupe, ele não tem que dizer nada...o que lhe aconteceu é algo pessoal, se não tem influenciado no seu trabalho não há motivo para indagações. — Diz e apenas concordo com a cabeça, respirando fundo e olhando para a estrada. Após alguns minutos chegamos em frente a agência, desço do carro e me despeço de Miguel com um aceno que se encaminha para o hospital do centro da cidade logo em seguida. — Parece que o relacionamento de vocês está bem firme. — Anthony diz, passando ao meu lado e o sigo entrando no elevador ao seu lado. — Miguel e eu somos apenas amigos. — Digo e ele ri como se zombasse. — Mas, isso não parece ser um assunto do seu interesse, senhor. — Falo irritada. — Não é mesmo, senhorita Giiovana. Toma, vê se come...acabei fazendo muito na noite anterior. — Diz, empurrando uma bolsa térmica em minha direção. — Não estou passando fome, o distúrbio alimentar não funciona assim. — Digo e Anthony suspira, ainda com a mão estendida. — Vou aceitar apenas para parar de me irritar. — Falo, tomando a tal marmita de sua mão e o elevador se abre. Anthony segue para sua sala, fechando a porta. A manhã se passou e eu me sentia tão ansiosa para saber o que teria no almoço que temi estar voltando aos velhos hábitos. Será que eu iria comer de forma compulsiva novamente? — Giovana, você já pode ir almoçar. — Louise diz e agradeço. Sigo até a cozinha e pego a marmita e a observo, estava linda, tinha arroz integral e muitas verduras com grão de bico e outras leguminosas. — Só vai ficar olhando? — Ele pergunta e me assusto. Anthony senta em minha frente e pega um garfo, pondo-o na marmita e comendo um pouco. — Ainda está bom, pode comer sem medo. Não tem veneno. — Não é isso, eu só... — Paro ao perceber que diria o que tanto me deixava temerosa. — Não tem que se preocupar, fiz a porção correta. Você irá comer e se sentirá satisfeita, não vai parecer que comeu demais ou que precisa comer mais. — Senhor, eu prometo que esse problema que tenho não irá atrapalhar no meu trabalho aqui. Estou buscando me curar... — Giiovana, não tem que se envergonhar. Quando eu era criança fui fazer um discurso na escola, mas me engasguei e acabei não conseguindo falar... — É sério? Eu sinto muito... — Digo e ele ri, agradecendo com a cabeça. — Imagino como deve ter sido zuado. — Sim, eu fui. Até hoje não consigo falar muito bem em público, por isso pedi para que apresentasse a entrevista ontem. — Eu sinto muito mesmo. E agradeço por ter confiado em mim para fazer uma tarefa tão importante como essa. — Digo e ele assente, apontando para que eu coma. — Só lhe contei isso, para dizer que todos temos traumas e angústias dentro de nós, mas não devemos deixar isso nos parar. Você precisa se alimentar se quiser manter-se forte e alcançar seus objetivos. — Eu sei... — Digo abaixando a cabeça. — Quando eu comia me sentia completamente feliz, era como se a comida fosse uma amiga para mim. Mas, desde a bulimia ela se tornou uma vilã... — Não pode deixar a comida ser sua melhor amiga e nem uma vilã. Deus nos deu o alimento para suprir nossa fome, apenas isso. — Vou tentar me lembrar disso. — Falo e ele concorda, me entregando seu garfo. — Sempre sobra comida quando prepara o jantar? Não sabe porcionar? — É sério que não sabe que preparo a mais para lhe trazer? Ainda mais depois de ganhar um bolo tão delicioso. — Sorri e faço o mesmo. — Você gostaria de ir em um médico? Tenho uma amiga no hospital do centro, ela é nutricionista e me ajudou muito a melhorar minha alimentação. — Por que faria isso por mim? — Pergunto e Anthony fica quieto. — Tudo bem, posso ir sim. Me passe o endereço. — Eu vou contigo...se quiser, é claro. — Fala e concordo. — Agora come, tenho me esforçado para fazer coisas gostosas. Essa é a semana sem carne do Anthony. — Se dirige a si mesmo em terceira pessoa.
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