Luna
- Amiga, por favor, vem em casa mais tarde; prometo fazer você esquecer que aquele babaca esteve na sua empresa hoje. - Alex me pede com aquele olhar pidão na chamada de vídeo. - Você vai ser má a ponto de recusar?
- Cretina... Eu vou sim. - O sorriso de felicidade dela até me deixou mais animada. - As sete então?
- Isso! E sabe quem vai estar lá?
- Não sei, Alex. Você ainda não contou. - Digo sem nem imaginar a resposta dela.
- O Dylan Thorn. - A empolgação dela me deixa curiosa para conhecer pessoalmente esse cara. Sei pouca coisa dele e também nunca o vi pessoalmente, será que é a minha chance de conhecê-lo? - Você não gostou de saber que aquele gostoso vai estar lá?
- Alex, não me interprete mau... Eu nem sei de quem você tá falando, eu só conheço ele pelas revistas e olhe lá...
- Não! Tá brincando que você não conhece ele pessoalmente? - O olhar dela quase me crucifica pela internet.
- É o seguinte, vou tomar um banho, nos vemos mais tarde, sim? Pode me matar quando eu chegar na sua casa. Bye bye!
- Tchauzinho!
Eu tenho mais preocupações do que saber da vida desse homem, eu hein... Decidi ir para o quarto, e ao ligar a TV, a primeira notícia que me aparece, é de um assassino a solta em Nova York.
- Só tem notícia r**m nisso. - Bufo desligando o aparelho. Jogo o controle de volta na cama, pego meu roupão e vou para o banheiro. Preciso aliviar a tensão do meu corpo de algum jeito.
Dylan
Depois de conhecer por um “acidente” a filha do Simons, confesso que me senti fortemente atraído por aquele olhar de menina curiosa, mas é uma pena que nas últimas semanas, eu não tenho tido tanto tempo para outra coisa, que não seja o trabalho; se não fosse por isso, eu até arriscaria chegar na garota só para irritar o velho Simons. Agora estou numa reunião para decidir os próximos projetos, o que nem preciso dizer que me deixou entediado demais... Essa reunião está se resumindo a assistir a esse f0dido do Wess se colocar acima de todos os outros, ele nem se quer deixou que os outros funcionários abrissem suas bocas, então, comecei a olhar o nada e aos poucos, sou levado de volta ao passado, para o lugar de onde eu não queria ter sido salvo:
A alguns anos atrás:
Acordo meio atordoado em um ferro velho; sinto muita dor de cabeça, que de início parece não me atrapalhar, porém, ao tentar me levantar, minha visão se embaça de uma vez. Eu noto que estou com problemas, quando tento fazer esforço para me lembrar de certas coisas, mas não consigo me lembrar nem do meu próprio nome e ao passar a mão na minha cabeça, sinto que está sangrando bastante. Afinal, porque eu tô aqui? Eu só queria saber, o que eu fiz de errado, para ser jogado nesse lugar... Eu não fui um bom menino? Quer dizer... Eu tinha família até uns dias atrás, não tinha? Então porque a pancada que levei, me fez esquecer até de quem eu sou? As lágrimas no meu rosto começam a cair sem controle, e a única coisa que consigo fazer, é me rastejar até um cantinho muito parecido com uma casa de cachorro; tem até um “telhado” para me esconder da chuva. Ficar encolhido aqui não me ajudará em nada; então, decidi sair, com a intenção de encontrar alguma coisa que deixe esse cantinho mais confortável, para que não seja preciso eu dormir no chão.
Não sei se for sorte, mas eu consegui encontrar uma espuma velha, que estava enrolada em um cobertor rasgado; pelo menos não vou dormir no chão hoje... Um pouco antes de voltar para o meu cantinho, ouço o latido de um cachorro, mas ao olhar por todo esse lugar, não consigo encontrá-lo; porém, ao ver que os tanques a caminho, o medo toma conta de mim, o que me faz sair correndo sem rumo, só para ter certeza que não estou delirando, e que estou ouvindo um cachorrinho. Deus... Eu nunca pensei que sentiria tanto medo por ver os soldados chegando... Após longos segundos seguindo o latido do cachorro, consigo encontrá-lo amarrado a um poste, e eu nem sei a que santinho eu agradeço por ter deixado esse filhotinho longe da visão dos soldados. Desamarro o animal, e o levo comigo para o meu novo lar. Ele pelo menos parece estar feliz por ter um novo amigo, eu estou muito feliz por não estar sozinho.
- Me desculpe garoto, eu não tenho comida, mas pelo menos, podemos ficar juntos até nosso estômago chegar nas nossas costas. - Com o cachorrinho nos braços, acabo sorrindo todo bobão, por todas essas lambidas que ele dá em meu rosto.
A noite vem se aproximando, e com ela, o medo de dormir. São... Memórias vagas demais para se confirmar, mas eu consigo me lembrar de uma mulher me contando sobre as coisas que os soldados fazem quando encontram crianças perdidas, por isso todo esse medo... Porém, o meu corpo já não aguenta mais... Eu tô com muita fome, e mau consigo ficar de pé. Mesmo tentando ficar acordado com a pouca força que tenho, ainda não resisto e adormeço, com o cachorrinho ao meu lado.
[...]
Sinto esse danadinho me lambendo sem parar, o que me serve de despertador; porém, quando minha visão volta ao normal, as primeiras coisas que vejo atrás do cachorro, são vários homens, e por isso, me levanto as pressas do chão.
- Quem é você, e o que está fazendo no meu lugar?
- D... Desculpe... Eu não sabia que era seu. - Me justifico sem olhar no rosto do velho, porém ele vem a mim, e me força encará-lo.
- É carne nova. - Ele fala segurando meu rosto, e ao ver as faces dos amigos dele, me desespero ao imaginar o que querem fazer comigo.
- Senhor por favor... Me deixe ir. - Peço, me esforçando para não chorar, mas o velho não parece estar muito aí para mim, ou para o que eu acabei de dizer.
De repente, ele me solta, e eu volto a me encolher no chão, agarrado ao meu cachorro. Parece ser loucura, mas a única coisa que eu tive coragem para fazer, foi sair correndo por debaixo do nariz de todos os homens, e por ser pequeno e franzino, estou conseguindo me enfiar em lugares que eles não conseguem pegar a mim, ou o meu cachorro. Ao sair de um cano de esgoto, volto a correr sem rumo, mas acabo batendo de frente com uma senhora, e caindo de bund4 no chão.
- Vá chamar o seu pai, rápido! - Ela ordena a menina que está do seu lado, e a garotinha sai correndo, enquanto a senhora me encara, com um olhar curioso. - De onde você veio, pequeno? - Eu nem se quer consigo falar, então, apenas aponto a direção, e me mantenho agarrado ao meu cachorro. - Você tem família? - Faço uma negativa com a cabeça, e de repente, um homem e aquela menina aparecem, e ela já vem apontando direto para mim.
Estou com medo... Porém, estou muito fraco, e por isso acabo caindo no chão novamente. O cachorrinho se soltou, e começou a latir olhando para o casal, e sua filha. E depois, fui atacado outra vez por esse animalzinho tentando me matar de fofura. O homem veio correndo até mim, e ao me pegar no colo; senti que deixavam meu cachorrinho para trás, o que me fez gritar com a pouca força que me resta, mas não demorei muito para adormecer de novo.
[...]
Algumas horas mais tarde...
Abri os olhos, e vi que não estava mais no ferro velho, por isso acabei me levantando assustado, e ao ver o olhar das meninas para mim, quase cai duro no chão. O que me deixou muito animado, foi ver o meu cachorrinho dormindo ao lado do meu colchão, pois por mais que eu não esteja esboçando nenhuma reação, por dentro estou explodindo de felicidade. Para ser bem sincero, depois de tudo que houve nas últimas horas, eu me sinto perdido... Não sei quem são essas pessoas... Muito menos que lugar é esse... E eu ainda não consigo me lembrar do meu nome... Bom, eu sei que não é a minha casa, e mesmo após ter sido salvo por eles, ainda sinto um medo absurdo de ser abandonado, e ficar sozinho de novo. As meninas ficaram aqui por longos minutos, até que a porta se abriu, e elas saíram correndo para os seus pais. Caramba, eu não consigo nem se quer abrir a boca...
- Está tudo bem, nós vamos encontrar sua família. - A voz do homem estranho sai como se não quisesse me devolver. A mulher por outro lado, se sentou ao meu lado no colchão, me puxou para o seu colo, e começou a fazer carinho nos meus cabelos, mas o que me fez chorar outra vez, foi ouvir a canção dela. Meu choro é desesperado, ao me lembrar de que essa canção, era a mesma que eu ouvia, antes de ser jogado fora.
As horas se passaram, e a senhora ficou ao meu lado até minhas lágrimas se secarem. Até que ouvimos a voz do homem, nos chamando para comer; e mesmo querendo recusar, a minha barriga entregou que estou faminto, e isso fez a senhora me puxar para a cozinha com ela. Vejo as filhas deles na mesa, e durante todo o jantar, me sinto um completo intruso, acabei ficando calado o tempo todo. Mas de repente; a minha visão começa a se escurecer e mais vozes começam a entrar na minha cabeça. Vejo novamente todos sumindo e de imediato me entristeço ao lembrar do que aconteceu com eles, semanas depois desse jantar...
[...]
A voz do Wess me puxa de volta para a realidade, e ao acordar, vejo que a reunião ainda não acabou; o que me deixa extremamente irritado. Olho para o relógio e percebo que estou aqui a mais de 1 hora, e eles nem se quer resolveram nada, estão apenas tagarelando sem parar, mas vou ficar na minha, hoje tem que sair tudo como planejado, ou vão voltar a me encher o saco de novo.
- Senhor Thorn, está nos ouvindo?
- Eu só estou ouvindo você tagarelar a reunião inteira. - Rosno com extremo desgosto na voz, o que deixa o Wess intrigado, e ainda faz os outros rirem da cara dele.
- Escuta aqui garoto, ele te escolheu porque te acha melhor que nós...
- E você ainda tem dúvida? - O interrompo tentando me conter, e acrescento: - Presta bem atenção Wess, eu tô de saco cheio de ouvir gente da sua laia tagarelar desse jeito. Então faz um favor para todos aqui; ou deixa o pessoal opinar, ou cai fora da minha sala! - Minha voz sai alta e clara, o que faz ele se calar, para que finalmente dê espaço aos outros. - Ótimo... Agora, podem me mostrar as suas ideias, senhores. - Digo olhando para os outros funcionários.
Desde que criei essa empresa, tenho ajudado muito os novatos e eu tenho que parabenizar alguns, por todas as artes incríveis que me mandam. Pois todos passam por reuniões assim, onde o Wess tem que estar presente só para encher o saco de todo mundo, mas creio que a partir de hoje, ele não vai mais empinar o nariz e nem meter o dedo onde não é chamado. Depois de fazer o Wess passar vergonha, a reunião toda passou em poucos minutos, eu aprovei quase todos os projetos novos que me trouxeram e isso tem sido ótimo. Eu gosto do sorriso dos garotos quando tem boas notas vindas de mim; é algo... Gratificante, eu acho... Estou nisso a tanto tempo, que até fico perdido nas palavras... Ao despachar todo mundo, recebo uma mensagem da Alexandra; a caixa da padaria que eu fui hoje de manhã e também, amiga da filha do Simons. A festa do Midnight é hoje e é por isso que a Alexandra está me chamando... Para ser bem sincero eu não estou afim de ir, mas se a garota vai estar lá, eu vou dar um jeito de aparecer.