De Repente IV

1691 Words
— Não posso compactuar com isso, Alice. Deus é o único que tem total poder para dar e tirar uma vida, está tentando se passar por ele?! — Daniel exclama, caminhando pelo quarto e gesticulando as mãos. — Para de dizer essas coisas, Deus não tem nada a ver com isso. Essa é a minha escolha!! — Esbravejo, não sentindo nenhuma verdade no que dizia meus próprios lábios. — Ele tem tudo a ver, essa alma é do Senhor e não sua! Deus apenas lhe permitiu gera-la! — Eu já disse, está decidido Daniel. Você não vai conseguir me impedir. Camille, irá comigo ou ficará com ele? — Pergunto e a mesma olha para ambos. — Vai com ela, vê se colocar algum juízo nesse miolo mole. — Meu irmão comenta e a menina assente, beijando levemente seus lábios, seguindo-me. . . . — Ali, ainda pode mudar de ideia. Não precisa terminar desse jeito, pense que este é um presente de Deus para cobrir toda a dor que lhe invadiu nestes dias. — A garota diz, sentada ao meu lado na sala de espera do hospital. A mãe de Camille, havia nos trago com ela quando vinha para o trabalho, o que nos possibilitou furar a quarentena. — O que disse? — Indago, trazendo a minha memória o que aquela senhora tinha dito, há um mês. — Que essa criança, pode ser um presente de Deus, para você. — Repete e lhe olho ainda assustada, com aquela coincidência quase improvável. — Vejam, os terroristas foram presos! — Ouvimos a voz de um homem, que aponta para a televisão e seguimos com nossos olhos até lá. — Aumente, por favor! — Grita mais uma vez ao enfermeiro, que assim faz. — Os terroristas responsáveis pelo atentado em uma famosa boate aqui em Paris, foram presos hoje, ao tentarem passar pela fronteira com um avião irregular. Deixaram policiais mortos, mas, todos os civis foram salvos por um capitão da Elite francesa, ao se entregar como refém. Nesta noite lhe faremos uma grande homenagem, na Praça Central, ele deixa uma filha, Alice Durant adolescente de dezessete anos. — A jornalista termina de dizer e todos os olhos seguem para mim, quando a enfermeira chama o meu nome. — Alice Durant, pode vir. — Ela sorri e assinto, caminhando ao seu lado junto de Camille, que aperta forte minha mão. — Se acalme, por favor. Está me deixando ainda mais nervosa. — Sussurro e ela começa a chorar. — Se quiser, pode ir para casa, faço sozinha. — Não, eu discordo completamente disto, mas somos amigas e não irei lhe deixar só. — Fala e sorrio a abraçando. — Bom, Alice...gostaria de lhe perguntar se está certa do que irá fazer? Temos muitas casas de adoção e você também pode ter a criança, existem muitas opções para mães solteiras. — Viu, Ali? Podemos escolher outras opções que não seja interromper a gravidez. — Camille balbucia de forma nervosa. — Eu...eu estou certa do que quero, podemos começar. — Respondo, com as mãos trêmulas. — Tudo bem, preciso que me empreste seus documentos e assine para mim, este formulário de responsabilidade. — A enfermeira entrega-me um papel, com diversas especificações, como se: caso acontecesse algo durante o processo eu os abstencia de toda responsabilidade. — Claro, meus documentos estão aqui no...Espere, o que é isso? — Questiono ao encontrar a carta de meu pai, dentro do bolso de meu jeans. — Foi você quem colocou aqui? — Pergunto a Camille. — Claro que não, como eu iria por a mão ai sem que percebesse? — Retruca, discordando. — Está tudo bem? Precisa de um pouco mais de tempo? — Questiona e assinto. — Iremos sair um pouco e quando estiver pronta, voltamos. — Fala, caminhando para fora com Cami e sento-me em uma cadeira que havia no consultório, respirando profundamente. — Papai, o que quer falar comigo? — Suspiro, abrindo levemente o envelope e retirando uma folha de caderno, escrito a mão. Realmente era a ortografia impecável do capitão Remy. Querida Jujuba! Eu sei que as coisas não estão fáceis, faz bastante tempo. Lembro-me de quando lhe peguei nos braços aos cinco anos, lhe trouxe para a França comigo e passamos uma semana revezando pousadas fedidas, por eu não ter nenhum centavo se quer. Quero que saiba, você é a garota mais forte que conheço e puxou o meu senso de humor, aquele irônico ardido. Quero que entenda,lhe impeço de sair não é por ansiar te-la só para mim, mas, por temer que o mundo não seja capaz de lhe compreender e a machuque com a perversidade. Desejo que seja feliz, parece clichê e todos os pais dizem isso, mas, eu realmente desejo e oro para que seja a mulher mais feliz de todo o planeta Terra, pois só assim, eu serei o homem mais feliz do mundo todinho. Eu amo você e sei que também me ama, pois embaixo de toda essa carranca dura, existe amor para distribuir e nunca faltar. — Oi amiga, a médica quer saber se pode preparar os remédios? — Camille surge, me observando e discordo, com lágrimas em meus olhos. — Será que, ela consegue me mostrar o tamanhozinho dele? Do bebezinho... — Sorrio e Cami me abraça respirando aliviada. — Moça, ela desistiu da burrice!!! — Camille grita e a enfermeira ri alegremente, entrando no consultório. Bom, parece que todos estavam torcendo contra, fico feliz em ter ouvido meu pai, pelo menos uma vez na vida. — Queremos ver o graozinho de arroz. — Bate palmas e deito-me, sobre uma cama que havia ali. — Vou levantar sua blusa e iremos passar esse gelzinho, ele é um pouquinho gelado, mas, ajudará com o instrumento. — Explica cautelosamente e concordo, observando a pequena tela de computador que havia em nossa frente. — Isso é tão emocionante!! — Camille segura minha mão, extasiada. Ela parecia tão animada, como uma titia babona que seria. — Cadê ele? Parece tão vazio. — Digo, sentindo um medo me percorrer, será que havia sido tudo coisa de minha cabeça? E aquele presente, era apenas mais uma alegria fictícia. — Ele está aqui, ainda é pequeno pois tem apenas cinco semanas. Mas, logo irá começar a crescer e poderemos ver melhor. — Ahh Cami, olhe...dá pra ver mesmo. Ele parece uma cobrinha. — Choro e sorrio ao mesmo tempo, Camille ri, revirando os olhos e dando um tapa em minha testa. — É a minha cobrinha. — Tem como ouvir o coração, doutora? — Ela questiona e a mulher assente. — Os sons ainda estão um tanto inaudiveis, pois ele está em formação. Mas, já conseguimos pelo menos os batimentos. — A mulher aumenta gradativamente o som, onde ouvimos pela primeira vez, aquele que seria o amor da minha vida. Era incrível como toda tristeza se transformou em alegria e força, eu precisava ficar bem, para que aquele ser que crescia em mim, pudesse ser feliz. . . . — Oi, vocês chegaram. Pensei que teria de ficar internada. — Daniel fala irritado, sorrio para o mesmo, que fica ainda mais enfurecido. — Por que sorri para mim, Alice? Acabou de destruir a obra mais perfeita de Deus!! — Ahh para de ser tão chato, estava pensando...qual nome você prefere? Para menina, pensei em Vitória e se for menino... — Sou interrompida por Daniel que pula em cima de mim, me abraçando e nos derrubando sobre o sofá. — Eu te odeio!! Quase acabou com meu coração. — Chora, beijando toda minha face. — Sei que é um titio babão, mas, não precisa babar na minha cara. — Zombo e ele ri, se afastando envergonhado. — Desculpa, me empolguei. — Põe as mãos no bolso e sorrimos juntos, nos abraçando novamente. — Vem aqui também, pessoinha. — Ele puxa Camille, que se embaraça em nossos braços. {...} — Tem certeza que quer ir? Podemos ficar por aqui e comermos um pote cheio de sorvete. — Daniel comenta, enquanto ajeito meu vestido preto de mangas cumpridas e comprimento no joelho. — Meu bebê adoraria, mas sinto que preciso estar lá. O papai ficaria feliz, em me ver homenagear não só ele, mas, todos os que perderam suas vidas naquele dia. — Tudo bem, quer que eu pegue as botas? As inseparáveis cano curto e textura de cobra pessonhenta? — Indaga e sorrio assentindo. — As famosas botas que ganhei em meu aniversário de quinze anos. Um dia qualquer sonhei, que ganhava uma cobra, corri para contar ao meu pai, que aquele seria o presente perfeito, já que quinze anos se faz apenas uma vez na vida. Ele me disse: Alice, sua mãe não está a venda! Exclamou e demos muita risada, depois choramos comendo um pote de sorvete no sabor ovomaltine com gotas de chocolate. O implorei, importunei e choraminguei, até mesmo fingi ter febre e delirar, enquanto dizia: Quero uma cobra, me dê uma cobra!! — Aceno com as mãos, como se esperniasse e todos presentes na praça principal, dão risada de minha história. — Como um pai solteiro, Remy também imaginava que iria me matar algum dia, caso deixasse-me doente. Ele saiu por toda Paris, imaginando o que faria com aquele pedido inusitado e de repente encontrou em um brechó as mais lindas botas vermelhas de cano curto, estampada de forma como se fosse uma coral. Papai pensou "Essa parece uma ótima forma de enganar uma adolescente" e as trouxe para mim. Nunca me senti tão feliz, entendi que meu sonho estava correto, só o interpretei ao pé da letra. — Termino de dizer, sentindo gotículas de lágrimas em meus olhos. — Meu pai, foi um bom homem e todos os policiais que o acompanhavam também eram pessoas maravilhosas, pois deram suas vidas por amor ao próximo, somos imensamente gratos a cada um deles e digo de todo meu coração, não os esqueceremos jamais. — Digo por fim e todos aplaudem. Acendemos velas, cantamos músicas que cada um deles amava e jogamos flores no Rio Sena, que levara um pouco de nossa dor, deixando o recomeço. *Este Livro Contém Temas Sensíveis. Se cuidem! ❤
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