DIEGO
Eu jamais imaginei que meu domingo seria dedicado a uma missão de resgate de um cachorro doido que eu não vou muito com a cara, mas aqui estou eu em meu jipe com Isobel no banco do carona e tudo porque
eu tenho uma boca enorme e não sei lidar com garotas chorando.
— Quer dizer então que seu ex-namorado só respeita outro homem?
— Praticamente isso.
Paro no semáforo da esquina de nosso prédio e olho para Isobel, querendo ver se não está brincando, mas ela está tão séria quanto antes.
— Por que ficou com um cara assim? -Ela morde o lábio e então me olha, as bochechas claras adquirindo uma coloração rosada que a deixa muito bonita.
— Acho que me acomodei no relacionamento. No começo eu era louca por ele, mas com o tempo o namoro se tornou parte da minha rotina e estava bom.
— Se estivesse tão bom, ele não teria te traído e sequestrado sua cachorra.- Isobel balança a cabeça e seus olhos adquirem aquele brilho
lacrimoso de quando está prestes a abrir o maior berreiro. Vou ter que criar um lembrete para mim mesmo de que essa vizinha maluca é bem sensível e que chora muito fácil e isso me deixa meio apto a fazer o que ela deseja, tipo essa missão de resgate maluca quando estou com a maior ressaca.
— Vai me dizendo o endereço.- Isobel faz o que eu peço e em menos de dez minutos estamos parados em frente a uma casa grande de dois andares e com grades de ferro
marrons.
— Preparada? — questiono desafivelando meu cinto.
— Não muito, mas preciso da minha filhinha. - Saltamos do carro e ela anda ao meu lado retorcendo as mãos. Sem hesitar, toco a campainha e uma mulher nos atende.
— Quero falar com o Guilherme— digo rapidamente.
— Quem deseja?
— Diego. Estou aqui com a Isobel e viemos buscar a cachorra ende... quer dizer,Dondoca.
— Graças a Deus. Não sei o que aquele tonto tinha na cabeça ao trazer aquele bicho para cá. - Isob parece revoltada ao meu lado, mas antes que ela possa dizer algo o portão é aberto e nós andamos através do caminho margeado de pedrinhas brancas.
— Os pais de Guilherme nunca gostaram muito de mim.
— Por quê?
— Não tenho dinheiro. -Penso em dizer algumas palavras de consolo, porém a porta de madeira é aberta e o ex-namorado t**o da Alicia aparece vestindo um pijama de aviõezinhos e ao lado de uma mulher mais velha que com certeza deve ser a mãe dele.
— Eu quero minha Dondoca — Isobel passa na minha frente e se dirige ao i*****l.
— Eu a comprei. Então o direito é meu.
— Eu não quero aquele bicho aqui — a mulher diz e coloca a mão na cintura, olhando para ele de forma ameaçadora.
— E eu já disse que a dudinha vai ficar com ela.
— Não ouse! — Isobel grita e se aproxima do ex-namorado, o segurando pela gola do pijama ridículo. — Eu aceito que tenha me botado um par de chifres, mas jamais irei te perdoar se não devolver a Dondoca.
— Você traiu a caipira, Guilherme? — A mulher questiona, olhando para o filho e colocando a mão na cintura.
— Fiquei com pena de terminar com ela, mamãe. Você sabe que me criou para ser um cavalheiro.
— Isso é verdade, querido. -A forma como os dois conversam e ignoram a Isobel me irrita
tanto que eu a puxo pela cintura e me aproximo do almofadinha filhinho da
mamãe que tem o disparate de parecer ofendido com minha presença.
— Você não é aquele vizinho chato que não gosta de barulho? — pergunta ao dar um passo para trás.
— Eu vou ser o cara que vai quebrar a sua cara se não devolver a Dondoca.
— Você vivia reclamando dos latidos. Estou te fazendo um favor, cara.
— Não quero favor algum de você, seu lixo. Quero apenas que devolva a Dondoca para a Isobel.
— Não quero violência na minha casa — a mãe de Guilherme se coloca entre nós. — Daqui a pouco a mãe do meu neto chega e não a quero em meio a baixaria.
— A senhora nunca me convidou para almoçar aqui nos domingos — Isobel diz baixinho, parecendo completamente deslocada e parada ao meu lado.
— Eduarda é de uma boa família — a megera retorqui. Isobel abaixa a cabeça e eu percebo a forma como Guilherme a olha, como se quisesse dizer alguma coisa, mas o deboche falasse mais alto.
— Sem falar que é bem mais bonita que você — a mulher prossegue e repete quase as mesmas palavras do filho. — Uma garota como você jamais ficaria bonita nas fotos de família, muito menos em um vestido
de noiva. -Respiro fundo, não querendo ser m*l-educado com uma pessoa que tem a idade da minha mãe, mas nem de longe a mesma educação que ela.
— Não acho certo que desrespeitem Isobel desta forma — digo e olho para Guilherme. — Você pode devolver a Dondoca?
— Pelo jeito achou outro t**o para ter pena de você — ele diz olhando para ela com desprezo. — Sempre parecendo um cachorrinho perdido na chuva. -Toda a paciência que eu estava tentando cultivar vai pelo espaço e eu puxo Guilherme, o empurrando para a parede e o segurando pela gola do pijama ridículo.
— Devolve a cachorrinha dela e para de falar m***a, ou então eu vou esquecer de que tenho educação e irei socar tua cara.
— Ah, pelo amor de Deus, aquela cachorra horrorosa está amarrada no quintal lá de trás. -A mãe do Guilherme indica o lugar e Isobel corre na direção apontada.
— Espero que você nunca mais se aproxime daquela garota — digo e empurro Guilherme, que cai na calçada de uma forma bem ridícula.
— Meu filho não precisa se aproximar mais daquela caipira. Agora tem uma mulher à altura dele e filha de um homem tão rico quanto nós.
— f**a-se vocês e todo o dinheiro. Fiquem longe da Isobel. -Os dois arregalam os olhos, mas eu pouco me importo e assim que Isobel aparece com a cachorrinha nos braços, eu a pego pelo cotovelo e a conduzo até o carro, fechando a porta assim que ela senta e dando a volta, lançando um último olhar de advertência para o paspalho filhinho da mamãe.
Surpreendo-me ao entrar no carro e ver Isobel abraçada com a cachorrinha de pelos caramelos e que parece que engoliu uma caixa de som. Pela primeira vez o bicho está em silêncio e se esfrega contra a bochecha da dona.
— Obrigada por ter me ajudado — ela diz e me olha com aqueles enormes olhos castanhos cheios de lágrimas. — Você é muito gentil. - Eu sei que não sou uma pessoa gentil e que na maior parte das vezes fico zangado com Isobel, mas agora, a vendo tão perdida, não consigo evitar o sentimento de p******o que surge em relação a essa garota.
O que eles disseram para ela ainda pouco foi de uma crueldade sem tamanho. Isobel não é f**a e pode não ser magra, mas isso é apenas um detalhe sobre ela que a torna ainda mais única. Quero que ela perceba o quão linda é e até já sei como.