Que comecem os jogos.

1038 Words
Ellie se divertia muito ao contar para Claire os detalhes do que aprontou com o Peter. As duas conversavam por videochamada, já que Ellie decidiu ir para a sua casa de campo, enquanto Claire foi passar uma curta temporada em SunFlowers do sul. A mulher trabalhava no seu local favorito de casa, a varanda, de frente para uma linda plantação de girassóis. — Você é terrível, Ellie. Sabe que o Peter não vai deixar isso sem resposta, não é?— disse Claire, através da chamada pela tela do computador portátil. — Você me conhece o bastante para saber que não é Peter Fernsby que vai me colocar medo em alguma coisa.— Ellie mexeu o ombro em sinal de desdém ao falar. Ela serviu com mais vinho a própria taça, antes de voltar a prestar atenção na outra. — Mas e você? Suas buscas em SunFlowers do Sul está dando certo?— Perguntou Ellie. Claire respirou fundo, desapontada. — Reencontrei o Alex. Ao invés de termos as horas maravilhosas que passamos naquela adega, eu levei um belo de um fora. Acredita que ele disse que não se envolve com a mesma mulher por mais de uma vez? — Ah, Claire. Não me diga que uma mulher inteligente como você caiu nessa conversa. Isso é a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi na vida. — Não é novidade que ficamos burras quando estamos apaixonadas, não é? E eu admito, o meu coração está despedaçado. — Eu acho que você precisa voltar a focar no seu trabalho, como sempre fez. A biblioteca principal de Londres está quase as moscas desde que você começou a correr atrás desse fulano. — É… Acho que é melhor mesmo desistir. Se a minha última tentativa de hoje à noite não der certo. Ellie bufou, inconformada com a teimosia da irmã. A conversa foi interrompida com a chegada de Gertrude, uma das empregadas da casa. — Senhora, tem uma pessoa na sala de visitas que insiste em falar com a senhora. — Pessoa? Mas que pessoa? Eu não estou esperando ninguém. Ninguém sabe que eu vim para cá. — Engano seu, minha cara Eleanor.— disse Peter, parado na soleira da porta que dava para a varanda. Ela levantou-se abruptamente, assustada. — O que você está fazendo aqui? — Com licença.— A empregada foi embora na sequência. — Eu fui até a sua casa e o porteiro avisou que você tinha saído. Consegui algumas informações e não foi difícil deduzir que você tinha vindo para cá. — Pensei que você só viesse para a sua casa de campo aos domingos.— disse a mulher, passando por cima da surpresa. — Como por infortúnio somos vizinhos, eu acabaria descobrindo de qualquer forma. — O que você quer? Chorar as pitangas porque eu estraguei o seu almoço com Sasha Thompson? — Você fez de propósito. — É óbvio que fiz. Acha que você pode se intrometer na minha vida sem ter nenhuma resposta? — Eu acho que você tem ciúmes da Sasha. Ellie deu uma risada alta e desdenhosa. — Talvez essa seja a sua vontade. Você quer que eu tenha ciúmes de você. — E o que te faz pensar isso?— Peter caminhou alguns passos para a frente, decidido.— Talvez você queira que eu tenha essa vontade. — E talvez você queira que eu queira que você tenha essa vontade. — Chega desse trocadilho infantil. Graças a você a Sasha rompeu de vez comigo. Estou com medo que ela quebre o nosso contrato de trabalho. — Não acho que ela seja tão pouco profissional, me pareceu uma mulher bem sensata para os negócios. Bom, agora quanto a cortar você da vida dela…— Ellie tamborilou os dedos no queixo, pensativa.— Eu já disse que a Sasha me parece uma mulher bem sensata, não disse? Peter estava pronto para rebater quando veio o primeiro trovão. Os dois se assustaram. Ellie involuntariamente caminhou na direção dele, mas logo se afastou ao perceber que estava perto demais. — Pelo visto vai começar um temporal. É melhor você se apressar, ou será impossível transitar pelas estradas daqui. — Eu só saio daqui quando tivermos essa conversa. Do contrário, terá que preparar um quarto de hóspedes para mim. — Parece que é exatamente o que você quer, não é? — Você sabia desse almoço de negócios que a Sasha estava presente. Você foi até lá porque queria jogar na cara dela que eu te beijei. Você queria me atingir e deixar claro para a Sasha que eu corri atrás de você. — Eu quis te dar uma lição, já falei. E se isso serviu para abrir os olhos da Sasha, bom para ela. Peter respirou fundo antes de caminhar para uma das cadeiras que estava a mesa da varanda coberta. Ele tomou a liberdade de pegar a taça que Ellie usava e se servir com o vinho da mesma. — Você é mesmo muito folgado. — Pega outra taça para você. Se tiver alguns queijos será ótimo. — Se quiser comer queijo, vá comprar. E não te dei autorização de beber o meu vinho.— ela pisou duro na direção dele. Chegou a tentar puxar a taça de sua mão, mas um outro trovão a assustou. Em seguida, a tempestade começou a cair. — Pode mandar preparar o quarto de hóspedes. — A sua casa é aqui do lado. — A minha casa foi alugada para uma temporada. — Isso não é problema meu. — Se não tivesse feito a Sasha romper comigo, a essa hora eu estaria na companhia dela. Ellie respirou fundo. Continuar com aquela discussão não teria o menor sentido. Além do mais, por mais que detestasse Peter Fernsby, não teria coragem de mandá-lo embora debaixo daquela chuva. — É melhor conseguir uma taça para você e se conformar com a minha presença, Ellie.Teremos uma longa noite pela frente. — Eu não posso te mandar embora na chuva, mas não pense que vou ficar confraternizando com você. — Isso que você me aprontou hoje vai ter volta, pode ficar muito certa disso. — Então que comecem os jogos, Peter Fernsby. Tudo o que você fizer contra mim, eu irei devolver mil vezes pior.
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