Me Reconstruir 3

1969 Words
- Henrique... - Sou impedida de dizer qualquer palavra, recebendo um longo e intenso beijo de seus lábios. - Ei, você é maluco?! - Grito o empurrando para longe de mim. - Me desculpe, não gostou? - Indaga e lhe olho desacreditada com sua pergunta. - Quer que eu diga que gostei? Cara, você me beijou sem eu deixar! O que está acontecendo com esse mundo!! - Exclamo abrindo os braços e todos me olham, buscando entender o que acontecia ali. - Foi mau, pensei que sentia alguma coisa por mim. Vivia se mostrando gentil, me desculpe, acabei confundindo. - Parece que confundiu mesmo! - Eu até achava ele bonito, poderia mesmo estar sentindo alguma coisa, mas, não lhe havia dado o direito de me beijar sem eu permitir. - Elisa, por favor. Me desculpe. - Sussurra arrependido. - Tudo bem. Desculpa pelos gritos, não estou acostumada a receber beijos roubados assim. - Digo e Henrique assente, forçando um sorriso. - Vou te levar até o seu trabalho. - Diz e maneio a cabeça em negação. - Não precisa, vou caminhando. Para o almoço assentar, digamos assim. - Falo acenando e já andando rapidamente, para não correr o risco de ser beijada novamente. - Ei o que aconteceu? Vieram me avisar que você estava gritando no restaurante. - Suellen diz, ao me ver passar pela porta e caminha em minha direção. - O Henrique lascou o beijo na minha boca, do nada. - Falo ainda impactada e Suellen ri, achando graça. - Que isso em! Ah como eu queria um beijo roubado, não ganho nem emprestado ultimamente. - Se escora no balcão. - É normal os caras saírem beijando as mulheres sem pedir? - Indago e Suellen me olha com desdém. - Você é muito santinha, Elisa. É romântico um beijo roubado, sabia? - Gesticula as mãos, fazendo careta. Como se dissesse "Desenformada". - Eu diria que é assédio, mas, se está me falando que é romântico. Pensamos diferente mesmo. - Respondo. - Vou dar uma dormidinha, quem sabe não sonho com um gato me roubando um beijo. - Ri rebolando até o vestiário. Não sei como Suellen ainda não fora mandada embora, ela só vem para cá dormir. Sinto meu telefone vibrar em meu bolso, atendo rapidamente ao ver que era Mateus. - Lisa, Oi! Ainda está de pé o nosso passeio? - Pergunta e fico em silêncio por alguns segundos. - Não sei Mah. Eu preciso chegar em casa e ver como minha mãe está. - Liguei para minha avó, ela disse que sua mãe está bem. Eu preciso lhe contar uma coisa importante, por favor... - Tá bom, nos encontramos a sete! - Isso! Amo você. - Também amo você. Desligo e sorrio. Fazia tanto tempo que eu não saia para lugar nenhum, mamãe sempre fora a minha prioridade e nunca me arrependi disto. Ela sempre cuidou de mim quando eu era pequena, havia chegado a minha vez de retribuir. As horas se passaram e meu coração começara bater acelerado, eu estava tão animada e ansiosa pelo que Mateus queria me mostrar. Desde pequeno ele sempre fora o garoto das grandes surpresas, vivia me surpreendendo até o dia que nos casamos em baixo da macieira, ele além do noivo também fora o pastor, as floristas e o padrinho. - An...Elisa, preciso que fique até às 18:00, teria como? - Louise indaga e meu coração desacelera. - Eu preciso buscar os remédios de minha mãe, hoje fecha as dezoito horas em ponto. - Falo um pouco temerosa. - Sabe que só tenho você, a Suellen só vem para cá dormir. - Murmura entre os dentes. Respiro fundo e sorrio. - Tudo bem. Posso ficar um pouco mais. - Digo e ela agradece, abraçando-me. Não estava nadando em dinheiro, para ficar dispensando ordens da chefe. - Então vou indo, hoje tem um concerto no museu. Será de piano, tiro umas fotos para você! - Acena e forço um sorriso, revirando os olhos após vê-la sair para fora, entrando em seu carro chique. - Também estou indo, já deu meu horário. - Suellen surge com sua bolsa e casaco. - Não Suellen, fique aqui comigo. Nunca conto a Louise que você fica no banheiro dormindo. - Não conta porque é boba, eu não faria o mesmo por você. - Revela rindo de forma maléfica. - Agora vou indo, assistir o concerto pela televisão. - Faz bico, caminhando até o ponto de ônibus. Respiro fundo, me escorando no balcão. - O Senhor deve estar preparando algo muito grande para mim, viu. - Suspiro dizendo aos céus. Com certeza, Deus riu. Como de costume, sou obrigada a ficar até mais tarde por nenhum motivo, já que depois das 17hras ninguém sai para comprar jóias. Finalmente o relógio me avisa, que a liberdade cantou para mim. Pego todas as minhas coisas, apago todas as luzes, ligo o alarme e fecho as portas uma de vidro e outra de ferro. Olho em meu celular 18hras em ponto, saio correndo em direção ao posto de saúde na luta para encontra-lo aberto e conseguir os remédios de minha mãe, que não vive sem. - Ah não!!! - Grito ao ver os portões fechados e um bilhetinho: "Voltamos amanhã, às 7hras da manhã" - Porque, paizinho celeste?!! - Choramingo irritada. Meu telefone toca um hino da harpa. Mamãe havia mexido denovo no meu telefone. - Mateus, não posso falar agora. Estou com raiva!! - Esbravejo e ele ri, zombando de minha tristeza. - Seu humor irá mudar logo, me encontre no teatro. - No teatro? O que vamos fazer em um teatro? - Questiono. - Comer paçoca! Vamos assistir uma peça, tonta. - Uma peça? Mateus, não temos dinheiro nem para ir no cinema. - Para de reclamar da vida e vem logo, estou lhe esperando na porta dos fundos. Quando chegar, dê dois toques na porta. - Tá, Tá! Olha, eu não posso ser presa, entendeu? - Tá bom, qualquer coisa digo que fui eu. Já que sou o branco da relação. - Diz por fim, desligando o telefone. Após chorar um pouco mais, estendo a mão para um ônibus e adentro, sentando-me no último banco. Ao chegar, desço na frente daquele enorme teatro na cidade de São Paulo, posso dizer que todo meu corpo sorri, imaginando se um dia seria a minha vez de apresentar-me naquele lugar. Olho para o fundo do teatro e vejo a cabeça de Mateus, que acena a chamar-me. - Vem. - Cochicha e corro até lá. - Mateus, não tenho roupa para esse lugar. - Falo, olhando meu modelito, vendedora de semi-jóias. - Como conseguiu ingressos? - Não tenho ingresso, mas, tenho amigos. - Acena para um homem gordinho e careca, que parecia ser o faxineiro do local. - Menino Mateus, ninguém pode saber que vão estar lá, se não sou demitido. - O homem diz, entregando algumas chaves para o meu amigo. - Não se preocupe, vamos fazer silêncio. Vê se não chora, Elisa. - Diz e concordo com a cabeça. Na verdade minha cabeça estava bem confusa, sem entender o que iria acontecer ali. Mateus me puxa pela mão, onde subimos uma alta escada chegando até o fim das galerias. - O que estamos fazendo aqui? Se alguém nos ver, seremos enchotados. - Sussurro e ele ri, subindo uma outra escada, que dava próximo ao teto do teatro, onde ficava algumas aparelhagens escondidas de todos. - Vem, sobe aqui. Hoje você verá um concerto pela primeira vez. Ah, estamos na melhor fileira. - Sorri travesso. Tiro meus saltos e subo com sua ajuda, sentando-me ao seu lado, ficando com os pés a balançar. - É concerto do que? - Pergunto e Mateus permanece em silêncio, apontando para o palco. Quando uma mulher se senta atrás de um piano e começa a falar. - Boa noite a todos, que essa noite seja inesquecível. - Fala suavemente, pondo suas mãos sobre aquele lindo piano branco e cumprido. Seus dedos tocavam tão levemente sobre as teclas, que pareciam dançar e voar em cada uma delas. - E então, gostou da surpresa? - Sussurra em meu ouvido e movo a cabeça concordando, em meio as lágrimas que desciam por meus olhos. - Nunca vi nada mais lindo. - Lhe respondo e Mateus segura minha mão, ficando assim como eu em silêncio, admirando aquela maravilha. - Não senhor, está tudo vazio aqui! - Ouvimos a voz do faxineiro ecoar pelas galerias. - Me avisaram que dois jovens subiram até aqui, ei, vocês aí!! - Um homem enorme grita. Mateus e eu nos entreolhamos e sorrimos, começando a descer as escadas e correr na direção oposta do segurança. - Venham aqui, seus baderneiros! - Continua a gritar e só conseguimos rir, então saímos de dentro daquele lindo sonho. - Foi incrível!! Muito obrigada, essa foi a melhor noite da minha vida!! - Esbravejo pulando nos braços de Mateus que ri, me rodopiando pelas ruas. - Que bom que gostou, queria que essa noite fosse inesquecível para você. Quero levar seu sorriso comigo. - Diz e paro de sorrir, olhando em seus olhos que se encontravam marejados. - Como assim? Levar o meu sorriso? - Indago sem entender. Mateus aproxima-se, segurando minhas mãos. - Eu vou embora, Lisa. A Emma e eu, vamos nos casar. - Diz, fazendo toda a minha noite se escurecer. - Mas, vai me deixar aqui sozinha? Não pode fazer isso, eu sei que a ama, mas, eu também te amo! - Eu sei, porque também amo você. Mas, eu encontrei nela tudo que busquei a minha vida toda. - E o seu trabalho? Como vai fazer? Você tem dinheiro para se mudar, assim do nada? - Questiono tentando encontrar um motivo para que ficasse. Mateus sempre foi meu porto seguro, como eu ficaria sem ele me dando equilíbrio? - Eu consegui um empréstimo no banco. A empresa onde estou, abriu uma filial na Holanda. Quando vi todas essas coisas acontecendo, percebi que era Deus confirmando os planos que projetei. - Eu vou sentir tanta saudade. - Confesso me desfazendo em lágrimas. Mateus me abraça, buscando acalentar meu coração. - Olha, eu vou chegar lá e assim que marcar o casamento, mando te buscar. Tá bom? Vai ser minha madrinha. - Não posso deixar minha mãe, seu maluco. - Falo e ele ri. - Eu vou pagar a viagem de vocês duas, eu fui promovido, Elisa! E minha noiva é rica! - Exclama animado e me dou por vencida, aceitando uma fatia de sua alegria. - Vou te levar em casa, no meu carro novo! - Diz apontando para uma bicicleta e sorrio, sendo puxada pela sua mão. Aquela noite sem sombra de dúvidas poderia ter sido marcada como a melhor de minha vida. Eu havia ido pela primeira vez a um concerto de piano, meu melhor amigo estava completamente feliz e eu...bom, eu o amava demais para não me sentir da mesma forma que ele, completamente e totalmente feliz. Mas, algo aconteceu e impediu que aquela noite fosse a mais feliz, eu me destruí por inteiro, perdi uma parte do meu coração e da minha alma. - Mamãe, eu cheguei! - Exclamo ascendendo as luzes de casa. Um silêncio permeia toda a casa. Passo pela sala, depois cozinha e sigo até o nosso quarto. - Mãe, tenho tanta coisa para lhe contar, o Mate...mãe? Mãe? - Lhe chamo ao vê-la deitada no chão, com os olhos fechados. - Mãe!! Mãe, não, não, por favor...a senhora não pode estar fazendo isso comigo, não!! Eu não aceito, acorde!!! - Esbravejo lhe pegando em meus braços, sua respiração ainda existe mesmo fraca. - Elisa? Ei...O que aconteceu? - A voz de Mateus surge dentro de minha casa. - Ela...ela, chame uma ambulância, ah meu Deus!! Não!! Mamaezinha, por favor, não se vá!
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