Ellie se divertia muito ao contar para Claire os detalhes do que aprontou com o Peter. As duas conversavam por videochamada, já que Ellie decidiu ir para a sua casa de campo, enquanto Claire foi passar uma curta temporada em SunFlowers do sul.
A mulher trabalhava no seu local favorito de casa, a varanda, de frente para uma linda plantação de girassóis.
— Você é terrível, Ellie. Sabe que o Peter não vai deixar isso sem resposta, não é?— disse Claire, através da chamada pela tela do computador portátil.
— Você me conhece o bastante para saber que não é Peter Fernsby que vai me colocar medo em alguma coisa.— Ellie mexeu o ombro em sinal de desdém ao falar.
Ela serviu com mais vinho a própria taça, antes de voltar a prestar atenção na outra.
— Mas e você? Suas buscas em SunFlowers do Sul está dando certo?— Perguntou Ellie.
Claire respirou fundo, desapontada.
— Reencontrei o Alex. Ao invés de termos as horas maravilhosas que passamos naquela adega, eu levei um belo de um fora. Acredita que ele disse que não se envolve com a mesma mulher por mais de uma vez?
— Ah, Claire. Não me diga que uma mulher inteligente como você caiu nessa conversa. Isso é a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi na vida.
— Não é novidade que ficamos burras quando estamos apaixonadas, não é? E eu admito, o meu coração está despedaçado.
— Eu acho que você precisa voltar a focar no seu trabalho, como sempre fez. A biblioteca principal de Londres está quase as moscas desde que você começou a correr atrás desse fulano.
— É… Acho que é melhor mesmo desistir. Se a minha última tentativa de hoje à noite não der certo.
Ellie bufou, inconformada com a teimosia da irmã.
A conversa foi interrompida com a chegada de Gertrude, uma das empregadas da casa.
— Senhora, tem uma pessoa na sala de visitas que insiste em falar com a senhora.
— Pessoa? Mas que pessoa? Eu não estou esperando ninguém. Ninguém sabe que eu vim para cá.
— Engano seu, minha cara Eleanor.— disse Peter, parado na soleira da porta que dava para a varanda.
Ela levantou-se abruptamente, assustada.
— O que você está fazendo aqui?
— Com licença.— A empregada foi embora na sequência.
— Eu fui até a sua casa e o porteiro avisou que você tinha saído. Consegui algumas informações e não foi difícil deduzir que você tinha vindo para cá.
— Pensei que você só viesse para a sua casa de campo aos domingos.— disse a mulher, passando por cima da surpresa.
— Como por infortúnio somos vizinhos, eu acabaria descobrindo de qualquer forma.
— O que você quer? Chorar as pitangas porque eu estraguei o seu almoço com Sasha Thompson?
— Você fez de propósito.
— É óbvio que fiz. Acha que você pode se intrometer na minha vida sem ter nenhuma resposta?
— Eu acho que você tem ciúmes da Sasha.
Ellie deu uma risada alta e desdenhosa.
— Talvez essa seja a sua vontade. Você quer que eu tenha ciúmes de você.
— E o que te faz pensar isso?— Peter caminhou alguns passos para a frente, decidido.— Talvez você queira que eu tenha essa vontade.
— E talvez você queira que eu queira que você tenha essa vontade.
— Chega desse trocadilho infantil. Graças a você a Sasha rompeu de vez comigo. Estou com medo que ela quebre o nosso contrato de trabalho.
— Não acho que ela seja tão pouco profissional, me pareceu uma mulher bem sensata para os negócios. Bom, agora quanto a cortar você da vida dela…— Ellie tamborilou os dedos no queixo, pensativa.— Eu já disse que a Sasha me parece uma mulher bem sensata, não disse?
Peter estava pronto para rebater quando veio o primeiro trovão.
Os dois se assustaram.
Ellie involuntariamente caminhou na direção dele, mas logo se afastou ao perceber que estava perto demais.
— Pelo visto vai começar um temporal. É melhor você se apressar, ou será impossível transitar pelas estradas daqui.
— Eu só saio daqui quando tivermos essa conversa. Do contrário, terá que preparar um quarto de hóspedes para mim.
— Parece que é exatamente o que você quer, não é?
— Você sabia desse almoço de negócios que a Sasha estava presente. Você foi até lá porque queria jogar na cara dela que eu te beijei. Você queria me atingir e deixar claro para a Sasha que eu corri atrás de você.
— Eu quis te dar uma lição, já falei. E se isso serviu para abrir os olhos da Sasha, bom para ela.
Peter respirou fundo antes de caminhar para uma das cadeiras que estava a mesa da varanda coberta.
Ele tomou a liberdade de pegar a taça que Ellie usava e se servir com o vinho da mesma.
— Você é mesmo muito folgado.
— Pega outra taça para você. Se tiver alguns queijos será ótimo.
— Se quiser comer queijo, vá comprar. E não te dei autorização de beber o meu vinho.— ela pisou duro na direção dele.
Chegou a tentar puxar a taça de sua mão, mas um outro trovão a assustou.
Em seguida, a tempestade começou a cair.
— Pode mandar preparar o quarto de hóspedes.
— A sua casa é aqui do lado.
— A minha casa foi alugada para uma temporada.
— Isso não é problema meu.
— Se não tivesse feito a Sasha romper comigo, a essa hora eu estaria na companhia dela.
Ellie respirou fundo.
Continuar com aquela discussão não teria o menor sentido.
Além do mais, por mais que detestasse Peter Fernsby, não teria coragem de mandá-lo embora debaixo daquela chuva.
— É melhor conseguir uma taça para você e se conformar com a minha presença, Ellie.Teremos uma longa noite pela frente.
— Eu não posso te mandar embora na chuva, mas não pense que vou ficar confraternizando com você.
— Isso que você me aprontou hoje vai ter volta, pode ficar muito certa disso.
— Então que comecem os jogos, Peter Fernsby. Tudo o que você fizer contra mim, eu irei devolver mil vezes pior.