Depois do que pareceu ser uma eternidade para Cristina, ela e o pai chegavam ao estábulo. O cavalo se encontrava na mesma posição emitindo um som que lembrava angústia. Henrique se ajoelhou ao lado do cavalo para examiná-lo. Ele também não tinha muitos conhecimentos em relação aos animais. Balançando a cabeça em negativa, se levantou e se virou para a filha.
― Chris, o cavalo está sofrendo de algum m*l. Isso é evidente, mas não faço ideia do que seja, não tenho conhecimento algum em veterinária. ― confessou desanimado.
― Meu Deus, e agora pai? Se não fizermos alguma coisa rápido, ele não vai resistir. ― falou Cristina sentando um monte de feno e apoiando a cabeça nas mãos. Suas pernas se remexiam inquietas, tinha que haver alguma coisa que pudesse fazer.
De repente Cristina se levantou num salto, fazendo seu pai pular de susto.
― É claro! como não pensei nisso antes, mas que cabeça a minha! ― falou Chris com excitação na voz.
― O que foi? no que você pensou? ― perguntou o pai em expectativa.
― Não sei como eu pude esquecer disso. O Rick estuda medicina veterinária, ele deve saber o que o cavalo tem e o que precisamos fazer para curá-lo. ― respondeu animada. ― Vou agora mesmo chamá-lo.
― Mas está tão escuro Chris, pode ser perigoso você andar por essas estradas a essas horas. ― falou o pai com preocupação.
― Não tem perigo pai. Vou logo e volto antes que o senhor consiga sentir minha falta. Vou pegar o Amuleto e cavalgar até lá. ― Amuleto era o cavalo de Chris, um garanhão veloz com uma linda pelagem n***a. ― Nós vamos salvar esse animal, eu tenho certeza. ― Prometeu.
Henrique nem teve oportunidade de protestar, porque nesse meio tempo, Cristina já havia selado o cavalo e montava rumo à fazenda vizinha onde morava o amigo. Rick estava no terceiro ano da faculdade de Medicina Veterinária, além de se dar muito bem com os bichos, tinha o dom de tratar dos animais.
Quando Chris estava na metade do caminho, a chuva desabou. Suas roupas rapidamente ficaram encharcadas. Cavalgou o mais depressa que pôde, cinco minutos depois ela se encontrava em frente a casa de Rick. Cristina subiu os degraus de pedra da varanda quase caindo ao escorregar.
― Rick! Rick eu preciso da sua ajuda. Rick, sou eu Chris. ― chamou enquanto batia com o punho fechado na porta.
Não precisou chamar muito. Logo pode ouvir passos se aproximando da porta. Se lembrou que o amigo tinha sono leve, até uma formiga andando sobre sua pele tinha o poder de despertá-lo.
― Oi Chris ― falou ele, sonolento ― O que aconteceu para você vir até aqui nessa hora? ― perguntou Rick, abrindo a porta. ― Nossa! você tá toda molhada,vai acabar pegando um resfriado. Você veio cavalgando até aqui com essa chuva? ― falou com preocupação. ― Vamos, entre.
Christina ficou comovida com todo o cuidado que Rick demonstrou por ela e quis muito abraçá-lo, mas não tinha tempo para isso.
― Sim, eu vim cavalgando, mas quando eu saí de casa não estava chovendo ainda. Eu vim até aqui porque tem um cavalo na fazenda que está doente, parece que está muito m*l e nem eu nem meu pai sabemos o que fazer. Então, lembrei que você faz Veterinária e poderia saber o que fazer para salvá-lo. ― respondeu Christina esfregando as mãos, com frio.
― Acredito que posso ajudá-lo sim, Chris. Vou pegar a maleta com os medicamentos que utilizamos para tratar os animais aqui na fazenda. Depois de examiná-lo saberei o que ele tem. ― disse Rick. Mas antes,vou pegar um casaco meu pra você. Está se tremendo toda. Volto logo.
― Ok. Te espero.
Christina esperou na sala enquanto Rick corria escada acima. Percebeu que os pais do amigo, não acordaram, deviam ter o sono bem pesado. Pensou. Menos de 3 minutos depois, Rick desceu a escada com o casaco e o entregou para Chris.
― Aqui. Espero que fique bom.
― Obrigada Rick. Não se preocupe, não precisava.
Rick a fuzilou com os olhos.
― É claro que precisava. ― disse ele.
Cristina se encolheu diante do olhar do amigo.
― Tudo bem então.
Rick atravessou a sala e foi até um armário que ficava próximo a cozinha pegar a maleta com os medicamentos. Na volta pegou a chave da caminhonete que estava sobre o aparador.
― A chuva cessou. Você quer voltar comigo? Podemos colocar seu cavalo na carroceria. ― ofereceu Rick.
― Não, tranquilo. Vou voltar cavalgando. Não é tão longe. Mas agradeço a oferta. ― respondeu Chris.
― Então vamos.
Cristina ia na frente com Amuleto. Rick vinha logo atrás em sua caminhonete. As propriedades realmente não ficavam muito distantes uma da outra, em pouco tempo já haviam chegado na casa de Chris e ambos se dirigiam apressados ao estábulo. O pai de Cristina havia ficado esperando por eles lá mesmo, verificando de vez em quando a condição do cavalo.
― Como vai, Seu Henrique? ― cumprimentou Rick.
― Melhor agora agora que vocês chegaram. Foi depressa mesmo, hein filha? ― admirou-se o pai.
― Eu não falei que ia ser rápido pai? O Rick pode curar o animal. ― falou Chris.
― É mesmo Rick? Ele não parece nada bem, depois que a Chris saiu ele começou a rolar, se levantar e tornar a deitar novamente na baia. Parece muito incomodado.
― Vou precisar examiná-lo. Mas com esses sintomas me parece ser cólica equina. ― disse Rick se aproximando do cavalo.
Rick se abaixou para examinar o animal, que respirava ofegante. Dois minutos depois, Rick já tinha o diagnóstico.
― Como eu previa, devido aos sintomas apresentados, a respiração e batimentos cardíacos acelerados, inquietação. O que ele tem é cólica equina. É uma doença que causa dor abdominal , está ligado ao aumento da pressão no sistema digestório. ― explicou Rick com calma.
O pai de Chris assentiu.
― Mas o que será que pode ter causado isso? ― perguntou Chris.
― Geralmente é causado por má alimentação. Talvez ele possa ter comido mais do que o sistema digestório é capaz de diregir. ― respondeu Rick.
― E o que podemos fazer para que ele fique bem? ― perguntou o pai de Chris a Rick.
― Vou ministrar um analgésico para controlar a cólica e também um laxante para desobstruir o aparelho gastrointestinal e ele ficará bem.
― Graças a Deus. Pensei que perderíamos ele. ― falou Chris aliviada.
― Agradeço muitíssimo Rick, não sei o que teríamos feito sem sua ajuda. Vou me certificar de melhorar a qualidade da alimentação dos cavalos. ― disse Henrique.
― Não precisa agradecer Seu Henrique, sua família sempre pode contar comigo para o que precisar. ― respondeu lançando um olhar especial em direção a Cristina que foi prontamente retribuído.
O sol já começava a surgir quando Rick terminou de medicar o cavalo. Cristina o acompanhou até seu carro. Estava se sentindo cansada, mas também grata por terem conseguido curar o animal. Foi uma longa noite, apesar disso era sábado e poderia descansar.
― Muito obrigada Rick. Obrigada por tudo, se não fosse por você o cavalo não teria sobrevivido. ― agradeceu Chris.
― Já disse que não precisa agradecer. Não existe nada no mundo que eu não faria por você. ― respondeu.
Cristina assentiu, ruborizando. Ele tinha o dom de fazer isso com ela.
― Preciso ir. Tenho que ajudar meu pai com umas coisas na fazenda. ― disse entrando no carro. ― Nos vemos daqui a pouco?
― Pode apostar, ou você acha que eu vou deixar de ir ao nosso encontro de sábado? Nada disso! ― disse ela rindo.
― Então te espero. ― disse ele com um sorriso encantador, capaz de fazer tremer até a mais forte das construções.
Chris ficou observando enquanto Rick sumia de vista em sua caminhonete. Sentindo uma necessidade imensa de agradecer aos céus por tê-lo em sua vida